São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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NOVOS MILONGUEIROS

Novos salões de baile na capital argentina permitem que homossexuais dancem entre si sem enfrentar preconceito

Tango entra no circuito homossexual de Buenos Aires

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O tradicional tango argentino entrou no circuito gay de Buenos Aires. Atualmente, casais homossexuais que antes não se aventuravam nas milongas portenhas (como são conhecidas as casas de tango populares), por medo do preconceito, já têm um lugar onde ensaiar uns passos da dança.
Trata-se do caso de La Marshall, uma das primeiras milongas gays portenhas, criada há sete meses.
"Os meninos tinham uma inquietação. Eles tinham onde aprender a dançar o tango, mas não tinham onde dançar. Esse lugar nasceu dessa necessidade", explicou o professor de tango Augusto Balizano, um dos donos da milonga, localizado no bairro de Palermo.
Em La Marshall, 90% dos freqüentadores são homens -desde rapazes de 20 anos até senhores de 60. Alguns são bastante tímidos e desajeitados. Outros, visivelmente já familiarizados com os passos da dança.
"Não creio que seja proibido o baile entre homens em uma milonga tradicional. Mas não seria muito bem-visto. Ainda há muito milongueiro machista", afirmou Edgardo Gargano, outro dono da milonga e também professor de tango.
"Nós nunca dançaríamos juntos numa milonga tradicional", contou o casal Leonardo, 36, e César, 41, frequentadores do lugar. "O problema é o preconceito. Ficaríamos sob os olhares de todo mundo", disse Leonardo.
A fama de machista que envolve o tango não é por acaso. Na milonga tradicional, por exemplo, é sempre o homem quem escolhe a parceira e a tira para dançar, nunca o contrário. É o homem também quem comanda a dança. Porém, no passado, já foi comum homens dançarem com homens, não se levando em conta se eram homossexuais ou não.
"A gente queria um lugar mais relaxado, onde as pessoas que vêm não tenham que se sujeitar aos códigos das milongas portenhas", explicou Balizano.
Em março, reabre a milonga lésbica Marlene, no bairro de Boedo, após uma interrupção no final de 2001.


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