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Culpa é da burocracia, diz analista
DE WASHINGTON
Uma "cultura endêmica" de
não assumir riscos e responsabilidades teria levado os serviços de
inteligência dos EUA ao fracasso
em evitar o 11 de Setembro.
Segundo Marco Vicenzino, diretor do Instituto Internacional
de Estudos Estratégicos, um dos
órgãos com maior autoridade em
análises político-militares do
mundo, o relatório da comissão
do 11 de Setembro acertará em recomendar uma completa reformulação da área nos EUA.
Leia sua entrevista à Folha.
Folha - O relatório dividirá a responsabilidade entre Bush e Clinton. De quem foi a culpa?
Marco Vicenzino - Nesta altura,
atribuir a responsabilidade a um
lado ou outro é inútil. Basicamente, o que aconteceu foi uma falha
absoluta dos serviços de inteligência durante vários anos. Há várias
razões para isso, mas a principal é
uma total falta de ""inteligência
humana", tanto no caso da Al
Qaeda quanto do Iraque. O problema parece ser endêmico dentro do sistema de inteligência norte-americano.
O governo não teve espiões capazes de penetrar na Al Qaeda ou
no Iraque durante anos.
Havia muitas regulamentações
internas que impediam os serviços de inteligência de atuar de forma tão efetiva quanto poderiam.
Folha - Como assim?
Vicenzino - Se a CIA quisesse
contratar alguém e se essa pessoa
tivesse um antecedente criminal,
por exemplo, a autorização teria
de ser obtida somente e diretamente do quartel-general da CIA.
Havia tanta burocracia constituída que se chegou ao ponto da
ineficiência. Muitas das agências
também se tornaram muito politizadas, levando seus dirigentes a
evitar assumir riscos e responsabilidades. Isso acabou se transformando em uma cultura dentro da
burocracia.
Politicamente, há informação
suficiente sobre os dois lados [republicano e democrata] para que
um acuse o outro de não ter agido
quando deveria. Haverá dedos
sendo apontados, mas o fato é que
é um problema endêmico e levará
ainda um bom tempo para que
venha a ser resolvido.
Folha - O que deveria ser feito a
partir de agora?
Vicenzino - Se a comissão recomendar uma total reformulação
dos serviços de inteligência, isso
será o melhor. É o que é preciso
ser feito. Temos, no entanto, de
dar algum crédito à CIA e a outros
serviços de inteligência, que têm
sido bastante efetivos desde o 11
de Setembro.
É preciso, por exemplo, levar
em conta que dois terços do comando da Al Qaeda foram capturados ou mortos desde os atentados, o que também não significa
que ele não tenha sido reposto.
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