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ORIENTE MÉDIO
Grupo arregimenta amplo apoio na diversificada população do Líbano, apesar das acusações de terrorismo
Hizbollah alia extremismo e ação social
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
O Líbano é um oásis de liberdade num deserto de proibições. O
mesmo país que acolhe o grupo
extremista islâmico Hizbollah é o
único da região que vende a revista "Playboy" nas bancas.
Em menos de dez minutos de
carro, vai-se de um bairro repleto
de imagens da Virgem Maria a
um outro com o rosto onipresente do aiatolá Khomeini, líder da
Revolução Islâmica iraniana.
O Líbano também faz inveja ao
Brasil como um país que tem feriados oficiais para mais de quatro religiões diferentes. No centro
de Beirute, os bares se enchem de
clientes de religiões diversas, com
mulheres de "hijab" fumando
narguilé ao lado de homossexuais
mostrando o umbigo com piercing antes de irem para as raves.
Às sextas, são todos vítimas da
competição sonora entre o sino
estridente da igreja e o chamado
para a oração do muezim na mesquita, algo certamente não previsto por são Pedro ou Muhammad.
Em sua visita em 1997, o papa
João Paulo 2º disse que "o Líbano
é mais que um país, é uma mensagem". A mensagem, contudo, não
é a mesma para todos. Mesmo
evitando tocar no assunto, o Hizbollah não nega que almeja viver
numa República islâmica.
Se as religiões não se distinguem
na praia, nas danceterias e nas
universidades, na política a distinção fica clara. O Líbano é um
país em que o presidente é sempre
um cristão maronita, o líder do
Congresso é muçulmano xiita, o
premiê é muçulmano sunita, e o
vice-líder do Parlamento é cristão-ortodoxo. O Parlamento também tem quotas religiosas.
O problema é que a divisão foi
feita baseada num censo de 1932,
quando os maronitas eram a
maioria. Uma das razões da guerra civil (1975-90) foi que os muçulmanos não concordavam em
ter menos cadeiras no Parlamento, pois acreditavam ser maioria.
O balanço do país é mantido
com o acordo tácito de que a democracia não será exercida pelo
voto da maioria, mas pelas minorias representando suas maiorias
internas. O equilíbrio externo
também não está escrito em nenhuma Constituição, mas foi cimentado em um discurso que virou norma: o Líbano é uma entidade independente e não pode se
associar nem com o Ocidente
nem com o Oriente. A regra que
inspirou a frase "uma dupla negação não faz uma nação" é mais
um peso na complicada balança
que mantém o Líbano em pé.
O outro peso, mais evidente,
ainda que menos oficializado, é
que todos os partidos são inimigos de Israel. É assim que o Hizbollah passou a ser mais que o
"Partido de Deus". Ele virou o
partido do Líbano, congregando
apoios mais diversos que qualquer outro grupo político.
O Hizbollah surgiu em 1982
com o intuito de defender o Líbano da invasão israelense. O grupo
é acusado pelos EUA de ter inventado o homem-bomba e de ter
matado mais americanos do que
qualquer outro grupo terrorista
além da Al Qaeda, responsável
pelos atentados terroristas de 11
de setembro de 2001.
Para o Departamento de Estado
americano, o Hizbollah é suspeito
de envolvimento nos ataques suicidas contra a embaixada americana em Beirute e o alojamento
dos fuzileiros navais em 1983, que
matou 241 americanos.
O Hizbollah também é acusado
de ter sequestrado dezenas de estrangeiros no Líbano, vários mantidos em cativeiro por até cinco
anos. O grupo nega as acusações.
Apesar (ou por causa) de tudo
isso, Hassan Nasrallah é depositário de mais respeito do que praticamente todos os outros políticos.
Com aquela aura que só os chefes
militares podem ter acima das picuinhas políticas e da corrupção,
o Hizbollah atua também na frente social, administrando hospitais
gratuitos, escolas e fundações tidos como mais competentes do
que os oferecidos pelo governo.
(PAULA SCHMITT)
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