São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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CRISE

Médicos Sem Fronteiras vê carência generalizada e anuncia campanha de doações

Saúde faliu na Argentina, diz ONG

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O sistema de saúde argentino está falido, alertou ontem a agência humanitária Médicos Sem Fronteiras. Faltam leitos, medicamentos, profissionais e equipamentos nos hospitais públicos, e cada vez menos argentinos podem recorrer à rede privada.
A instituição anunciou uma campanha de doação de remédios e outros insumos para os hospitais das Províncias do norte do país -as mais pobres.
Em outubro, o Cels (Centro de Estudos Legais e Sociais), um centro de pesquisa de Buenos Aires, já havia apresentado uma denúncia formal à OEA (Organização dos Estados Americanos) alertando para a deterioração generalizada do sistema de saúde do país.
No relatório, a entidade analisa as condições de todos os grandes hospitais públicos argentinos. Segundo o Cels, a maioria enfrenta problemas graves.
Grande parte dos insumos é importada e, como o dólar se valorizou mais de 250% neste ano, a maioria dos hospitais não tem mais recursos e está sem equipamentos e remédios. "A situação é insustentável. Os poucos remédios que existem são os mais caros da América Latina", afirma Rafael Sotoca, representante da MSF para a Argentina.
De acordo com Sotoca, a falta de medicamentos precisa de uma solução rápida. Caso contrário, "em um prazo curto, quase 40% dos cidadãos argentinos serão excluídos do sistema [de saúde]".
A falta de recursos é ainda mais grave porque a procura pelos serviços públicos aumentou com a crise. A estimativa da Cels é que mais de 800 mil pessoas que antes usavam serviços privados agora recorrem aos hospitais estatais. Segundo o relatório da Médicos Sem Fronteiras, a rede hospitalar pública atendia a até 30% da população e hoje atende de 60% a 70% dos argentinos.
Relatório divulgado há um mês pela Cels diz que, em alguns casos, os hospitais não têm recursos nem para a alimentação adequada dos pacientes. "Com o aumento dos índices de indigência, o número de casos de subnutrição crônica explodiu", diz Horacio Verbitsky, presidente do centro.
Segundo o Indec (o instituto oficial de estatísticas do país), 18,5 milhões de argentinos, ou 53% da população total, estão abaixo da linha de pobreza.


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