São Paulo, sexta, 23 de maio de 1997.



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TRANSIÇÃO
Presidente do Congo (ex-Zaire) será também chefe do governo; oposição civil a Mobutu sai prejudicada
Kabila nomeia gabinete sem premiê

das agências internacionais


Foi anunciado ontem o novo governo da República Democrática do Congo, o antigo Zaire. A lista escolhida pelo novo líder do país, Laurent-Desiré Kabila, tem 13 nomes. O anúncio foi feito pouco antes da 0h de hoje (20h em Brasília).
Não vai haver primeiro-ministro, o que mostra que Kabila, como presidente, será mesmo o principal nome do governo. "Este é um regime presidencialista", disse Gaetan Kakudji, membro do grupo de Kabila.
Segundo a "France Presse", uma das pastas será ocupada por Justine Kasavubu, que foi representante da União para Democracia e o Progresso Social na Bélgica.
Ela é ligada ao chefe desse partido, Etienne Tshisekedi, o principal nome da oposição civil ao ex-presidente Mobutu Sese Seko. Mobutu fugiu do país no final da semana passada.
O próprio Tshisekedi aspirava ao posto de primeiro-ministro, em um governo que, segundo os próprios rebeldes haviam prometido, seria o mais amplo possível. Mas as indicações são de que a Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo vai ocupar quase todas as pastas. Sob as ordens de Kabila, o grupo derrotou em sete meses as Forças Armadas e encerrou 31 anos de poder de Mobutu.
Antes do anúncio, partidários de Tshisekedi se reuniram em frente a sua casa para pedir a nomeação dele para o cargo de premiê.
"Nós colocamos Mobutu em uma ambulância política, e a AFDL o levou para o cemitério", disse Joseph Olengankoy, aliado próximo do líder oposicionista.
"Nossos aliados (as forças de Kabila) vieram para a capital porque o caminho havia sido preparado por nossa luta interna", afirmou Olengankoy.
No início do ano, quando a guerra ainda corria, a oposição conseguiu pressionar o enfraquecido ex-ditador para que Tshisekedi fosse nomeado primeiro-ministro. Ele sucedeu a Kengo wa Dondo.
Tshisekedi, porém, permaneceu poucos dias no cargo. Com o avanço das forças rebeldes, o ex-presidente do então Zaire destituiu Tshisekedi e nomeou o mobutista Likulia Bolongo para o cargo.
Enquanto Kabila continuava as negociações para a formação do governo em Kinshasa, suas tropas tomaram a cidade de Matadi, a oeste da capital, única saída do Zaire para o mar.
Era a última grande cidade que ainda não tinha sido tomada. Além de um porto, Matadi abriga uma importante usina hidrelétrica.
Refugiados
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) iniciou ontem uma nova operação de transporte de refugiados hutus ruandeses, dessa vez no oeste do Congo (ex-Zaire), em Mbandaka (580 km a nordeste de Kinshasa).
A ONU já havia repatriado milhares de hutus que viviam no leste do país, ameaçados pelos membros da aliança rebelde de Kabila, composta majoritariamente pela etnia rival tutsi. Organizações humanitárias vêm acusando os homens de Kabila de realizar massacres de hutus na região.
Ontem, cerca de 300 hutus foram levados de avião de volta a Ruanda. A ONU acredita que cerca de 17 mil tenham conseguido atravessar o país, andando mais de 1.200 km em fuga dos rebeldes.
A maioria dos hutus que embarcaram ontem são homens jovens. Mulheres e crianças morreram ou se perderam durante os seis meses de caminhada. "Isso foi a sobrevivência dos mais aptos", disse Peter Kessler, porta-voz do Acnur.



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