São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

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Culpa é da burocracia, diz analista

DE WASHINGTON

Uma "cultura endêmica" de não assumir riscos e responsabilidades teria levado os serviços de inteligência dos EUA ao fracasso em evitar o 11 de Setembro.
Segundo Marco Vicenzino, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um dos órgãos com maior autoridade em análises político-militares do mundo, o relatório da comissão do 11 de Setembro acertará em recomendar uma completa reformulação da área nos EUA.
Leia sua entrevista à Folha.
 

Folha - O relatório dividirá a responsabilidade entre Bush e Clinton. De quem foi a culpa?
Marco Vicenzino -
Nesta altura, atribuir a responsabilidade a um lado ou outro é inútil. Basicamente, o que aconteceu foi uma falha absoluta dos serviços de inteligência durante vários anos. Há várias razões para isso, mas a principal é uma total falta de ""inteligência humana", tanto no caso da Al Qaeda quanto do Iraque. O problema parece ser endêmico dentro do sistema de inteligência norte-americano.
O governo não teve espiões capazes de penetrar na Al Qaeda ou no Iraque durante anos.
Havia muitas regulamentações internas que impediam os serviços de inteligência de atuar de forma tão efetiva quanto poderiam.

Folha - Como assim?
Vicenzino -
Se a CIA quisesse contratar alguém e se essa pessoa tivesse um antecedente criminal, por exemplo, a autorização teria de ser obtida somente e diretamente do quartel-general da CIA.
Havia tanta burocracia constituída que se chegou ao ponto da ineficiência. Muitas das agências também se tornaram muito politizadas, levando seus dirigentes a evitar assumir riscos e responsabilidades. Isso acabou se transformando em uma cultura dentro da burocracia.
Politicamente, há informação suficiente sobre os dois lados [republicano e democrata] para que um acuse o outro de não ter agido quando deveria. Haverá dedos sendo apontados, mas o fato é que é um problema endêmico e levará ainda um bom tempo para que venha a ser resolvido.

Folha - O que deveria ser feito a partir de agora?
Vicenzino -
Se a comissão recomendar uma total reformulação dos serviços de inteligência, isso será o melhor. É o que é preciso ser feito. Temos, no entanto, de dar algum crédito à CIA e a outros serviços de inteligência, que têm sido bastante efetivos desde o 11 de Setembro.
É preciso, por exemplo, levar em conta que dois terços do comando da Al Qaeda foram capturados ou mortos desde os atentados, o que também não significa que ele não tenha sido reposto.


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