São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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GUERRA SEM LIMITES

Segundo o "Post", relatório dirá que os governos Bush e Clinton tiveram dez chances para impedir os ataques

Para comissão, 11/9 era evitável, diz jornal

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A comissão do Congresso dos EUA que investigou o 11 de Setembro vai acusar o atual governo e o anterior de terem perdido ao menos dez chances de impedir os atentados em 2001, segundo o jornal "The Washington Post".
Em relatório que será divulgado hoje, os parlamentares que apuraram a atuação dos serviços de inteligência no episódio devem dizer, de acordo com o "Post", que o governo de George W. Bush perdeu seis oportunidades de atuar contra os terroristas.
O "Post" afirma que os serviços de inteligência do governo de Bill Clinton (1993-2001) teriam perdido outras quatro chances.
Bush afirmou ontem que, se tivesse conhecimento dos preparativos dos atentados, teria "movido céus e terras" para impedi-los.
Fontes citadas pelo ""Post" afirmaram que algumas das oportunidades perdidas eram difíceis de ser identificadas. Outras, no entanto, revelaram uma preocupante falta de comunicação entre as autoridades policiais e de investigação norte-americanas.
O relatório da comissão, de 600 páginas, ouviu dezenas de autoridades, secretários e ex-secretários de Estado nos últimos meses. O documento será divulgado quatro dias antes da Convenção Nacional do Partido Democrata, que apontará formalmente o senador John Kerry como adversário de Bush nas eleições presidenciais de 2 de novembro.
Com a responsabilidade pelo fracasso na descoberta dos terroristas dividida entre Bush (republicano) e Clinton (democrata), os resultados da comissão poderão ter um impacto negativo muito aquém do esperado contra o atual presidente.

Caso Moussaoui
Uma das principais oportunidades perdidas, segundo o relatório, ocorreu no governo Bush, no caso do francês de descendência marroquina Zacarias Moussaoui, o único indiciado formalmente nos EUA pelo 11 de Setembro, sob acusação de participar do planejamento dos ataques.
Moussaoui havia sido preso em Minneapolis em agosto de 2001, por violar leis de imigração. Uma escola de aviação local avisara ao FBI (polícia federal dos EUA) que ele, matriculado como aluno, estava mais interessado em aprender a voar do que a pousar aviões.
No início de setembro daquele ano, um agente do FBI sugeriu que Moussaoui era "do tipo capaz de lançar um avião contra o World Trade Center". Mas ele foi liberado, sem que o FBI obtivesse aval para vasculhar sua casa. A direção do FBI nem sequer fora informada sobre o seu caso.

Al Qaeda e Saddam
O relatório também deve afirmar, de acordo com o "Post", que as supostas relações entre a rede terrorista Al Qaeda e o Iraque de Saddam Hussein eram muito menos profundas do que as mantidas com o Irã.
O governo Bush usou essa suposta aliança entre a Al Qaeda e Saddam como uma das justificativas para invadir o Iraque.
Embora o documento não apresente nenhuma indicação de que o governo iraniano possa ter conhecido ou auxiliado os ataques do 11 de Setembro, Teerã nunca teria tido restrições ao fato de que membros da Al Qaeda cruzassem livremente as fronteiras do país.
Segundo informações divulgadas nesta semana, pelo menos dez dos terroristas envolvidos no 11 de Setembro transitaram pelo Irã semanas antes dos atentados.
Uma das recomendações do relatório deverá ser a criação de um conselho especial para monitorar e agregar informações do FBI e da CIA (o serviço secreto dos EUA).
A reestruturação incluiria modificações em várias outras agências norte-americanas encarregadas da segurança no país. Todas as áreas também deveriam passar, segundo a análise da comissão, a prestar contas a essa nova comissão especial.


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