São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Georges Hawi foi vítima de explosivos colocados sob seu carro em Beirute; EUA pedem investigação "aprofundada"

Bomba mata outro líder anti-Síria no Líbano

DA REDAÇÃO

Georges Hawi, 65, ex-secretário-geral do Partido Comunista Libanês e um dos mais fortes opositores às ingerências da Síria em seu país, foi morto ontem em Beirute por uma bomba colocada dentro de seu automóvel.
O atentado ocorreu dois dias depois da última etapa das eleições legislativas libanesas, que permitiram a formação de um bloco majoritário anti-Síria na Assembléia de 128 cadeiras.
Formalmente, o regime de Damasco retirou do Líbano seus últimos militares e agentes de inteligência em 26 de abril. Mas os opositores acusam o governo do ditador sírio Bashar al Assad de preservar forte e discreta presença.
Primeira suspeita pelo atentado de ontem, a Síria negou envolvimento e condenou o assassinato.
"Com a explosão, o motorista [que ficou ferido] pulou pela janela, nos aproximamos e vimos Hawi já moribundo, o ventre aberto e os intestinos à mostra", disse Rami Abu Dargham, dono de lanchonete próxima.
A bomba de 400 quilos foi colocada debaixo do banco de passageiro do Mercedes e detonada às 10h locais, por controle remoto.
O dirigente comunista, que pertencia à comunidade dos cristãos ortodoxos, tinha ontem pela manhã reunião marcada com Elias Atallah, eleito deputado por um distrito do norte do país.
Walid Fakhreddine, da coalizão Esquerda Democrática, disse ter-se encontrado com Hawi na semana passada, quando ouviu dele que "nos matarão a todos se não fizermos algo", mencionando em seguida os agentes da Síria.
O genro de Hawi, Rafi Madoyan, disse que a Síria "continua a matar democratas porque quer matar a democracia no Líbano".
O presidente libanês, o pró-Síria Emile Lahoud, denunciou o atentado e prometeu investigá-lo. Seu governo pediu ajuda aos Estados Unidos na investigação. Ontem à noite uma equipe do FBI estava a caminho de Beirute.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, acusou a Síria de prosseguir na desestabilização do pequeno vizinho. "Há nesse contexto uma atmosfera de instabilidade. As atividades sírias são parte desse contexto e dessa atmosfera, e elas devem cessar", disse Rice, em Bruxelas.
A Casa Branca também se manifestou. Seu porta-voz, Scott McClellan, condenou "energicamente" o assassinato e pediu "uma investigação aprofundada para deter os assassinos e submetê-los à Justiça".
Normalmente silenciosos ou discretos em atentados contra dirigentes comunistas, os EUA desta vez se manifestaram porque se tratava de um líder da oposição ao intervencionismo da Síria.
Em Nova York, o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, declarou-se "horrorizado" com o crime e homenageou a vítima, que "se posicionou em favor dos libaneses, em sua determinação para construir um país pacífico, independente e soberano".
Ontem à noite, em Beirute, cerca de 3.000 pessoas participaram de uma vigília de luto. Carregavam velas acesas e fotografias do dirigente assassinado.
Nascido na aldeia de Btghrine, na região de Metn, a leste da capital, Georges Hawi [seu nome também é grafado como Haoui] era um personagem importante da esquerda libanesa. Dirigiu o PCL entre 1976 e 1992.
Seu partido era isoladamente inexpressivo e passou longos períodos na clandestinidade. Surgiu como formação conjunta para o Líbano e a Síria, ganhando autonomia em 1944. Perdeu força nos anos 50, ao apoiar, mesmo na ilegalidade, o pan-arabismo importado do Egito e na época bastante popular no Oriente Médio.
Aliou-se à frente das esquerdas, liderada pelo socialista Kamal Jumblatt. Voltou à legalidade em 1970 e participou com milícia própria na guerra civil (1975-1990).
Hawi já foi próximo da Síria. Foi com o apoio de Damasco que se manteve na direção do partido, quando Karim Murrawwah, muçulmano xiita, tentou substituí-lo durante o 5º Congresso, em 1987.


Com agências internacionais

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