UOL


São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSPORTE

Governo reconhece aumento do peso dos passageiros e manda companhias refazerem cálculos antes da decolagem

Questão da obesidade afeta aviação dos EUA

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Sempre que pode, Frances White muda o horário de seus vôos de forma a pegar aviões mais vazios. "É para aumentar a chance de ter uma cadeira livre do meu lado. Pelo mesmo motivo, eu peço para sentar no fundo. Quando viajo com um amigo grande, compramos três cadeiras para dividirmos entre nós dois."
Funcionária de uma emissora pública de TV na Califórnia, ela tem 60 anos, 1,69 m e 157 quilos. "Alguma coisa deveria ser feita em relação ao tamanho dos assentos dos aviões", afirma White, diretora da NAAFA, associação de defesa dos direitos civis de pessoas obesas.
Reclamações assim tendem a ficar mais numerosas entre uma população de obesidade crescente, fazendo dos aviões -talvez o lugar público com maior restrição de espaço- um ótimo termômetro do problema.
O governo americano acaba de reconhecer que o peso médio dos passageiros aumenta rapidamente. As companhias têm dois meses para mudar as médias utilizadas nos cálculos feitos antes da decolagem: foram elevados os índices estimados por pessoa que vigoravam desde 1995.
O passageiro americano médio terá 86,2 kg no verão e 88,5 kg no inverno, um aumento de 4,5 kg em relação às médias anteriores. As contas da FAA, a agência do governo que regulamenta o setor aéreo, também fizeram subir em 2,3 kg o peso médio das malas, que será agora de 13,6 kg.
A nova lei entra em vigor por razões de segurança. Investigações que ainda não foram encerradas sobre a queda de um pequeno avião no início do ano indicam que o acidente pode ter ocorrido por erro de avaliação de seu peso.
Nenhuma companhia aérea reclamou oficialmente da nova regra, sobretudo porque ela envolve questões de segurança.
Mas também nenhuma anunciou planos de aumentar o tamanho médio das cadeiras de seus aviões por causa da nova realidade, agora oficializada.
"Seria razoável esperar a mudança", diz Jacqueline Viteri, porta-voz da American Obesity Association. Mas, diz ela, não há no momento nenhuma discussão sobre o assunto com as empresas.

Músculo x gordura
Conforto dos passageiros é assunto que está no rol de decisões das companhias do setor -o foco das regulamentações do governo está na segurança dos vôos.
A associação das empresas aéreas dos EUA, porém, diz que não tem nada com isso. "O tamanho das cadeira é a uma decisão feita por cada companhia", afirma Diana Cronan, da ATA (Air Transport Association).
No ano passado, uma empresa americana, a Southwest, ficou famosa por anunciar que iria fazer valer uma lei antiga: se o passageiro não couber em sua poltrona, tem de pagar uma taxa extra pelo segundo assento caso o vôo esteja cheio. A norma segue em vigor, e a companhia não informa quantas pessoas tiveram de abrir a carteira no balcão.
Mas confirma que não tem nenhum plano de aumentar suas poltronas, mesmo após a nova regulamentação de segurança do governo americano.
"Não é uma questão que consideramos. Nossas cadeiras estão na média da indústria. Isso funcionou para nós durante muitos anos", afirma Melanie Jones, relações-públicas da empresa. O assento da Southwest tem, em média, 43,82 cm, medidos entre cada braço. "Posso lhe contar que o da American Airlines tem 17 polegadas [43,18 cm]", diz ela.
Jones aponta a questão de fundo nas discussões sobre o tamanho das cadeiras: aumentar sua largura significa ter passagens mais caras. "Queremos ser justos tanto com os passageiros que precisam de mais de uma poltrona quanto com os passageiros que não precisam", afirma.
Mesmo a nova regulamentação sobre as médias por passageiro já deverá ter impacto sobre as companhias, que poderão ser obrigadas a voar com algumas cadeiras vazias. "Em muitos casos, um ou dois consumidores pagantes é a diferença entre um vôo lucrativo e um não-lucrativo", diz Todd Curtis, especialista em aviação da entidade AirSafe.
É possível que haja outras alterações a caminho: as companhias poderão limitar ainda mais a bagagem de mão. Ou ainda pesar os passageiros para evitar o uso de estimativas que algumas, em voz baixa, consideram exageradas.
Isso é apoiado pela NAAFA. "Poderia ser feito discretamente, com uma balança colocada atrás do balcão", diz White. Ela aponta que a medida poderia mostrar que não só os "gordinhos" são problema nas contas dos aviões. "Como músculo pesa mais que gordura, os levantadores de peso, que parecem esbeltos, podem pesar mais que se costuma imaginar", afirma a ativista.
Ela tem outras propostas. Uma seria criar filas especiais de cadeiras maiores, com dois assentos no espaço que seria de três. Outra é fazer rodízio de passageiros. "Alguns aparelhos novos nos aviões fazem a pesagem da cabine. O piloto de avião em que estava uma vez pediu para diversas pessoas mudarem de lugar. Foi feito tão discretamente que ninguém sentiu que estava sendo mudado por causa de seu peso", diz.
Enquanto isso, pessoas que se sentem à vontade reclamam que eventuais soluções para o problema serão cobradas de seus bolsos, o que consideram injustiça. Como metade dos americanos está acima do peso ideal, o debate promete ser equilibrado.


Texto Anterior: Reforma das Forças Armadas investe em velocidade
Próximo Texto: Panorâmica: Saúde: Hong Kong deve ser declarada livre da Sars
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.