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Reforma das Forças Armadas investe em velocidade
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O processo de reforma das Forças Armadas dos Estados Unidos
tem como objetivo tornar mais
rápidas e eficazes as intervenções
militares americanas em qualquer parte do mundo. A idéia é invadir em dias em vez de semanas,
ou em horas em vez de dias, e aniquilar o inimigo antes que este
-ou a comunidade diplomática- tenha como reagir, militar
ou politicamente.
A palavra-chave agora é "transformacional". Equipamentos,
técnicas e táticas precisam ser
"transformacionais", isto é, pertencer ao novo modelo de força
armada centrada em redes de informação ("network-centric").
O Departamento da Defesa dos
EUA produz jargão de modo exponencial. Muitos termos são pura novilíngua orwelliana, como
usada no romance "1984", do inglês George Orwell, no qual um
governo totalitário distorce o significado das palavras para afetar a
realidade.
"Invasão", por exemplo, virou
"entrada forçada". O eufemismo
"dano colateral" -morte de civis
pegos no fogo cruzado- foi bem
popularizado durante o conflito
no Iraque.
O secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, é o principal
artífice dessa revolução, embora
muitos conceitos e planos já existam há mais tempo.
Marinha, Força Aérea e fuzileiros navais (marines) têm menos
dificuldade de se adaptar aos novos tempos, pois são forças inerentemente móveis e ágeis.
A rede de informação distribuiria para todas as forças "amigas"
dados sobre o inimigo, possibilitando aos comandantes decidir
rapidamente onde, com qual força e quando atacar.
Por exemplo, na guerra iraquiana aviões de combate circulavam
sobre o campo de batalha e respondiam a "pedidos de fogo" das
tropas em terra. Coordenadas
geográficas eram repassadas dos
controladores de tiro aos pilotos e
às bombas guiadas por satélite,
criando um ataque em tempo
real.
Está no Exército a maior resistência às transformações. A Guerra do Golfo de 1991 mostrou defeitos e qualidades das principais
unidades do Exército, suas divisões "leves" e "pesadas".
Uma divisão é uma unidade capaz de atuação independente,
pois reúne diversos tipos de armas e serviços. Há unidades "leves" capazes de chegar rapidamente ao campo de batalha, mas
que podem ser destruídas por um
inimigo dotado de maior poder
de fogo. É o caso das divisões aerotransportadas, como a 82ª e a
101ª.
Elas chegaram antes ao Kuait
em 1990, mas seus integrantes
brincavam que elas eram meras
"lombadas" de estradas, redutores de velocidade capazes de atrasar o avanço inimigo, que passaria por cima delas.
Já as unidades pesadas, como as
divisões blindadas, demoram semanas para chegar, mas têm muito maior poder de fogo.
Um estudo feito para a Força
Aérea dos EUA pela Rand Corporation, uma ONG de estudos estratégicos, afirma que o país "não
tem a capacidade de deslocar
grandes forças conjuntas globalmente a partir da América do
Norte em questão de dias ou semanas -o desafio de transporte
é simplesmente grande demais".
Historicamente, lembra o estudo, os EUA dependeram para intervenções em maior escala de
equipamento e forças já pré-posicionadas em regiões vitais do globo. Para crises repentinas, unidades leves como as divisões aerotransportadas e as de marines foram empregadas em curto prazo,
dependendo de reforço posterior
de forças pesadas do Exército em
certos casos.
Etapas
Os esforços "transformacionais" do Exército estão previstos
para acontecer em fases. Uma força interina chamada Brigada
Stryker está sendo equipada quase totalmente com veículos blindados de oito rodas e peso de, no
máximo, 20 toneladas. Esse peso
permite o transporte por aviões
de carga como o onipresente Hercules C-130.
A Brigada Stryker -o nome do
veículo homenageia dois soldados com esse sobrenome, um da
Segunda Guerra Mundial, outro
da Guerra do Vietnã-, em termos de poder de fogo e "peso" de
transporte, fica a exato meio caminho entre uma atual brigada leve e uma pesada (uma divisão pode ser integrada por duas a cinco
brigadas).
Dentro de 20 anos a Brigada
Stryker começará a se substituída
pela chamada Força Objetiva,
equipada com o Sistema de Combate Futuro (um tanque médio,
mais leve que o atual Abrams de
60 toneladas, mas que seria tão letal e bem protegido graças a novas
tecnologias).
Em 91, o Exército americano tinha 18 divisões ativas; hoje tem
dez, e Rumsfeld estuda cortar o
número para apenas oito.
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