São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

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BÁLCÃS

Para a Macedônia, rebeldes queriam ganhar tempo ao propor trégua; polícia mata duas pessoas de origem albanesa

Forças macedônias ignoram cessar-fogo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A polícia macedônia matou duas pessoas de origem albanesa na cidade de Tetovo, no noroeste do país, e um policial ficou ferido em um tiroteio, enquanto países europeus alertavam a comunidade internacional quanto ao perigo de uma nova guerra nos Bálcãs e pediam ao governo macedônio que fosse comedido em suas ações contra a guerrilha.
Um porta-voz do governo macedônio anunciou na capital, Skopje, que o Exército estava no comando das operações, sugerindo que uma ofensiva contra os rebeldes já tivesse sido ordenada.
Forças de segurança macedônias atacaram com armamentos pesados as montanhas próximas a Tetovo, nas quais a guerrilha tem suas bases, ignorando o cessar-fogo unilateral oferecido pelos rebeldes. Especulou-se em Skopje que a iniciativa dos guerrilheiros visasse apenas a retardar a ofensiva militar.
Redes de TV internacionais veicularam imagens da morte dos dois macedônios de origem albanesa em Tetovo. Policiais pararam o carro em que eles circulavam e, ao perceberem que eles possuíam algo parecido com um explosivo, dispararam uma rajada de balas, matando-os. Os dois podem transformar-se em mártires para a comunidade albanesa.
Bloqueios policiais ocorreram em Tetovo depois do incidente. Policiais com metralhadoras revistaram todos os veículos que entraram ou saíram da cidade.
O vilarejo de Gracani, no noroeste de Skopje, foi conquistado pelos guerrilheiros após violentos conflitos que duraram até a madrugada de ontem, segundo moradores de cidades vizinhas.
A polícia bloqueou todas as vias de acesso a Gracani depois que um policial foi ferido. A guerrilha informou que um de seus membros também fora ferido.
Ontem à noite, o vilarejo, que se localiza perto da fronteira com a Província sérvia de Kosovo, a apenas 15 km de Skopje, foi visto em chamas. Contudo as forças de segurança macedônias impediram o acesso de jornalistas à área.

União Européia
Uma delegação de ministros de países-membros da União Européia (UE) chegou a Skopje no momento em que os bombardeios voltaram a acontecer em Tetovo.
O barulho das explosões podia ser ouvido do aeroporto da capital, a 45 km da zona de conflito, mas, ainda assim, os representantes da UE disseram ter esperança de que o ciclo de violência possa ser interrompido.
"Creio que um cessar-fogo seja sempre positivo. Ficamos contentes ontem (anteontem), quando as pessoas que estão nas montanhas (de Tetovo) declararam um cessar-fogo", disse Javier Solana, chefe da diplomacia da UE.
A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) informou, em Viena, que estava aumentando sua missão de observação na Macedônia para 16 membros. Até então, ela contava com oito observadores.
A OSCE, que reúne 55 países, condenou a violência dos "extremistas albaneses" e disse que a resposta do governo macedônio tinha sido apropriada.
O presidente macedônio, Boris Trajkovski, que deve participar de cúpula da UE hoje em Estocolmo, anunciou que os principais partidos políticos do país tinham concordado com a "necessidade de neutralizar a ameaça terrorista rapidamente".
A direção da aliança militar ocidental manteve a pressão sobre os países que a compõem para que mais soldados sejam enviados à fronteira entre a Província sérvia de Kosovo e a Macedônia.
Mark Laity, conselheiro do secretário-geral da Otan, George Robertson, disse que a Kfor -força internacional de manutenção da paz em Kosovo- estava reforçando suas posições na fronteira para evitar que os rebeldes utilizem Kosovo como base para atacar o território macedônio.
"O problema é que todas as nossas forças na fronteira estão sobrecarregadas. Precisamos de mais soldados para apoiá-las nesse esforço", disse Laity.
Porém os EUA e o Reino Unido opõem-se aos planos de enviar mais soldados aos Bálcãs, principalmente se eles tiverem como missão combater os guerrilheiros.
Um funcionário da Otan afirmou que a aliança havia permitido que o general Carlo Cabigiosu, que comanda os soldados da Kfor, autorizasse a entrada de forças sérvias em outras partes da zona de segurança existente entre Kosovo e o restante da Sérvia.


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