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CRISE
Médicos Sem Fronteiras vê carência generalizada e anuncia campanha de doações
Saúde faliu na Argentina, diz ONG
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O sistema de saúde argentino
está falido, alertou ontem a agência humanitária Médicos Sem
Fronteiras. Faltam leitos, medicamentos, profissionais e equipamentos nos hospitais públicos, e
cada vez menos argentinos podem recorrer à rede privada.
A instituição anunciou uma
campanha de doação de remédios
e outros insumos para os hospitais das Províncias do norte do
país -as mais pobres.
Em outubro, o Cels (Centro de
Estudos Legais e Sociais), um centro de pesquisa de Buenos Aires,
já havia apresentado uma denúncia formal à OEA (Organização
dos Estados Americanos) alertando para a deterioração generalizada do sistema de saúde do país.
No relatório, a entidade analisa
as condições de todos os grandes
hospitais públicos argentinos. Segundo o Cels, a maioria enfrenta
problemas graves.
Grande parte dos insumos é importada e, como o dólar se valorizou mais de 250% neste ano, a
maioria dos hospitais não tem
mais recursos e está sem equipamentos e remédios. "A situação é
insustentável. Os poucos remédios que existem são os mais caros da América Latina", afirma
Rafael Sotoca, representante da
MSF para a Argentina.
De acordo com Sotoca, a falta de
medicamentos precisa de uma solução rápida. Caso contrário, "em
um prazo curto, quase 40% dos
cidadãos argentinos serão excluídos do sistema [de saúde]".
A falta de recursos é ainda mais
grave porque a procura pelos serviços públicos aumentou com a
crise. A estimativa da Cels é que
mais de 800 mil pessoas que antes
usavam serviços privados agora
recorrem aos hospitais estatais.
Segundo o relatório da Médicos
Sem Fronteiras, a rede hospitalar
pública atendia a até 30% da população e hoje atende de 60% a
70% dos argentinos.
Relatório divulgado há um mês
pela Cels diz que, em alguns casos,
os hospitais não têm recursos
nem para a alimentação adequada dos pacientes. "Com o aumento dos índices de indigência, o número de casos de subnutrição
crônica explodiu", diz Horacio
Verbitsky, presidente do centro.
Segundo o Indec (o instituto
oficial de estatísticas do país), 18,5
milhões de argentinos, ou 53% da
população total, estão abaixo da
linha de pobreza.
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