São Paulo, sexta, 23 de maio de 1997.



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Rebeldes voam de volta a Lubumbashi

RICARDO BONALUME NETO
enviado especial ao Congo (ex-Zaire)

Depois de um intervalo de cerca de meio ano causado pela guerra civil, o primeiro avião comercial deixou Kinshasa, a capital do ex-Zaire, atual República Democrática do Congo, em direção a Lubumbashi, no sudeste do país.
Os rebeldes liderados por Laurent Kabila tomaram a cidade, a segunda maior do antigo Zaire, no dia 9 de abril. A partir dali, Kabila comandou a rebelião que o colocou no poder, no último final de semana. Desde então, as duas grandes cidades zairenses (hoje congolesas) não tinham comunicação direta.
Depois de os funcionários do novo governo coletarem mais dinheiro dos estrangeiros a bordo -US$ 70 por um "visto de saída"; US$ 180 caso a pessoa quisesse retornar logo, o que era o caso de alguns jornalistas de agências internacionais- o vôo prosseguiu para Johannesburgo, na África do Sul.
O país está falido, depois de ter suas finanças saqueadas pelo ex-presidente Mobutu Sese Seko e sua família, e qualquer motivo é suficiente para taxar estrangeiros em moeda forte.
Um grupo de soldados armados a bordo do avião comercial dava o toque exótico ao vôo, que, apesar disso, simboliza a volta ao "normal" no país.
Em certo momento, o irritado comissário de bordo reclamava que um dos soldados mantinha sua arma carregada. A arma em questão era uma metralhadora leve russa, com um tambor com razoável quantidade de munição (50 balas).
Mas o próprio comissário aproveitava para fumar pelos corredores, o que não é praxe de sua profissão.
Novo regime, novo nome
Os outros soldados -que desceram em Lubumbashi depois de passarem meses marchando pelo país até tomarem a capital-, sensivelmente mantiveram os carregadores de seus fuzis desconectados. Vários deles nunca tinham antes andado de avião.
A própria capital ficou nas últimas semanas sem receber qualquer vôo do exterior, à medida que as tropas da AFDL (Aliança das Forças Democráticas para a Libertação do Congo) se aproximavam de Kinshasa.
O vôo também indicava a mudança de regime. Os bilhetes eram da companhia aérea Zaire Air; mas as aeromoças davam boas vindas ao vôo em nome da "Air Aliança".
Os dois aeroportos, de Kinshasa e Lubumbashi, foram pouco afetados pela luta. Há raros sinais de combate. As tropas de Mobutu fugiam ao menor sinal de tiroteio. Um ponto "turístico" no aeroporto de Lubumbashi é a cratera provocada por um tiro de morteiro dos rebeldes -a única. Outros pontos "turísticos" eram alguns vidros com perfurações de balas.
Passaporte fora de moda
Em Kinshasa, as formalidades de imigração e alfândega eram ainda inexistentes. As salas do diretor da imigração e do vice-diretor estavam abandonadas, para alegria daqueles que passaram por ali antes tendo de pagar taxas e mais taxas e alguns subornos.
Documentos de diversos tipos -carteiras de identidade, permissões da polícia secreta, a Snip, para movimentação, carteiras de trabalho- estavam pelo chão.
Uma das salas tinha algumas dezenas de um passaporte que está rapidamente se tornando obsoleto: o da República do Zaire. Enquanto ele não é substituído por passaportes da República Democrática do Congo, ele permanece válido.



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