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ORIENTE MÉDIO
Georges Hawi foi vítima de explosivos colocados sob seu carro em Beirute; EUA pedem investigação "aprofundada"
Bomba mata outro líder anti-Síria no Líbano
DA REDAÇÃO
Georges Hawi, 65, ex-secretário-geral do Partido Comunista
Libanês e um dos mais fortes opositores às ingerências da Síria em
seu país, foi morto ontem em Beirute por uma bomba colocada
dentro de seu automóvel.
O atentado ocorreu dois dias
depois da última etapa das eleições legislativas libanesas, que
permitiram a formação de um
bloco majoritário anti-Síria na
Assembléia de 128 cadeiras.
Formalmente, o regime de Damasco retirou do Líbano seus últimos militares e agentes de inteligência em 26 de abril. Mas os opositores acusam o governo do ditador sírio Bashar al Assad de preservar forte e discreta presença.
Primeira suspeita pelo atentado
de ontem, a Síria negou envolvimento e condenou o assassinato.
"Com a explosão, o motorista
[que ficou ferido] pulou pela janela, nos aproximamos e vimos Hawi já moribundo, o ventre aberto
e os intestinos à mostra", disse
Rami Abu Dargham, dono de lanchonete próxima.
A bomba de 400 quilos foi colocada debaixo do banco de passageiro do Mercedes e detonada às
10h locais, por controle remoto.
O dirigente comunista, que pertencia à comunidade dos cristãos
ortodoxos, tinha ontem pela manhã reunião marcada com Elias
Atallah, eleito deputado por um
distrito do norte do país.
Walid Fakhreddine, da coalizão
Esquerda Democrática, disse ter-se encontrado com Hawi na semana passada, quando ouviu dele
que "nos matarão a todos se não
fizermos algo", mencionando em
seguida os agentes da Síria.
O genro de Hawi, Rafi Madoyan, disse que a Síria "continua a
matar democratas porque quer
matar a democracia no Líbano".
O presidente libanês, o pró-Síria
Emile Lahoud, denunciou o atentado e prometeu investigá-lo. Seu
governo pediu ajuda aos Estados
Unidos na investigação. Ontem à
noite uma equipe do FBI estava a
caminho de Beirute.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, acusou a
Síria de prosseguir na desestabilização do pequeno vizinho. "Há
nesse contexto uma atmosfera de
instabilidade. As atividades sírias
são parte desse contexto e dessa
atmosfera, e elas devem cessar",
disse Rice, em Bruxelas.
A Casa Branca também se manifestou. Seu porta-voz, Scott
McClellan, condenou "energicamente" o assassinato e pediu
"uma investigação aprofundada
para deter os assassinos e submetê-los à Justiça".
Normalmente silenciosos ou
discretos em atentados contra dirigentes comunistas, os EUA desta vez se manifestaram porque se
tratava de um líder da oposição ao
intervencionismo da Síria.
Em Nova York, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, declarou-se "horrorizado"
com o crime e homenageou a vítima, que "se posicionou em favor
dos libaneses, em sua determinação para construir um país pacífico, independente e soberano".
Ontem à noite, em Beirute, cerca de 3.000 pessoas participaram
de uma vigília de luto. Carregavam velas acesas e fotografias do
dirigente assassinado.
Nascido na aldeia de Btghrine,
na região de Metn, a leste da capital, Georges Hawi [seu nome também é grafado como Haoui] era
um personagem importante da
esquerda libanesa. Dirigiu o PCL
entre 1976 e 1992.
Seu partido era isoladamente
inexpressivo e passou longos períodos na clandestinidade. Surgiu
como formação conjunta para o
Líbano e a Síria, ganhando autonomia em 1944. Perdeu força nos
anos 50, ao apoiar, mesmo na ilegalidade, o pan-arabismo importado do Egito e na época bastante
popular no Oriente Médio.
Aliou-se à frente das esquerdas,
liderada pelo socialista Kamal
Jumblatt. Voltou à legalidade em
1970 e participou com milícia própria na guerra civil (1975-1990).
Hawi já foi próximo da Síria. Foi
com o apoio de Damasco que se
manteve na direção do partido,
quando Karim Murrawwah, muçulmano xiita, tentou substituí-lo
durante o 5º Congresso, em 1987.
Com agências internacionais
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