São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Muro de Israel na Cisjordânia deve repetir fracasso de outros muros

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A construção, pelos israelenses, de um muro separando seu país da Cisjordânia é um claro sinal de que soluções militares para o conflito com os palestinos são impraticáveis.
Como toda obra eminentemente defensiva, ele concede a iniciativa ao adversário.
O muro da Palestina é um monumento ao desespero que provavelmente entrará para a história como um fracasso semelhante a outros muros famosos que tentavam impedir que os "bárbaros" chegassem à "civilização".
É o caso do romano muro de Adriano, da grande muralha da China ou das cercas que separam os EUA do México.
Para impedir que os bárbaros germânicos chegassem ao Império Romano, foram construídos muros fortificados em vários pontos do perímetro.
O mais conhecido é o muro de Adriano, de 117,6 km, que separava a bárbara Caledônia (atual Escócia) do resto da principal ilha britânica. Já o chamado "Limes Germanicus", na atual Alemanha, era constituído por 280 km de muros -muitos apenas de terra.
Nada disso impediu que os bárbaros fossem lentamente se infiltrando até acabarem com o império.

Muralha chinesa
A muralha chinesa, a maior obra de fortificação da história humana, com seu total de 2.600 km, foi sendo construída ao longo dos séculos.
Impediu muitos ataques de inimigos como os mongóis e os manchus, mas não impediu que dinastias de povos "bárbaros" governassem Pequim por largos períodos.
Os franceses tentaram se proteger dos alemães no período entre as guerras mundiais com um complexo defensivo conhecido como linha Maginot. Mas essa "muralha" -um conjunto de fortificações de concreto- não cobria toda a fronteira. Em 1940, os alemães invadiram a França flanqueando a linha através da floresta das Ardenas, na Bélgica.
As extensas cercas em estados do sul dos EUA não impedem que os imigrantes clandestinos continuem chegando. Apenas sofisticaram os métodos da imigração ilegal.
Ironicamente, aquele que deve ter sido o mais bem-sucedido dos muros -pelo menos enquanto existiu-, o Muro de Berlim, tinha uma função oposta: servia para impedir a fuga da própria população da antiga Alemanha Oriental, não para coibir a entrada de outras pessoas nesse paraíso do dito "socialismo real".
O Muro de Berlim e o restante da fronteira das duas Alemanhas, toda ela cercada e minada, mesmo assim não conseguiram impedir algumas pessoas mais determinadas de fugirem.
Do mesmo modo, a cerca israelense poderá ser um obstáculo ao movimento de populações, atrapalhando a vida dos palestinos que trabalham em Israel. Mas dificilmente será um obstáculo sério a um terrorista decidido a cometer um atentado.
Por mais odioso que fosse, o Muro de Berlim pelo menos congelou a tensão entre Leste e Oeste, evitando a repetição de uma crise -como o bloqueio da cidade pelos soviéticos em 1949- que poderia ter detonado a Terceira Guerra Mundial.
Já o muro israelense, e a sua falsa imagem de segurança, prometem na verdade acirrar a crise atual.



Texto Anterior: Arafat agora diz que aceita plano de paz de Clinton
Próximo Texto: Maioria dos israelenses apóia cerca
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.