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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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Reforma das Forças Armadas investe em velocidade

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O processo de reforma das Forças Armadas dos Estados Unidos tem como objetivo tornar mais rápidas e eficazes as intervenções militares americanas em qualquer parte do mundo. A idéia é invadir em dias em vez de semanas, ou em horas em vez de dias, e aniquilar o inimigo antes que este -ou a comunidade diplomática- tenha como reagir, militar ou politicamente.
A palavra-chave agora é "transformacional". Equipamentos, técnicas e táticas precisam ser "transformacionais", isto é, pertencer ao novo modelo de força armada centrada em redes de informação ("network-centric").
O Departamento da Defesa dos EUA produz jargão de modo exponencial. Muitos termos são pura novilíngua orwelliana, como usada no romance "1984", do inglês George Orwell, no qual um governo totalitário distorce o significado das palavras para afetar a realidade.
"Invasão", por exemplo, virou "entrada forçada". O eufemismo "dano colateral" -morte de civis pegos no fogo cruzado- foi bem popularizado durante o conflito no Iraque.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, é o principal artífice dessa revolução, embora muitos conceitos e planos já existam há mais tempo.
Marinha, Força Aérea e fuzileiros navais (marines) têm menos dificuldade de se adaptar aos novos tempos, pois são forças inerentemente móveis e ágeis.
A rede de informação distribuiria para todas as forças "amigas" dados sobre o inimigo, possibilitando aos comandantes decidir rapidamente onde, com qual força e quando atacar.
Por exemplo, na guerra iraquiana aviões de combate circulavam sobre o campo de batalha e respondiam a "pedidos de fogo" das tropas em terra. Coordenadas geográficas eram repassadas dos controladores de tiro aos pilotos e às bombas guiadas por satélite, criando um ataque em tempo real.
Está no Exército a maior resistência às transformações. A Guerra do Golfo de 1991 mostrou defeitos e qualidades das principais unidades do Exército, suas divisões "leves" e "pesadas".
Uma divisão é uma unidade capaz de atuação independente, pois reúne diversos tipos de armas e serviços. Há unidades "leves" capazes de chegar rapidamente ao campo de batalha, mas que podem ser destruídas por um inimigo dotado de maior poder de fogo. É o caso das divisões aerotransportadas, como a 82ª e a 101ª.
Elas chegaram antes ao Kuait em 1990, mas seus integrantes brincavam que elas eram meras "lombadas" de estradas, redutores de velocidade capazes de atrasar o avanço inimigo, que passaria por cima delas.
Já as unidades pesadas, como as divisões blindadas, demoram semanas para chegar, mas têm muito maior poder de fogo.
Um estudo feito para a Força Aérea dos EUA pela Rand Corporation, uma ONG de estudos estratégicos, afirma que o país "não tem a capacidade de deslocar grandes forças conjuntas globalmente a partir da América do Norte em questão de dias ou semanas -o desafio de transporte é simplesmente grande demais".
Historicamente, lembra o estudo, os EUA dependeram para intervenções em maior escala de equipamento e forças já pré-posicionadas em regiões vitais do globo. Para crises repentinas, unidades leves como as divisões aerotransportadas e as de marines foram empregadas em curto prazo, dependendo de reforço posterior de forças pesadas do Exército em certos casos.

Etapas
Os esforços "transformacionais" do Exército estão previstos para acontecer em fases. Uma força interina chamada Brigada Stryker está sendo equipada quase totalmente com veículos blindados de oito rodas e peso de, no máximo, 20 toneladas. Esse peso permite o transporte por aviões de carga como o onipresente Hercules C-130.
A Brigada Stryker -o nome do veículo homenageia dois soldados com esse sobrenome, um da Segunda Guerra Mundial, outro da Guerra do Vietnã-, em termos de poder de fogo e "peso" de transporte, fica a exato meio caminho entre uma atual brigada leve e uma pesada (uma divisão pode ser integrada por duas a cinco brigadas).
Dentro de 20 anos a Brigada Stryker começará a se substituída pela chamada Força Objetiva, equipada com o Sistema de Combate Futuro (um tanque médio, mais leve que o atual Abrams de 60 toneladas, mas que seria tão letal e bem protegido graças a novas tecnologias).
Em 91, o Exército americano tinha 18 divisões ativas; hoje tem dez, e Rumsfeld estuda cortar o número para apenas oito.


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