São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Procuradora diz que há provas para indiciá-lo em caso de corrupção; premiê nega e descarta renúncia

Metade dos israelenses quer saída de Sharon

DA REDAÇÃO

Metade da população israelense quer que o premiê de Israel, Ariel Sharon, renuncie ou peça licença do cargo agora, mesmo que ainda não esteja provado o seu envolvimento em um caso de suborno. É o que mostra pesquisa publicada ontem no diário "Yediot Ahronot", um dos principais do país.
Sharon negou a acusação e disse ontem que não vai sair. "Não pretendo renunciar. Enfatizo: não pretendo renunciar. Estou ocupado com o meu trabalho e não vou perder tempo com assuntos em investigação", afirmou. Mais tarde, Sharon acrescentou que pretende permanecer no cargo até o final, em 2007.
Assessores afirmaram que Sharon não pretende renunciar mesmo que seja indiciado.
Porém dois ministros afirmaram que, se indiciado, Sharon terá de renunciar. "Se [Sharon for indiciado] -e espero que isso não ocorra- , não há dúvida de que ele não poderá permanecer no cargo", disse a ministra da Educação, Limor Livnat.
O ministro do Interior, Avraham Poraz, líder do Shinui (partido laico), que promove uma "limpeza do governo", disse que, em caso de indiciamento, Sharon terá de renunciar.
Para a procuradora-geral de Israel, Edna Arbel, há provas suficientes para indiciar Sharon por recebimento de suborno do empreendedor imobiliário David Appel, que foi indiciado anteontem. A decisão sobre o indiciamento de Sharon pode sair nas próximas semanas. Existe a possibilidade de o premiê ser chamado para depor nos próximos dias.

Esquema
Appel está sendo acusado de ter subornado Sharon, Gilad, filho do premiê, e o vice-premiê Ehud Olmert no final dos anos 90. Na época, Sharon era chanceler, e Appel pretendia conseguir apoio do governo em seus empreendimentos. Ao todo, teriam sido pagos US$ 590 mil para Gilad, e US$ 100 mil teriam sido destinados para o rancho da família Sharon.
Gilad foi contratado por Appel para prestar consultoria num projeto de construção de um resort numa ilha grega, apesar de o filho de Sharon não ter nenhuma experiência para exercer a função.
O projeto acabou não sendo levado adiante, mas Appel teria sido favorecido em empreendimentos imobiliários em Israel e continuou pagando salário para Gilad, mesmo com o empreendimento na Grécia suspenso.
Segundo o indiciamento do empreendedor, Appel pediu ajuda a Sharon para que fossem retirados obstáculos de um negócio que ele estava realizando. Na ocasião, Appel disse que Gilad poderia "receber muito dinheiro" se Sharon ajudasse.
Appel teria ameaçado o ex-diretor da Administração das Terras de Israel (órgão responsável pelo zoneamento) Avi Drexler, afirmando que utilizaria as suas influências com Gilad Sharon para despedi-lo do cargo por bloquear mudanças no zoneamento. Drexler foi demitido, mas não se sabe se por interferência de Gilad.
O empreendedor conseguiu que Sharon e Gilad participassem de uma recepção para uma delegação de políticos gregos que foram a Israel. O objetivo era conseguir favorecimento no empreendimento na ilha grega.

Pesquisa
Além de cerca da metade (49%) da população de Israel querer a saída de Sharon (outros 38% dizem que ele deve continuar), 63% acham que ele deveria renunciar se provado o seu envolvimento e 53% disseram que acreditam que o premiê esteja ligado ao suborno. Sharon também está sendo investigado em outros dois casos de corrupção.
Em um deles, Sharon é acusado de ter recebido uma contribuição de US$ 1,5 milhão de um empresário da África do Sul -em Israel, políticos não podem receber doações de estrangeiros.
No outro caso, membros do comitê central do Likud teriam recebido dinheiro em troca de votos na escolha da lista de candidatos do partido nas eleições gerais no ano passado.
Nabil Abu Rudeinah, principal assessor do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, disse ontem que Sharon poderá realizar "uma aventura militar nos territórios palestinos" para desviar a atenção do caso de suborno.
Caso Sharon decida renunciar, o Parlamento será dissolvido e será convocada nova eleição.

Palestino morto
Um menino palestino de 11 anos foi morto pelo Exército de Israel perto da barreira que separa o país da faixa de Gaza.
Israel afirmou que um grupo de adolescentes se aproximou da barreira. Os soldados, temendo que eles lançassem uma bomba, disparam. Os palestinos disseram que caçavam passarinhos.


Com agências internacionais


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