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Entrevista só ocorreu após duas reuniões
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BEIRUTE
Antes de me encontrar com o
xeque Hassan Nasrallah, fui entrevistada por dois oficiais do Escritório de Informação Central do
Hizbollah, em Beirute.
Meu passaporte, fotocopiado,
foi devolvido por um recepcionista que me ofereceu um "cafezinho", em um português com sotaque paranaense. Sem apertar
minha mão, como é o costume
entre os muçulmanos mais estritos, ele colocou a mão sobre o peito, fez uma reverência e disse que
amava o Brasil e os brasileiros.
Na primeira entrevista, com o
oficial de comunicação Haidar
Dikmak, fui vestida como me haviam recomendado amigos e jornalistas: sobriamente, de preto.
Na segunda vez, fui de camisa
branca mesmo, aberta nos dois
primeiros botões, e calça jeans.
Fui surpreendida por Dikmak:
"Você fica muito melhor de branco, realça o seu rosto".
No dia da entrevista com Nasrallah, cheguei com uma hora de
antecedência, conforme pedido, e
tive tempo de conversar com Dikmak e Hassan Ezzieddine, o chefe
de comunicação. Simpáticos, mas
muito distintos e respeitosos, perguntaram se havia alguma pergunta que eu quisesse fazer antes
de ver o xeque.
Respondi que sim e levantei a
questão do aperto de mão. "Você
sabe por quê [não apertamos sua
mão]?", perguntou Ezzieddine.
Arrisquei: "Por que eu sangro?"
Todos riram. "Não, porque só
apertamos as mãos de nossas
mãe, mulher, irmãs e filhas. É por
respeito, não por repulsa."
"Taí uma vantagem", eu disse.
"Pelo menos a mulher fica segura
de que o marido não vai sair por aí
apertando mãos." "Você ainda
vai acabar se convertendo", eles
completaram.
Em seguida, fui levada de carro
a outro prédio, onde tive de tirar
todos os anéis, deixar a bolsa na
entrada e levar apenas um gravador para a sala de entrevista, que
foi feita com a presença de dois seguranças gigantescos e três funcionários do partido.
(PS)
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