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Mortes no Iraque ameaçam Bush, diz ex-membro do governo Clinton
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A aprovação do presidente
George W. Bush vai se deteriorar
ainda mais se o número de soldados americanos mortos em ataques no Iraque continuar crescendo. Para James Lindsay, ex-diretor do Conselho de Segurança
Nacional no governo Bill Clinton
(1993-2001) o público americano
tende a ser "pragmático".
"Ele está pouco interessado no
"papel teológico" que os EUA devem ter no mundo. Se a opinião
pública chegar à conclusão de que
o Iraque foi um erro, Bush começará a ser desafiado", diz.
Para Lindsay, o caso do cientista
britânico David Kelly, no Reino
Unido, não terá repercussões nos
EUA. "Os americanos não vão se
incomodar com o fato de um
cientista inglês ter se matado."
Leia entrevista que ele concedeu
ontem à Folha, em Washington.
Folha - Mais da metade dos americanos já têm dúvidas sobre a capacidade de Bush governar. Se a situação no Iraque não melhorar, onde isso pode parar?
James Lindsay - Há um desconforto crescente sobre o número de
soldados mortos no Iraque, o que
pode levar a um sentimento de
que Bush nos levou a uma situação de descontrole. O público
americano tende a ser muito
pragmático. Está muito menos interessado no "papel teológico" que
os EUA devem ter no mundo ou
sobre discussões técnicas sobre
quem disse o quê a respeito de relatórios do serviço de inteligência.
O público vai continuar se perguntando: "Isso parece estar ficando melhor ou pior?" Se chegar à
conclusão de que está ficando
pior, essa administração entrará
em grandes apuros. Se acreditar
que o Iraque foi um erro, haverá
abertura para que alguns democratas, temerosos de serem acusados de antipatriotas, ataquem.
Folha - Apesar dos reveses no Iraque, os democratas ainda parecem
perdidos, não?
Lindsay - Os democratas têm um
problema. Não têm nenhuma credibilidade em assuntos de segurança nacional. E um número
considerável [entre os nove] pré-candidatos do partido votou a favor da guerra. E o fizeram antes
mesmo de saber sob quais condições essa guerra seria encaminhada. Se eles levantarem agora e disserem "Oh, o presidente nos enganou", estarão vulneráveis. Afinal,
votaram pela guerra sem saber ao
menos todas as suas razões.
Outro problema é que muita
gente acha que os democratas se
comportam no campo da segurança nacional apenas em termos
políticos, pensando na maneira
como o assunto pode ajudá-los
em eleições. Se agora disserem
simplesmente que votaram a favor da guerra, mas que ela foi uma
idéia ruim, pode soar como uma
grande hipocrisia.
Folha - O caso David Kelly muda
alguma coisa nos EUA?
Lindsay - Não vai acontecer nada
por aqui. Os americanos não vão
se incomodar com o fato de um
cientista inglês ter se matado. A
política nos EUA é diferente. O
que interessa aqui é o que está
acontecendo às tropas americanas. A não ser que encontrem um
memorando assinado pelo próprio presidente Bush mostrando
que ele mentiu deliberadamente,
nada vai acontecer.
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