São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 1999

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TEMOR NOS EUA
Presidente dos EUA anuncia pacote contra ataques com armas químicas, biológicas e ao sistema de computadores
Clinton ataca "terrorismo do século 21'

MARCELO DIEGO
de Nova York

O presidente Bill Clinton anunciou ontem que vai enviar ao Congresso um programa de US$ 2,86 bilhões para prevenir ataques terroristas em todo os EUA, algo que a Casa Branca qualificou de "as ameaças do século 21".
Clinton diz acreditar que há uma ameaça concreta de o país ser alvo de um atentado.
O dinheiro será dividido em dois programas diferentes: US$ 1,4 bilhão será para medidas efetivas de segurança e outro US$ 1,46 bilhão para proteger o sistema de computação do país (do chamado "atentado eletrônico").
O presidente expressou ontem, em discurso na Academia Nacional de Ciências, o temor de que o país seja alvo de armas químicas e biológicas. "Os inimigos da paz se deram conta de que não podem nos atacar por meios tradicionais", disse. Em entrevista ao "The New York Times", publicada ontem, Clinton já havia declarado que "perde o sono com a possibilidade de um ataque biológico ao país".
Para evitá-lo, vai destinar recursos para pesquisas em vacinas contra vírus e bactérias (US$ 52 milhões), em treinamento, aparelhagem e melhoria na infra-estrutura médica das principais cidades norte-americanas (US$ 683 milhões) e na reforma do sistema de segurança de prédios e instituições federais (US$ 206 milhões), entre outras medidas.
Clinton quer que a conta seja aprovada já para o próximo ano fiscal, que começa em outubro. Ele também vai alocar recursos para prevenir ataques via computador, causando caos no sistema de defesa, no sistema bancário e no modo de funcionamento das principais empresas do país. "Não há motivo para pânico, mas é necessária uma preocupação deliberada, disciplinada e de longo prazo neste problema", disse Clinton.
O presidente não afirmou abertamente quais são os inimigos que os norte-americanos têm que temer, mas citou os atentados à bomba às embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia como exemplos de hostilidade.
Extremismo
O atentado foi atribuído a grupos extremistas islâmicos e teria sido orquestrado pelo milionário Osama bin Laden, radicado no Afeganistão. Os EUA acreditam que ele está desenvolvendo armas químicas e biológicas.
Em 1997, grupos islâmicos reunidos no Paquistão decidiram iniciar uma série de atentados contra os EUA. No ano passado, uma pesquisa do instituto Gallup mostrou que 32% dos norte-americanos temem um atentado terrorista.
O perigo pode não vir de fanáticos religiosos. Em 1995, um extremista contrário ao governo federal, Timothy McVeigh, promoveu a explosão de um carro bomba em Oklahoma, matando 169 pessoas.
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Mais gastos militares
A conta de US$ 2,6 bilhões do novo plano antiterrorismo vai ser somada ao pacote de US$ 10,5 bilhões para a construção de bases antimísseis em seis anos.
É a primeira vez desde que Clinton tomou posse, em 1993, que o Pentágono (comando das Forças Armadas) ganha uma suplementação orçamentária.
A Casa Branca diz que só é possível ter novos gastos graças ao superávit fiscal de US$ 70 bilhões.
Mas o desenvolvimento de novos programas de defesa era uma reivindicação constante dos parlamentares ao presidente.
Ontem, por exemplo, o senador republicano (oposicionista) Thad Cochran aplaudiu as medidas de Clinton, mas já disse que o dinheiro pode não ser suficiente.



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