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VIZINHO EM CRISE
Prazo é de cinco dias úteis; governo deve anunciar controle de câmbio para segurar reservas, corroídas pela greve
Leslie Mazoch/Associated Press
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Venezuelanos fazem fila em frente a casa de câmbio em Caracas para tentar trocar seus dólares |
BC venezuelano suspende mercado cambial
DA REDAÇÃO
O Banco Central da Venezuela
suspendeu ontem suas transações
em moedas estrangeiras por um
prazo de cinco dias úteis, para
tentar conter a queda da moeda
local, o bolívar, que já perdeu
24,3% de seu valor diante do dólar
desde o início do ano. O ministro
das Finanças, Tobias Nóbrega,
disse que o governo pretende
anunciar uma nova política cambial após o término desse prazo.
Ele disse que a nova política envolverá "restrições" ao mercado
cambial, mas não deu detalhes.
Nóbrega culpou a "ação absurda e sem sentido da oposição",
que promove desde o dia 2 de dezembro uma greve geral para forçar o presidente Hugo Chávez a
renunciar ou convocar eleições
antecipadas.
A greve vem prejudicando principalmente a indústria petrolífera,
responsável por 80% das exportações do país, quinto maior produtor de petróleo do mundo. Para
contornar o desabastecimento
provocado pela greve, o governo
vem queimando suas reservas para importar produtos essenciais,
como combustíveis e alimentos.
"O governo precisa adotar medidas urgentes para prevenir a deterioração ainda maior de nossas
reservas internacionais", afirmou
Nóbrega. "A greve geral sem dúvida devastou a economia. O ano
de 2003 começa com uma situação fiscal e financeira muito delicada." A crise política abala profundamente a economia do país,
cujo PIB caiu entre 8% e 9% no
ano passado.
A suspensão do mercado de
câmbio significa que os venezuelanos não podem comprar moedas estrangeiras durante o período de suspensão. O controle do
câmbio pode ajudar a fortalecer o
bolívar ao limitar o montante de
dólares que cada pessoa e os bancos podem comprar.
Mas ele pode também prejudicar as empresas que dependem de
dólares para comprar importados. A economia é altamente dependente de importações -cerca
de 50% dos alimentos consumidos no país são importados.
O valor do bolívar havia atingido seu menor valor da história na
terça-feira -1.853 bolívares por
dólar. A queda de quase um quarto do valor neste ano foi precedida por uma queda de 46% em
2002. A depreciação da moeda
contribuiu para um aumento no
índice de inflação, que chegou a
30% no ano passado.
Segundo operadores do mercado financeiro, o BC vinha gastando cerca de US$ 70 milhões ao dia
para tentar conter a queda do bolívar. As reservas internacionais
do país estavam ontem em US$
11,05 bilhões, contra US$ 12,5 bilhões antes do início da greve.
Segundo analistas, o controle de
câmbio deve dar ao governo um
alívio no curto prazo, mas poderá
ter efeitos danosos à economia se
for mantido no longo prazo.
Segundo análise do banco de investimentos americano JP Morgan, o governo poderia adotar um
câmbio diferenciado para importações -cerca de 1.500 bolívares
por dólar para produtos essenciais e entre 2.100 e 2.200 bolívares
para o resto dos bens.
O ministro do Comércio e da
Indústria, Ramón Rosales, disse
que a suspensão do mercado
cambial foi determinada para interromper "o ataque dos conspiradores golpistas contra as reservas internacionais venezuelanas".
"O objetivo dessa medida é preservar nossas reservas, que são a
única garantia para a recuperação
da Venezuela após o fim da sabotagem petrolífera", disse.
O vice-presidente da Câmara de
Comércio EUA-Venezuela, Antonio Herrera, disse que a medida é
"um mecanismo de pressão" que
demonstraria "o terrorismo de
Estado" promovido pelo governo. "Nenhuma empresa decente
pode operar numa situação dessas", disse Herrera, para quem o
controle de câmbio significa a
"falta de garantias jurídicas para
que as empresas multinacionais
continuem operando no país".
Com agências internacionais
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