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ENTREVISTA
Líder não teria julgamento justo, diz ativista
da Redação
Se Abdullah Ocalan fosse extraditado para a Turquia, ele seria
humilhado e morto. Não teria direito a um julgamento justo. É o
que disse à Folha, por telefone,
Kani Xulam, diretor da Rede de
Informação Curdo-Americana,
fundada, em 1993, em Washington (EUA).
Xulam organizou uma greve de
fome, em 97, em frente ao Congresso dos EUA, pela liberdade
de Leyla Zana, primeira curda
eleita para o Parlamento turco
(91), condenada a 17 anos de prisão "por traição" e por "promover a destruição da Turquia".
Nascido em Dyarbakir (Turquia), em 60, deixou a região em
80 e estudou relações internacionais na Universidade de Toronto
(Canadá). Vive nos EUA, onde se
formou em história.
(PDF)
Folha - No ano passado, você
jejuou durante 32 dias "pela paz
no Curdistão" e pela libertação
de Leyla Zana. O que mudou?
Kani Xulam - A situação só piorou. Leyla Zana continua na prisão. Era uma das candidatas favoritas ao Prêmio Nobel da Paz
no ano passado. Ainda há muita
opressão. Agora, com a detenção
de Ocalan,
há muita
tensão. O
Exército está
manipulando a população, está
exortando
os turcos a
enviarem faxes gratuitamente a Roma para pedir a extradição dele.
Folha - Vocês estão fazendo algo?
Xulam -
Iniciamos
um jejum na
entrada da
Embaixada
da Itália aqui
nos EUA e tentamos conseguir o
apoio do Congresso.
Folha - E se Ocalan fosse extraditado para a Turquia?
Xulam - Seria morto, com certeza. Seria humilhado e não teria
direito a um julgamento justo. Isso não existe na Turquia.
Folha -Que dificuldades vocês
enfrentam?
Xulam - Não
há referência
aos curdos na
Constituição
da Turquia.
Não temos o
direito de eleger nossos representantes.
Quando o fazemos, eles
são mortos ou
presos. Somos usados
como mão-de-obra barata, como soldados nas
guerras. Os
turcos destroem nossas vilas. A
língua curda é considerada ilegal.
Só em 1991 disseram que outras
línguas poderiam ser faladas,
mas nem as nomearam. Falamos
nossa língua por milhares de
anos, mas não podemos escrevê-la. Posso escrever um livro em inglês, mas não em curdo. Quando
você escreve algo em curdo, vai
para a prisão. Ou, pior, é sequestrado. Como aconteceu na Argentina. E ninguém nunca mais
ouve falar de você. Na Turquia,
mais de 2.000 pessoas desapareceram nos últimos oito anos, e
cerca de 4.000 pessoas foram
mortas no meio da rua.
Folha - Qual sua principal reivindicação? Um Estado curdo?
Xulam - Sim, é o sonho de todos
os curdos. Um Curdistão livre. Já
sofremos muito. Queremos que
nossas crianças sejam educadas
por nós mesmos. Não queremos
esquecer nossa língua. Desejamos auto-determinação, e não
precisamos de ninguém para nos
dizer o que ler, pensar ou fazer.
Folha - Por que os curdos não
conseguiram um Estado?
Xulam - Nossos vizinhos eram
mais fortes que nós. E moramos
numa região montanhosa, o que
torna a comunicação e a organização muito difíceis. O agressor
tem as armas da Otan (aliança
militar ocidental) e conseguiu
nos manipular e oprimir. Agora
despertamos, estamos conscientes e lutamos por nossa libertação. É apenas uma questão de
tempo e seremos livres.
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