São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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EUA

Segundo a acusação, esquema que levou dinheiro a Bagdá e furou embargo da ONU incluiu firma brasileira; família do dono nega

FBI liga empresa de SP a fraude pró-Iraque

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Uma pequena exportadora de autopeças do Jardim Prudência, zona sul da cidade de São Paulo, é acusada pelo governo dos EUA de fazer parte de um esquema para arrecadar e canalizar recursos ilegalmente para o Iraque.
Segundo o indiciamento, divulgado na quinta-feira, uma rede de empresas, espalhada por oito países, usou transferências ilegais para violar o embargo econômico imposto pela ONU após a Guerra do Golfo (91). Uma dessas empresas seria a Twins International, uma exportadora de autopeças baseada em São Paulo. Os filhos do proprietário da empresa, Sarwad Wahab, disseram à Folha que a acusação é "absurda".
A pedido do FBI (polícia federal), a Justiça americana já indiciou 12 pessoas nos EUA, sendo que seis delas já estão presas.
Embora sua empresa tenha sido citada, Wahab não foi indiciado.
O indiciamento diz que, entre abril de 2000 e janeiro de 2002, uma rede de pessoas arrecadou nos EUA cerca de US$ 12 milhões e os enviou para a empresa Alshafei Family Connect, em Edmonds, no Estado de Washington (Costa Oeste dos EUA).
Preso na quinta, o dono da empresa, Hussein Alshafei, admite ter repassado ao Iraque dinheiro de refugiados iraquianos que queriam ajudar amigos e familiares.
Para os Estados Unidos, essas remessas violam o embargo econômico contra o Iraque, imposto pela ONU após a Guerra do Golfo. Para Alshafei, no entanto, trata-se de uma atividade de caráter humanitária.
O indiciamento informa que Alshafei deixou o Iraque durante a guerra, em 1991, e passou um período num campo de refugiados na Arábia Saudita antes de chegar aos Estados Unidos no começo da década de 90.
Segundo as investigações do FBI, o dinheiro arrecadado por Hussein Alshafei teria chegado ao Iraque por meio de empresas espalhadas por oito países: Reino Unido, Índia, Canadá, Brasil, Taiwan, Egito, Jordânia e Emirados Árabes.
Além de Alshafei, outras cinco pessoas já foram presas e outras seis, indiciadas.
Embora o grupo que investigou o esquema tenha sido criado depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a acusação do governo americano não tem qualquer relação com atividades terroristas, apenas com possível violação ao embargo ao Iraque.

Remessa suspeita
A menção à companhia brasileira Twins International vincula-se a uma única operação financeira, no valor de US$ 11 mil.
O dinheiro teria saído de uma conta do Citibank na cidade de Lynnwood, também no Estado de Washington, para uma conta do mesmo banco no Brasil.
Depois, esse valor teria sido transferido para a Twins International, localizada no Jardim Prudência, na cidade de São Paulo.
O indiciamento não esclarece se a empresa brasileira simplesmente enviou o dinheiro para o Iraque ou se teria vendido produtos para empresas iraquianas.
"Uma coisa eu posso dizer: não se trata de ajuda humanitária", disse o agente Leigh H. Winchell, funcionário da alfândega americana que participou da investigação do esquema.
Winchell diz que os EUA seguiram o caminho do dinheiro e descobriram, na ponta final do esquema, uma empresa iraquiana chamada Al Nour Trading.
Embora rejeite a noção de que os recursos tenham sido enviados com fins humanitários, Winchell não quis dizer quais são as suspeitas dos americanos.
O procurador federal Francis Diskin informou que o governo americano está estudando formas jurídicas de processar ou até extraditar para os Estados Unidos estrangeiros envolvidos na suposta rede criada para burlar o embargo ao Iraque. Mas admitiu que isso seria uma segunda etapa do processo.


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