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ARMAS QUÍMICAS
José Bustani perde cargo de diretor-geral da entidade em votação encabeçada pelos EUA, que comemoram
Diplomata brasileiro é destituído da Opaq
ROGERIO SCHLEGEL
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE HAIA
O diplomata brasileiro José
Maurício Bustani, 56, foi destituído ontem do cargo de diretor-geral da Opaq (Organização para a
Proscrição das Armas Químicas),
após uma campanha aberta feita
pelos EUA para a sua saída.
Foi a primeira vez que um dirigente de organização internacional foi afastado à força durante a
vigência de seu mandato.
Bustani disse que sofreu "linchamento". Os EUA comemoraram sua saída, considerada pelo
Departamento de Estado como
"um passo essencial para restabelecer a estabilidade" da organização e superar suas dificuldades
operacionais.
Bustani foi afastado com uma
margem folgada de votos. Foram
48 votos pela sua saída e apenas
sete a favor do brasileiro (de Brasil, Cuba, México, China, Rússia,
Bielorússia e Irã); outros 43 países
se abstiveram, entre eles a França
(único dos grandes países europeus nesse grupo), e a maioria dos
países latino-americanos (que,
pela tradição diplomática, teriam
acompanhado o voto do Brasil).
Eram necessários dois terços
dos votos, descontadas as abstenções, mas o placar obtido pelo esforço dos EUA representou 87%
dos votos válidos.
A conferência da Opaq, especialmente convocada para discutir a saída de Bustani, reuniu em
Haia (Holanda) 115 dos 145 países
que participam da organização.
O orçamento da entidade para
2002 é próximo de 61 milhões
(cerca de R$ 127 milhões). Os
EUA contribuem com 22%.
O afastamento do diplomata
brasileiro era esperado. Ele vinha
sendo abertamente torpedeado
pelos EUA desde fevereiro e, em
março, foi apresentada moção de
desconfiança contra ele.
Os EUA o acusam de má gestão
(que apontam como origem da
crise financeira da organização) e
de ser "confrontacionista" e "autoritário". Para o diplomata brasileiro, as acusações não passam de
"cortina de fumaça" para esconder o interesse americano em comandar indiretamente a Opaq.
Criada em 1997 no âmbito da
ONU, a Opaq visa a colocar em
prática uma convenção assinada
em 1994 como sinal de rejeição
mundial do uso de armas químicas depois da guerra entre o Irã e o
Iraque (1980-88).
Um dos pontos que geraram
atrito entre Bustani e os americanos foi o empenho do diplomata
para trazer o Iraque para a Opaq,
o que abriria caminho para que a
entidade passasse a monitorar o
desmantelamento do arsenal iraquiano de armas químicas.
Por orientação de Bustani, a
Opaq também soltou resolução
após 11 de setembro em que reafirma seu poder de agência mundial contra armas químicas.
Os EUA se consideraram ultrajados pela ausência de consulta
prévia, e o documento acabou
modificado. Ontem, a porta-voz
do Departamento de Estado americano Eliza Koch disse que o afastamento de Bustani vai permitir o
reequilíbrio das contas da Opaq,
tarefa em que os Estados Unidos
prometem se empenhar. A conferência especial da organização
prossegue hoje, quando será discutido o nome do sucessor.
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