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Muro de Israel na Cisjordânia deve
repetir fracasso de outros muros
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A construção, pelos israelenses, de um muro separando seu país
da Cisjordânia é um claro sinal de que soluções militares para o conflito com os palestinos são impraticáveis.
Como toda obra eminentemente defensiva, ele concede a iniciativa ao adversário.
O muro da Palestina é um monumento ao desespero que provavelmente entrará para a história como um fracasso semelhante a
outros muros famosos que tentavam impedir que os "bárbaros"
chegassem à "civilização".
É o caso do romano muro de
Adriano, da grande muralha da
China ou das cercas que separam
os EUA do México.
Para impedir que os bárbaros
germânicos chegassem ao Império Romano, foram construídos
muros fortificados em vários
pontos do perímetro.
O mais conhecido é o muro de
Adriano, de 117,6 km, que separava a bárbara Caledônia (atual Escócia) do resto da principal ilha
britânica. Já o chamado "Limes
Germanicus", na atual Alemanha,
era constituído por 280 km de
muros -muitos apenas de terra.
Nada disso impediu que os bárbaros fossem lentamente se infiltrando até acabarem com o império.
Muralha chinesa
A muralha chinesa, a maior
obra de fortificação da história
humana, com seu total de 2.600
km, foi sendo construída ao longo
dos séculos.
Impediu muitos ataques de inimigos como os mongóis e os
manchus, mas não impediu que
dinastias de povos "bárbaros" governassem Pequim por largos períodos.
Os franceses tentaram se proteger dos alemães no período entre
as guerras mundiais com um
complexo defensivo conhecido
como linha Maginot. Mas essa
"muralha" -um conjunto de
fortificações de concreto- não
cobria toda a fronteira. Em 1940,
os alemães invadiram a França
flanqueando a linha através da
floresta das Ardenas, na Bélgica.
As extensas cercas em estados
do sul dos EUA não impedem que
os imigrantes clandestinos continuem chegando. Apenas sofisticaram os métodos da imigração
ilegal.
Ironicamente, aquele que deve
ter sido o mais bem-sucedido dos
muros -pelo menos enquanto
existiu-, o Muro de Berlim, tinha uma função oposta: servia
para impedir a fuga da própria
população da antiga Alemanha
Oriental, não para coibir a entrada de outras pessoas nesse paraíso do dito "socialismo real".
O Muro de Berlim e o restante
da fronteira das duas Alemanhas,
toda ela cercada e minada, mesmo assim não conseguiram impedir algumas pessoas mais determinadas de fugirem.
Do mesmo modo, a cerca israelense poderá ser um obstáculo ao
movimento de populações, atrapalhando a vida dos palestinos
que trabalham em Israel. Mas dificilmente será um obstáculo sério a um terrorista decidido a cometer um atentado.
Por mais odioso que fosse, o
Muro de Berlim pelo menos congelou a tensão entre Leste e Oeste,
evitando a repetição de uma crise
-como o bloqueio da cidade pelos soviéticos em 1949- que poderia ter detonado a Terceira Guerra Mundial.
Já o muro israelense, e a sua falsa imagem de segurança, prometem na verdade acirrar a crise atual.
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