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"Extremistas palestinos tentam reeleger Sharon"
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
Grupos como Hamas e Jihad Islâmico, inimigos históricos do
premiê Ariel Sharon, são também
os seus principais cabos eleitorais.
Na opinião de Riad Malki, diretor do Centro Palestino para a
Disseminação da Democracia e
Desenvolvimento Comunitário,
com ataques como o de ontem, os
extremistas tentam minar os pacifistas de Israel. E forçar os eleitores a votar na direita liderada por
Sharon em 28 de janeiro. Leia trechos da entrevista, concedida à
Folha por telefone, de Ramallah.
Folha - Quais os objetivos do Hamas e do Jihad com os atentados?
Riad Malki - Há dois objetivos.
Um é estratégico: vêem esses atos
como parte da luta pelo fim da
ocupação e para estabelecer um
Estado islâmico palestino. O outro objetivo é em reação ao cenário israelense. Querem evitar o sucesso dos pacifistas nas eleições, o
que prejudicaria seus planos políticos. Amram Mitzna, visto como
pró-paz, ganhou a liderança do
Partido Trabalhista e vai fortalecer o movimento pela paz em Israel. A estratégia do Hamas e do
Jihad está ameaçada por esse
acontecimento. A sua idéia é torpedear qualquer possibilidade de
os pacifistas terem êxito nas eleições. Querem forçar os eleitores
israelenses a votar na direita.
Folha - Embora tenha ódio do
premiê Ariel Sharon, Hamas e Jihad
acham que ele é quem melhor serve aos seus interesses políticos?
Malki - Sim. Eu diria também
que esses grupos servem aos interesses de Sharon. Ele continua a
destruição nos territórios palestinos para que os extremistas reajam contra civis israelenses. É um
círculo vicioso. Os extremistas estão se beneficiando disso, às custas da maioria dos palestinos e
dos israelenses.
Folha - O Fatah [partido de Iasser
Arafat] e o Hamas tiveram um encontro no Cairo, no qual negociariam a adoção de cessar-fogo até as
eleições de Israel. Quais foram os
resultados da reunião?
Malki - Uns dizem que, antes de
ir ao Cairo, o Hamas havia acertado um acordo com os americanos
para um cessar-fogo. Ao mesmo
tempo, ouvimos o contrário: que
o encontro foi um total fracasso e
que o Hamas não estaria disposto
a interromper suas ações. Ainda
não temos certeza sobre quem fez
o ataque desta manhã [ontem]. Se
foi o Hamas, isso significa que a
segunda opinião seria a correta.
Folha - Pesquisas mostram que
grande parte dos palestinos cansaram da Intifada e querem um cessar-fogo. Isso favoreceria uma iniciativa para encerrar a violência?
Malki - Há semelhanças entre a
opinião pública palestina e a israelense. Em Israel, 70% da população quer um acordo com os palestinos e uma solução com dois
Estados. Mas 70% deles apóiam
Sharon contra os palestinos.
No lado palestino, 70% das pessoas querem a solução com dois
Estados, enquanto 70% da população se diz a favor da resistência
violenta contra alvos israelenses.
Há disposição dos dois lados
para se chegar a um acordo, mas
só se houver líderes capazes de assumir um compromisso.
Folha - A violência vai aumentar
até as eleições em 28 de janeiro?
Malki -O Hamas e o Jihad Islâmico continuarão a atacar. E Sharon
vai tentar se beneficiar desses
atentados eleitoralmente. Com a
vitória de Mitzna, as coisas mudaram um pouco. Se houver calma
até o pleito, isso poderia ajudar os
trabalhistas. É por isso que a tranquilidade não viria em benefício
de Sharon, que ficará feliz se houver mais atentados.
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