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TRANSPORTE
Governo reconhece aumento do peso dos passageiros e manda companhias refazerem cálculos antes da decolagem
Questão da obesidade afeta aviação dos EUA
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Sempre que pode, Frances White muda o horário de seus vôos de
forma a pegar aviões mais vazios.
"É para aumentar a chance de ter
uma cadeira livre do meu lado.
Pelo mesmo motivo, eu peço para
sentar no fundo. Quando viajo
com um amigo grande, compramos três cadeiras para dividirmos
entre nós dois."
Funcionária de uma emissora
pública de TV na Califórnia, ela
tem 60 anos, 1,69 m e 157 quilos.
"Alguma coisa deveria ser feita
em relação ao tamanho dos assentos dos aviões", afirma White,
diretora da NAAFA, associação
de defesa dos direitos civis de pessoas obesas.
Reclamações assim tendem a ficar mais numerosas entre uma
população de obesidade crescente, fazendo dos aviões -talvez o
lugar público com maior restrição
de espaço- um ótimo termômetro do problema.
O governo americano acaba de
reconhecer que o peso médio dos
passageiros aumenta rapidamente. As companhias têm dois meses
para mudar as médias utilizadas
nos cálculos feitos antes da decolagem: foram elevados os índices
estimados por pessoa que vigoravam desde 1995.
O passageiro americano médio
terá 86,2 kg no verão e 88,5 kg no
inverno, um aumento de 4,5 kg
em relação às médias anteriores.
As contas da FAA, a agência do
governo que regulamenta o setor
aéreo, também fizeram subir em
2,3 kg o peso médio das malas,
que será agora de 13,6 kg.
A nova lei entra em vigor por razões de segurança. Investigações
que ainda não foram encerradas
sobre a queda de um pequeno
avião no início do ano indicam
que o acidente pode ter ocorrido
por erro de avaliação de seu peso.
Nenhuma companhia aérea reclamou oficialmente da nova regra, sobretudo porque ela envolve
questões de segurança.
Mas também nenhuma anunciou planos de aumentar o tamanho médio das cadeiras de seus
aviões por causa da nova realidade, agora oficializada.
"Seria razoável esperar a mudança", diz Jacqueline Viteri, porta-voz da American Obesity Association. Mas, diz ela, não há no
momento nenhuma discussão sobre o assunto com as empresas.
Músculo x gordura
Conforto dos passageiros é assunto que está no rol de decisões
das companhias do setor -o foco
das regulamentações do governo
está na segurança dos vôos.
A associação das empresas aéreas dos EUA, porém, diz que não
tem nada com isso. "O tamanho
das cadeira é a uma decisão feita
por cada companhia", afirma
Diana Cronan, da ATA (Air
Transport Association).
No ano passado, uma empresa
americana, a Southwest, ficou famosa por anunciar que iria fazer
valer uma lei antiga: se o passageiro não couber em sua poltrona,
tem de pagar uma taxa extra pelo
segundo assento caso o vôo esteja
cheio. A norma segue em vigor, e
a companhia não informa quantas pessoas tiveram de abrir a carteira no balcão.
Mas confirma que não tem nenhum plano de aumentar suas
poltronas, mesmo após a nova regulamentação de segurança do
governo americano.
"Não é uma questão que consideramos. Nossas cadeiras estão
na média da indústria. Isso funcionou para nós durante muitos
anos", afirma Melanie Jones, relações-públicas da empresa. O assento da Southwest tem, em média, 43,82 cm, medidos entre cada
braço. "Posso lhe contar que o da
American Airlines tem 17 polegadas [43,18 cm]", diz ela.
Jones aponta a questão de fundo nas discussões sobre o tamanho das cadeiras: aumentar sua
largura significa ter passagens
mais caras. "Queremos ser justos
tanto com os passageiros que precisam de mais de uma poltrona
quanto com os passageiros que
não precisam", afirma.
Mesmo a nova regulamentação
sobre as médias por passageiro já
deverá ter impacto sobre as companhias, que poderão ser obrigadas a voar com algumas cadeiras
vazias. "Em muitos casos, um ou
dois consumidores pagantes é a
diferença entre um vôo lucrativo e
um não-lucrativo", diz Todd Curtis, especialista em aviação da entidade AirSafe.
É possível que haja outras alterações a caminho: as companhias
poderão limitar ainda mais a bagagem de mão. Ou ainda pesar os
passageiros para evitar o uso de
estimativas que algumas, em voz
baixa, consideram exageradas.
Isso é apoiado pela NAAFA.
"Poderia ser feito discretamente,
com uma balança colocada atrás
do balcão", diz White. Ela aponta
que a medida poderia mostrar
que não só os "gordinhos" são
problema nas contas dos aviões.
"Como músculo pesa mais que
gordura, os levantadores de peso,
que parecem esbeltos, podem pesar mais que se costuma imaginar", afirma a ativista.
Ela tem outras propostas. Uma
seria criar filas especiais de cadeiras maiores, com dois assentos no
espaço que seria de três. Outra é
fazer rodízio de passageiros. "Alguns aparelhos novos nos aviões
fazem a pesagem da cabine. O piloto de avião em que estava uma
vez pediu para diversas pessoas
mudarem de lugar. Foi feito tão
discretamente que ninguém sentiu que estava sendo mudado por
causa de seu peso", diz.
Enquanto isso, pessoas que se
sentem à vontade reclamam que
eventuais soluções para o problema serão cobradas de seus bolsos,
o que consideram injustiça. Como metade dos americanos está
acima do peso ideal, o debate promete ser equilibrado.
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