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IRAQUE OCUPADO
Após patrocinar candidatura de general democrata, ex-presidente defende papel mais ativo para ONU
Clinton pede mudança de rumo no Iraque
DA REDAÇÃO
O ex-presidente norte-americano Bill Clinton (democrata) disse
ontem que os EUA não devem
tentar dominar o Iraque e defendeu que a ONU tenha uma papel
maior na estabilização do país.
"Nós devemos ter um papel e
devemos colocar muito dinheiro
ali [no Iraque], mas não deveríamos dominar", disse, em visita
aos Emirados Árabes Unidos. "O
que nós precisamos é que a ONU
supervisione a situação da segurança e que a Otan [aliança militar
ocidental] seja usada como instrumento", afirmou o ex-presidente. "Assim, pareceria menos
uma ocupação", acrescentou.
Com essa declaração, Clinton
rompe o relativo silêncio que vinha mantendo acerca da ocupação do Iraque, cujos custos financeiros e humanos para os EUA
ameaçam tornar-se o calcanhar-de-aquiles da administração republicana de George W. Bush na
campanha pela reeleição em 2004.
A posição de Clinton de dar
maior importância para a ONU
no processo de estabilização se
aproxima mais do que dizem países como a França e a Alemanha
do que da linha oficial dos EUA,
de manter o controle político e
militar sobre o país.
Os EUA vêm perdendo soldados quase que diariamente em
emboscadas preparadas por iraquianos descontentes com a ocupação americana. Outra preocupação da Casa Branca é com os
custos da guerra. Cada semana de
permanência dos cerca de 130 mil
soldados norte-americanos na região sai por cerca de US$ 1 bilhão.
Bush acaba de pedir ao Congresso
mais US$ 87 bilhões para cobrir
os gastos do pós-guerra.
A pressão é tanta que Bush voltou atrás em sua posição inicial e
decidiu pedir ao Conselho de Segurança da ONU que aprove a
criação de uma força multinacional para o Iraque. Com isso, espera conseguir alguns milhares de
soldados de várias nacionalidades
para auxiliar os militares norte-americanos e alguma ajuda financeira para a reconstrução do país.
Para aprovar a resolução, França e Alemanha exigem que Washington ceda mais poder para a
ONU. As discussões sobre o Iraque dominarão a Assembléia Geral da ONU, que reunirá, em Nova
York, nesta semana alguns dos
principais líderes mundiais.
É muito provável que as declarações de Clinton tenham um
componente eleitoral. Clinton e
sua mulher, a senadora democrata por Nova York, Hillary, são
apontados como patronos da
candidatura do general Wesley K.
Clark às prévias presidenciais do
Partido Democrata (na oposição).
Clark, que é general do Exército
dos EUA e foi comandante da
Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte), apesar de ter
lançado sua candidatura há apenas uma semana, já aparece em
primeiro lugar entre os dez postulantes democratas. Segundo pesquisa da revista "Newsweek" divulgada no fim de semana, ele
tem 14%, contra 12% de Howard
Dean e de Joe Lieberman.
Mais importante talvez seja um
outro dado da sondagem: num
embate com Bush, o presidente fica com 47% das preferências e
Clark com 43%. A diferença de
apenas 4 pontos torna-se ainda
menor quando se considera que,
além das graves dificuldades no
Iraque, Bush não parece contar
com um cenário econômico muito favorável. Embora muitos analistas apostem numa recuperação,
afirmam que ela deverá ser lenta e
que não será acompanhada pela
criação de muitos empregos.
Embora Bush, que já gozou de
índices altíssimos de popularidade depois do 11 de Setembro, da
guerra no Afeganistão e mesmo
após a vitória no Iraque, ainda seja o favorito no pleito do ano que
vem, os democratas já não consideram derrotá-lo uma missão
quase impossível.
É nesse contexto que o lançamento da candidatura de Clark e
as declarações de Clinton ganham
importância. Se o Partido Democrata pretende mesmo voltar à
Casa Branca, precisa antes de
mais nada apresentar uma candidatura sólida. Em termos de viabilidade eleitoral, Clark tem algumas vantagens sobre seus concorrentes: não é tido por excessivamente liberal nem visto como um
representante de minoria étnica.
Mais importante, porém, pode
ser o fato de que Clark, por ser um
militar graduado e poder ostentar
a experiência de já ter comandado
a Otan, não teria muitos problemas para enfrentar Bush no campo em que ele é mais forte: a imagem de ser alguém capaz de combater o terrorismo.
Com agências internacionais.
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