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MILITÂNCIA
Onze já morreram em protesto contra eventual extradição do líder pró-independência, detido em Roma, para a Turquia
Curdos se imolam em apoio a Ocalan
PAULO DANIEL FARAH
da Redação
Ativistas pró-independência do
maior grupo étnico do mundo sem
um Estado, os curdos, mobilizam-se desde o último dia 13 para impedir a extradição para a Turquia de
Abdullah Ocalan, líder do Partido
dos Trabalhadores do Curdistão
(PKK), detido em Roma.
Desde que a Turquia exigiu a expulsão de Ocalan da Síria, em outubro, 27 curdos atearam fogo ao
próprio corpo. Onze morreram.
Centenas de membros do PKK detidos na Turquia iniciaram greve
de fome em apoio a "Apo" (tio, em
curdo), como Ocalan é chamado.
Ocalan chegou a pedir, anteontem, aos mais de 6.000 curdos reunidos em Roma, na praça Climontana, batizada pelo grupo de "praça Curdistão", o fim das imolações. "Não quero, de modo algum,
que nosso povo continue a protestar colocando fogo em seu próprio
corpo. Peço que voltem para casa e
para seus locais de trabalho."
Os curdos vêm de Alemanha
(onde são cerca de 1 milhão), Suíça, França, Holanda, Dinamarca e
EUA para apoiar Ocalan, 49.
O líder separatista curdo foi preso depois de desembarcar com
passaporte falso no aeroporto de
Roma. Anteontem, a Justiça italiana lhe concedeu liberdade limitada
-ele não pode sair da capital, pois
a Alemanha pediu sua prisão por
atentados cometidos desde 1990.
No mês passado, Ocalan deixou
seu refúgio na Síria depois de a
Turquia ameaçar iniciar uma
guerra contra o país. Em seguida,
tentou asilo na Rússia. Recebeu
apoio da Duma (câmara baixa do
Parlamento), mas não teve êxito
com o governo, que preferiu evitar
problemas com a Turquia.
Um dos homens mais procurados pela Turquia, Ocalan tem liderado há 14 anos a luta pela autonomia dos curdos na região sudeste
do país. Desde 84, mais de 29 mil
pessoas morreram nos confrontos
entre o PKK e as forças turcas.
A Turquia responsabiliza Ocalan
pela violência e exige sua extradição. A Constituição da Itália, no
entanto, proíbe a extradição para
países onde a pena de morte vigora
-caso da Turquia.
"Se nós estivéssemos no lugar
dos curdos e aviões bombardeassem nossos vilarejos, se não pudéssemos falar nossa língua e fôssemos obrigados ao exílio, o que faríamos? Provavelmente a mesma
coisa", escreveu o jornalista Ahmet Altan no diário turco "Milliyet". Dezenas de intelectuais estão
na prisão por defender os curdos.
Ocalan pediu asilo político ao governo italiano, que, segundo o ex-premiê Silvio Berlusconi (oposição), está se envolvendo numa
"grande embrulhada".
O premiê italiano, Massimo D'Alema, líder dos ex-comunistas, negou as acusações de um pacto com
Ocalan e afirmou que "não é um
mistério as relações que os curdos
mantêm com os parlamentares italianos". Citou como exemplo uma
reunião do "Parlamento" curdo
realizada recentemente em Roma.
D'Alema sugeriu uma conferência internacional sobre os curdos,
sob a mediação da ONU (Organização das Nações Unidas).
"A Itália corre o perigo de ganhar
a hostilidade eterna da Turquia",
disse o primeiro-ministro turco,
Mesut Yilmaz.
Em Ancara (capital da Turquia),
milhares de turcos protestaram em
frente à Embaixada da Itália. "Itália terrorista", gritavam.
Ontem, a União Européia respaldou a posição da Itália, que recusa
pedido da Turquia de extradição
de Ocalan. A união dos 15 países
emitiu declaração em que expressa
"plena solidariedade à Itália".
Segundo a agência de notícias
"Reuters", o líder curdo foi transferido ontem de madrugada de
hospital em Roma para um local
desconhecido. A informação teria
sido fornecida por uma enfermeira
do hospital.
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