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São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Premiê palestino enfrenta dilema que ameaça governo

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

O primeiro-ministro palestino, Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen) enfrenta um dilema que esperava contornar por meio de negociações e que ameaça sua sobrevivência política.
Se anunciar uma ofensiva armada contra grupos extremistas como Hamas e Jihad Islâmico, ameaça deflagrar uma guerra civil. Por outro lado, caso não combata efetivamente esses movimentos, alimenta o ciclo de violência israelo-palestino e a idéia de que seu governo é frágil.
A opinião é do analista político palestino Muhammad Mahr, que afirma que, "embora as condições de vida da população palestina venham se deteriorando, em meio a toques de recolher, barreiras e invasões, há um apoio condicional ao fim dos ataques contra israelenses. E Abu Mazen não pode ignorar a opinião pública".
Segundo pesquisa realizada pela universidade palestina Bir Zeit, 71% da população é a favor do fim dos ataques.
O respaldo a Abu Mazen também é expressivo, apesar de a maioria acreditar que este novo governo foi imposto por forças externas e "mecanismos não-democráticos", ainda de acordo com a sondagem. Dos consultados, 72% querem que o premiê tenha "uma oportunidade justa" de mostrar seu trabalho e tentar obter avanços.
Os protestos de ontem contra Mazen e a Autoridade Nacional Palestina (ANP), em Gaza, indicam uma possível mudança nesse "voto de confiança" ao primeiro-ministro.
Confrontos entre membros de forças de segurança palestinas e grupos extremistas ocorreram no passado recente e poderiam crescer caso houvesse uma ofensiva contra grupos extremistas.
Para o analista israelense Uzi Benziman, o governo do premiê Ariel Sharon sabe disso, mas queria uma ação imediata após o atentado terrorista realizado em Jerusalém na terça-feira, quando ao menos 20 pessoas foram mortas (incluindo seis crianças).
"O governo israelense alega ter dado mais de 24 horas para a Autoridade Nacional Palestina agir. Se Abu Mazen tivesse feito algo direto contra o Hamas, não haveria necessidade de o Exército agir. Havia dois membros do gabinete, ambos do Shinui [partido laico] que propuseram que o governo aguardasse mais dois ou três dias, mas venceu a opinião de que era necessária uma resposta imediata", analisa Benziman.
"O governo tinha de fazer algo para responder ao sentimento popular e para mostrar a Abu Mazen que a situação era insustentável."
Para Mahr, a natureza da ação é questionável, porque "Ismail Abu Chanab era um líder político moderado dentro do Hamas que ajudou a implementar o cessar-fogo". Israel alega que Abu Chanab planejava ações terroristas.
Segundo Benziman, "quando Abu Mazen e Mohammad Dahlan [chefe de segurança palestino] dizem: "Não esperem que iniciemos uma guerra civil porque não vamos fazer isso", Israel afirma: "Conhecemos bem a dimensão de suas forças armadas, e vocês podem esmagar o Hamas'".
De acordo com o analista israelense, seria necessário que Israel evitasse ações militares, mesmo as de menor escala como as das últimas semanas na Cisjordânia e em Gaza, porque "isso acelerou a deterioração da situação. Precisaríamos ter sido mais cautelosos ao deter ou matar líderes nos territórios durante o cessar-fogo".


Paulo Daniel Farah é professor na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP


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