UOL


São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

Próximo Texto | Índice

VIZINHO EM CRISE

Prazo é de cinco dias úteis; governo deve anunciar controle de câmbio para segurar reservas, corroídas pela greve

Leslie Mazoch/Associated Press
Venezuelanos fazem fila em frente a casa de câmbio em Caracas para tentar trocar seus dólares


BC venezuelano suspende mercado cambial

DA REDAÇÃO

O Banco Central da Venezuela suspendeu ontem suas transações em moedas estrangeiras por um prazo de cinco dias úteis, para tentar conter a queda da moeda local, o bolívar, que já perdeu 24,3% de seu valor diante do dólar desde o início do ano. O ministro das Finanças, Tobias Nóbrega, disse que o governo pretende anunciar uma nova política cambial após o término desse prazo. Ele disse que a nova política envolverá "restrições" ao mercado cambial, mas não deu detalhes.
Nóbrega culpou a "ação absurda e sem sentido da oposição", que promove desde o dia 2 de dezembro uma greve geral para forçar o presidente Hugo Chávez a renunciar ou convocar eleições antecipadas.
A greve vem prejudicando principalmente a indústria petrolífera, responsável por 80% das exportações do país, quinto maior produtor de petróleo do mundo. Para contornar o desabastecimento provocado pela greve, o governo vem queimando suas reservas para importar produtos essenciais, como combustíveis e alimentos.
"O governo precisa adotar medidas urgentes para prevenir a deterioração ainda maior de nossas reservas internacionais", afirmou Nóbrega. "A greve geral sem dúvida devastou a economia. O ano de 2003 começa com uma situação fiscal e financeira muito delicada." A crise política abala profundamente a economia do país, cujo PIB caiu entre 8% e 9% no ano passado.
A suspensão do mercado de câmbio significa que os venezuelanos não podem comprar moedas estrangeiras durante o período de suspensão. O controle do câmbio pode ajudar a fortalecer o bolívar ao limitar o montante de dólares que cada pessoa e os bancos podem comprar.
Mas ele pode também prejudicar as empresas que dependem de dólares para comprar importados. A economia é altamente dependente de importações -cerca de 50% dos alimentos consumidos no país são importados.
O valor do bolívar havia atingido seu menor valor da história na terça-feira -1.853 bolívares por dólar. A queda de quase um quarto do valor neste ano foi precedida por uma queda de 46% em 2002. A depreciação da moeda contribuiu para um aumento no índice de inflação, que chegou a 30% no ano passado.
Segundo operadores do mercado financeiro, o BC vinha gastando cerca de US$ 70 milhões ao dia para tentar conter a queda do bolívar. As reservas internacionais do país estavam ontem em US$ 11,05 bilhões, contra US$ 12,5 bilhões antes do início da greve.
Segundo analistas, o controle de câmbio deve dar ao governo um alívio no curto prazo, mas poderá ter efeitos danosos à economia se for mantido no longo prazo.
Segundo análise do banco de investimentos americano JP Morgan, o governo poderia adotar um câmbio diferenciado para importações -cerca de 1.500 bolívares por dólar para produtos essenciais e entre 2.100 e 2.200 bolívares para o resto dos bens.
O ministro do Comércio e da Indústria, Ramón Rosales, disse que a suspensão do mercado cambial foi determinada para interromper "o ataque dos conspiradores golpistas contra as reservas internacionais venezuelanas".
"O objetivo dessa medida é preservar nossas reservas, que são a única garantia para a recuperação da Venezuela após o fim da sabotagem petrolífera", disse.
O vice-presidente da Câmara de Comércio EUA-Venezuela, Antonio Herrera, disse que a medida é "um mecanismo de pressão" que demonstraria "o terrorismo de Estado" promovido pelo governo. "Nenhuma empresa decente pode operar numa situação dessas", disse Herrera, para quem o controle de câmbio significa a "falta de garantias jurídicas para que as empresas multinacionais continuem operando no país".


Com agências internacionais

Próximo Texto: Suprema Corte susta referendo no dia 2
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.