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"Rei da banana" tenta de novo no Equador
De oratória limitada, megaempresário usou fortuna para vencer primeiro turno e, pela terceira vez, disputar Presidência do país
"Alvarito", como é chamado
pelos simpatizantes, aposta
em paternalismo para obter
apoio dos pobres e se diz
"enviado de Deus" ao país
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
O imprevisível eleitorado
equatoriano provocou duas
surpresas para o segundo turno
presidencial. Do lado esquerdo,
a novidade foi o economista
Rafael Correa, 43, um novato
na política, aliado do venezuelano Hugo Chávez. Do direito,
está o "rei da banana" Alvaro
Noboa, 56, insistente candidato
que arrancou nas últimas semanas de uma posição intermediária nas pesquisas para o
posto de mais votado no primeiro turno, há uma semana.
No dia 22 de agosto, Noboa e
Correa estavam empatados em
terceiro lugar, com apenas 12%,
ambos atrás de Leon Roldós e
Cynthia Viteri, de acordo com o
instituto Informe Confidencial. Nas urnas, apurados
98,97% até sexta, o megaempresário havia obtido 26,83%
dos votos válidos, contra
22,84% de Correa.
Os jornais e analistas equatorianos vinculam a subida de
Noboa à intensificação dos gastos de campanha. De oratória
confusa e limitada -tem dificuldades em pronunciar palavras grandes- baixo, gordo e de
calvície avançada, o empresário
adotou como estratégia na reta
final uma intensa maratona baseada na mistura de showmício
com distribuição de presentes,
muitos e variados presentes.
Em seu comício da última
quinta-feira em Guayaquil, por
exemplo, Noboa entregou a um
sapateiro US$ 500 de microcrédito, que terão de ser pagos
com US$ 7 mensais, além de ter
dado material de trabalho, como solas e borracha.
No comício, "Alvarito", como
é chamado pelos simpatizantes, distribuiu ainda um computador a uma escola e cadeiras
de rodas, duas de suas "doações" tradicionais.
"Ele não é populista, mas paternalista", disse à Folha o analista Walter Spurrier. "A população espera que ele faça bem
as coisas porque é um bom patrão." Segundo ele, a principal
base de votação de Noboa está
nas camadas pobres, enquanto
é rechaçado pela classe média.
Todas essas despesas -que
incluem até propaganda no estádio sueco que abrigou o amistoso Brasil x Equador- fizeram de Noboa o que mais torra
dinheiro, segundo estimativa
da ONG Participação Cidadã.
Foram US$ 2,47 milhões só em
anúncios em meios de comunicação. Em segundo lugar, Correa, com US$ 1,75 milhão.
A gastança de Noboa ocorre
com relativa impunidade. Em
meados de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
nomeado pelo Congresso, congelou a conta da campanha por
supostamente ter superado o
limite de US$ 2,75 milhões,
mas a medida já foi revogada.
Além dos presentes, Noboa
costuma evocar a religião -diz
que é o "enviado de Deus ao
Equador" e reza o Pai Nosso
depois de discursar.
Também não faltam propostas irreais. A mais conhecida é a
de construir anualmente 300
mil casas -isso num país pobre
de 12 milhões de pessoas.
"Nosso plano [de habitação]
conseguirá US$ 3 bilhões ao
ano para a construção, quando
a China pede US$ 1 bilhão para
cada edifício. Assim, quero lhes
mostrar como se pode construir casas para os equatorianos. Glória a Deus e viva o
Equador", discursou Noboa,
em Guayaquil, sua cidade natal.
Nem só de idéias malucas vive Noboa. Favorável a um acordo comercial com os EUA, defende ainda a atração de investimentos estrangeiros, entre as
quais as petroleiras, principal
atividade econômica do país.
Herança paterna
Dono de 110 empresas, entre
as quais o carro-chefe, Companhia Bananeira Noboa, o potencial "Berlusconi equatoriano", como lhe chama a revista
"The Economist", herdou sua
fortuna de US$ 1 bilhão do pai,
Luis Noboa, que nos anos 1950
e 1960 fez dinheiro com a banana e transformou o Equador no
principal produtor mundial.
À morte de Noboa, há doze
anos, sucedeu uma ruidosa disputa entre os irmãos pela fortuna do pai. Alvaro conseguiu ficar com a empresa bananeira, o
que lhe rendeu o rompimento
com parte dos irmãos e uma
longa batalha judicial.
A entrada na vida pública
ocorreu pouco após a morte do
pai, por meio do presidente Abdalá Bucaram, eleito em 1996 e
deposto no ano seguinte pelo
Congresso por "incapacidade
mental". Nesse curto período,
Noboa presidiu a Junta Monetária do Equador.
Em 1998, disputou a Presidência pela agremiação que havia fundado, o Partido Renovador Institucional Ação Nacional (Prian), mas perdeu no segundo turno para Jamil Mahuad. Quatro anos depois, perdeu de novo na segunda volta,
desta vez para Lucio Gutiérrez.
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