São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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"Extremistas palestinos tentam reeleger Sharon"

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

Grupos como Hamas e Jihad Islâmico, inimigos históricos do premiê Ariel Sharon, são também os seus principais cabos eleitorais.
Na opinião de Riad Malki, diretor do Centro Palestino para a Disseminação da Democracia e Desenvolvimento Comunitário, com ataques como o de ontem, os extremistas tentam minar os pacifistas de Israel. E forçar os eleitores a votar na direita liderada por Sharon em 28 de janeiro. Leia trechos da entrevista, concedida à Folha por telefone, de Ramallah.

Folha - Quais os objetivos do Hamas e do Jihad com os atentados?
Riad Malki -
Há dois objetivos. Um é estratégico: vêem esses atos como parte da luta pelo fim da ocupação e para estabelecer um Estado islâmico palestino. O outro objetivo é em reação ao cenário israelense. Querem evitar o sucesso dos pacifistas nas eleições, o que prejudicaria seus planos políticos. Amram Mitzna, visto como pró-paz, ganhou a liderança do Partido Trabalhista e vai fortalecer o movimento pela paz em Israel. A estratégia do Hamas e do Jihad está ameaçada por esse acontecimento. A sua idéia é torpedear qualquer possibilidade de os pacifistas terem êxito nas eleições. Querem forçar os eleitores israelenses a votar na direita.

Folha - Embora tenha ódio do premiê Ariel Sharon, Hamas e Jihad acham que ele é quem melhor serve aos seus interesses políticos?
Malki -
Sim. Eu diria também que esses grupos servem aos interesses de Sharon. Ele continua a destruição nos territórios palestinos para que os extremistas reajam contra civis israelenses. É um círculo vicioso. Os extremistas estão se beneficiando disso, às custas da maioria dos palestinos e dos israelenses.

Folha - O Fatah [partido de Iasser Arafat] e o Hamas tiveram um encontro no Cairo, no qual negociariam a adoção de cessar-fogo até as eleições de Israel. Quais foram os resultados da reunião?
Malki -
Uns dizem que, antes de ir ao Cairo, o Hamas havia acertado um acordo com os americanos para um cessar-fogo. Ao mesmo tempo, ouvimos o contrário: que o encontro foi um total fracasso e que o Hamas não estaria disposto a interromper suas ações. Ainda não temos certeza sobre quem fez o ataque desta manhã [ontem]. Se foi o Hamas, isso significa que a segunda opinião seria a correta.

Folha - Pesquisas mostram que grande parte dos palestinos cansaram da Intifada e querem um cessar-fogo. Isso favoreceria uma iniciativa para encerrar a violência?
Malki -
Há semelhanças entre a opinião pública palestina e a israelense. Em Israel, 70% da população quer um acordo com os palestinos e uma solução com dois Estados. Mas 70% deles apóiam Sharon contra os palestinos.
No lado palestino, 70% das pessoas querem a solução com dois Estados, enquanto 70% da população se diz a favor da resistência violenta contra alvos israelenses.
Há disposição dos dois lados para se chegar a um acordo, mas só se houver líderes capazes de assumir um compromisso.

Folha - A violência vai aumentar até as eleições em 28 de janeiro?
Malki -
O Hamas e o Jihad Islâmico continuarão a atacar. E Sharon vai tentar se beneficiar desses atentados eleitoralmente. Com a vitória de Mitzna, as coisas mudaram um pouco. Se houver calma até o pleito, isso poderia ajudar os trabalhistas. É por isso que a tranquilidade não viria em benefício de Sharon, que ficará feliz se houver mais atentados.


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