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ANÁLISE
Premiê palestino enfrenta dilema que ameaça governo
PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA
O primeiro-ministro palestino,
Mahmoud Abbas (também conhecido como Abu Mazen) enfrenta um dilema que esperava
contornar por meio de negociações e que ameaça sua sobrevivência política.
Se anunciar uma ofensiva armada contra grupos extremistas como Hamas e Jihad Islâmico,
ameaça deflagrar uma guerra civil. Por outro lado, caso não combata efetivamente esses movimentos, alimenta o ciclo de violência israelo-palestino e a idéia
de que seu governo é frágil.
A opinião é do analista político
palestino Muhammad Mahr, que
afirma que, "embora as condições
de vida da população palestina
venham se deteriorando, em
meio a toques de recolher, barreiras e invasões, há um apoio condicional ao fim dos ataques contra
israelenses. E Abu Mazen não pode ignorar a opinião pública".
Segundo pesquisa realizada pela universidade palestina Bir Zeit,
71% da população é a favor do fim
dos ataques.
O respaldo a Abu Mazen também é expressivo, apesar de a
maioria acreditar que este novo
governo foi imposto por forças
externas e "mecanismos não-democráticos", ainda de acordo
com a sondagem. Dos consultados, 72% querem que o premiê tenha "uma oportunidade justa" de
mostrar seu trabalho e tentar obter avanços.
Os protestos de ontem contra
Mazen e a Autoridade Nacional
Palestina (ANP), em Gaza, indicam uma possível mudança nesse
"voto de confiança" ao primeiro-ministro.
Confrontos entre membros de
forças de segurança palestinas e
grupos extremistas ocorreram no
passado recente e poderiam crescer caso houvesse uma ofensiva
contra grupos extremistas.
Para o analista israelense Uzi
Benziman, o governo do premiê
Ariel Sharon sabe disso, mas queria uma ação imediata após o
atentado terrorista realizado em
Jerusalém na terça-feira, quando
ao menos 20 pessoas foram mortas (incluindo seis crianças).
"O governo israelense alega ter
dado mais de 24 horas para a Autoridade Nacional Palestina agir.
Se Abu Mazen tivesse feito algo
direto contra o Hamas, não haveria necessidade de o Exército agir.
Havia dois membros do gabinete,
ambos do Shinui [partido laico]
que propuseram que o governo
aguardasse mais dois ou três dias,
mas venceu a opinião de que era
necessária uma resposta imediata", analisa Benziman.
"O governo tinha de fazer algo
para responder ao sentimento popular e para mostrar a Abu Mazen
que a situação era insustentável."
Para Mahr, a natureza da ação é
questionável, porque "Ismail Abu
Chanab era um líder político moderado dentro do Hamas que ajudou a implementar o cessar-fogo". Israel alega que Abu Chanab
planejava ações terroristas.
Segundo Benziman, "quando
Abu Mazen e Mohammad Dahlan [chefe de segurança palestino] dizem: "Não esperem que iniciemos uma guerra civil porque
não vamos fazer isso", Israel afirma: "Conhecemos bem a dimensão de suas forças armadas, e vocês podem esmagar o Hamas'".
De acordo com o analista israelense, seria necessário que Israel
evitasse ações militares, mesmo
as de menor escala como as das
últimas semanas na Cisjordânia e
em Gaza, porque "isso acelerou a
deterioração da situação. Precisaríamos ter sido mais cautelosos ao
deter ou matar líderes nos territórios durante o cessar-fogo".
Paulo Daniel Farah é professor na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP
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