São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Temendo distúrbios anti-Bush, prefeitura dará descontos aos que se comportarem durante convenção republicana

Nova York "premia" manifestantes pacíficos

Marilynn Yee/"The New York Times"
Button com inscrição "bem-vindos, ativistas políticos pacíficos', que dá direito a descontos em NY


RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Capitalismo de verdade é assim: para tentar garantir o menor número de distúrbios possível, a Prefeitura de Nova York quer "comprar" o bom comportamento dos militantes que virão protestar na cidade durante a convenção republicana com descontos para "ativistas pacíficos" em shows e restaurantes da cidade.
Durante os dias do encontro, entre 29 de agosto e 2 de setembro, que confirmará a candidatura do presidente George W. Bush à reeleição, os manifestantes que respeitarem os espaços destinados aos protestos e não danificarem bens públicos ou privados receberão um broche com uma caricatura da Estátua da Liberdade e a frase "bem-vindos, ativistas políticos pacíficos".
Os broches garantirão aos esquerdistas famintos descontos em redes de fast food ou em espetáculos de teatro, como no musical "Naked Boys Singing" (rapazes pelados cantando, título auto-explicativo). Os delegados republicanos também ganharão descontos, mas para outros shows, como o mais conservador "Wonderful Town".
"Não tem graça protestar de estômago vazio", disse o prefeito republicano Michael Bloomberg, defendendo a própria iniciativa.
O "New York Times" deu a notícia saudando ironicamente a criatividade americana e lamentando pela sorte da monarquia russa na Revolução de 1917. "Se ao menos os Romanovs tivessem pensado nisso", dizia o texto da última quarta-feira.
Mais de 200 mil manifestantes são esperados na cidade na primeira semana de setembro, e já há problemas para encaixá-los nas tradicionais regras de protestos americanas, que reservam espaços e horários definidos para as manifestações políticas.
Eles se organizam em grupos independentes, que vão desde ambientalistas ou comportados liberais até anarquistas antiglobalização. O maior deles, United for Peace and Justice, discute há semanas com a prefeitura o desejo de fazer uma grande manifestação no Central Park no domingo anterior ao início do encontro.
A prefeitura negou a autorização para o protesto, mas os manifestantes pretendem levá-lo adiante mesmo de maneira ilegal.
O grupo mais temido, porém, é o dos anarquistas, que prometem desrespeitar as regras de protestos, interrompendo o tráfego na cidade, penetrando em festas republicanas, além de não excluírem a possibilidade de depredação de "símbolos do capitalismo".
Numa tentativa menos amigável para limitar as manifestações anti-Bush em Nova York na semana da convenção, o FBI (polícia federal) tem questionado integrantes de organizações de esquerda em todo o país.
Sarah Bardwell, 21, integrante de um grupo contrário à Guerra do Iraque declarou ao "New York Times" que seis agentes do FBI interrogaram-na em casa. "A mensagem que me foi passada era: "Estamos vigiando vocês'", disse. "Queriam nos intimidar, convencer-nos a não participar de protestos."
Um funcionário do FBI chegou a protestar internamente contra a iniciativa, alegando que ela turvava a fronteira entre atividades ilegais e o direito à liberdade de expressão. Mas o Departamento da Justiça (diretamente ligado ao presidente Bush), em documento obtido pelo "Times", autorizou a continuação das investigações e interrogatórios.
"Comportamento criminoso não é coberto pela Primeira Emenda [aquela que, na Constituição americana, garante liberdade de expressão]", disse um porta-voz do FBI. "Estamos preocupados que participantes da convenção, cidadãos e policiais possam se ferir", declarou.


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