São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001 |
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JUSTIÇA Abner Louima, do Haiti, foi espancado por policiais em uma delegacia em 1997; polícia da cidade sofre acusações de racismo Imigrante torturado em NY tem indenização de US$ 9 mi
SÉRGIO DÁVILA DE NOVA YORK O imigrante negro Abner Louima, torturado por policiais numa delegacia de Nova York em 1997, aceitou indenização de US$ 9 milhões da Prefeitura e do Sindicato dos Policiais de Nova York. Em troca, concordou em abrir mão da ação civil em que pedia a reforma do sistema policial nova-iorquino, principalmente no tocante a acordos com oficiais acusados de crime e violência. O acordo, secreto, estava sendo costurado desde o começo da semana pelos advogados de ambas as partes, que devem se encontrar na quarta-feira para oficializá-lo. Nem o advogado de Louima, Sanford Rubenstein, nem o da polícia, Joe Mancini, quiseram comentar a indenização. O caso Louima, como ficou conhecido, foi um dos maiores escândalos da história da polêmica polícia de Nova York, em que seis policiais chegaram a ser presos. Socos Na madrugada de 9 de agosto de 1997, o então guarda de segurança Abner Louima, do Haiti, foi preso na porta de uma boate no Brooklyn, acusado de brigar em público. Algemado, foi levado para o vizinho 70º Distrito. Uma vez lá, o policial Justin Volpe, pensando ter sido atingido por um soco do imigrante, o agrediu com socos. Então, levou-o ao banheiro e, na presença de um companheiro, o sodomizou com um cabo de vassoura. Depois, o policial perceberia que um de seus colegas o havia atingido por engano, e não Louima. O imigrante foi solto no mesmo dia sob ameaças de ser morto se fizesse alguma denúncia. Volpe, que se declarou culpado durante o julgamento, está cumprindo pena de 30 anos. Seu companheiro de ronda naquela noite, Charles Schwarz, foi condenado a 15 anos por ter segurado Louima durante a tortura e por ter mentido para a Justiça. Outros dois policiais cumprem cinco anos de prisão por terem mentido. Em sua ação civil, aberta em 1998, o imigrante haitiano pedia inicialmente US$ 155 milhões por danos morais e físicos. No processo, seu advogado dizia que os policiais conspiraram por usar a lei não-escrita de silêncio batizada de "blue wall of silence" (muro azul do silêncio), uma referência à cor dos uniformes. Segundo a regra, policiais acusados de violência policial podem se recusar a responder qualquer coisa sobre o caso por até 48 horas depois da acusação. Morte em tiroteio O caso Louima ganhou força e a simpatia da opinião pública quando um outro imigrante ilegal, desta vez africano, foi morto num tiroteio com a polícia em fevereiro de 1999. Depois, descobriu-se que Amadou Diallo estava desarmado e levou 41 tiros (sua família pede uma indenização de US$ 81 milhões para a polícia, num caso ainda em aberto). Desde então, a polícia de Nova York vem sofrendo constantes acusações de racismo por parte de seus membros, principalmente em relação a negros e latinos. A polêmica levou à queda do então comissário-chefe de polícia, o conservador Howard Safir. Safir foi o responsável pela implantação da política de "tolerância zero" criada pelo prefeito Rudolph Giuliani, que levou a taxa de criminalidade da então violenta Nova York aos mais baixos níveis desde os anos 60 e deu fama mundial à corporação. Texto Anterior: Atentado: Adolescente fere ao menos cinco ao atirar contra escola em San Diego Próximo Texto: Bálcãs: Forças macedônias ignoram cessar-fogo Índice |
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