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Rebeldes voam de volta a Lubumbashi
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial ao Congo (ex-Zaire)
Depois de um intervalo de cerca
de meio ano causado pela guerra
civil, o primeiro avião comercial
deixou Kinshasa, a capital do
ex-Zaire, atual República Democrática do Congo, em direção a Lubumbashi, no sudeste do país.
Os rebeldes liderados por Laurent Kabila tomaram a cidade, a
segunda maior do antigo Zaire, no
dia 9 de abril. A partir dali, Kabila
comandou a rebelião que o colocou no poder, no último final de
semana. Desde então, as duas
grandes cidades zairenses (hoje
congolesas) não tinham comunicação direta.
Depois de os funcionários do novo governo coletarem mais dinheiro dos estrangeiros a bordo
-US$ 70 por um "visto de saída";
US$ 180 caso a pessoa quisesse retornar logo, o que era o caso de alguns jornalistas de agências internacionais- o vôo prosseguiu para
Johannesburgo, na África do Sul.
O país está falido, depois de ter
suas finanças saqueadas pelo
ex-presidente Mobutu Sese Seko e
sua família, e qualquer motivo é
suficiente para taxar estrangeiros
em moeda forte.
Um grupo de soldados armados
a bordo do avião comercial dava o
toque exótico ao vôo, que, apesar
disso, simboliza a volta ao "normal" no país.
Em certo momento, o irritado
comissário de bordo reclamava
que um dos soldados mantinha
sua arma carregada. A arma em
questão era uma metralhadora leve russa, com um tambor com razoável quantidade de munição (50
balas).
Mas o próprio comissário aproveitava para fumar pelos corredores, o que não é praxe de sua profissão.
Novo regime, novo nome
Os outros soldados -que desceram em Lubumbashi depois de
passarem meses marchando pelo
país até tomarem a capital-, sensivelmente mantiveram os carregadores de seus fuzis desconectados. Vários deles nunca tinham
antes andado de avião.
A própria capital ficou nas últimas semanas sem receber qualquer vôo do exterior, à medida que
as tropas da AFDL (Aliança das
Forças Democráticas para a Libertação do Congo) se aproximavam
de Kinshasa.
O vôo também indicava a mudança de regime. Os bilhetes eram
da companhia aérea Zaire Air; mas
as aeromoças davam boas vindas
ao vôo em nome da "Air Aliança".
Os dois aeroportos, de Kinshasa
e Lubumbashi, foram pouco afetados pela luta. Há raros sinais de
combate. As tropas de Mobutu fugiam ao menor sinal de tiroteio.
Um ponto "turístico" no aeroporto de Lubumbashi é a cratera provocada por um tiro de morteiro
dos rebeldes -a única. Outros
pontos "turísticos" eram alguns
vidros com perfurações de balas.
Passaporte fora de moda
Em Kinshasa, as formalidades de
imigração e alfândega eram ainda
inexistentes. As salas do diretor da
imigração e do vice-diretor estavam abandonadas, para alegria
daqueles que passaram por ali antes tendo de pagar taxas e mais taxas e alguns subornos.
Documentos de diversos tipos
-carteiras de identidade, permissões da polícia secreta, a Snip, para
movimentação, carteiras de trabalho- estavam pelo chão.
Uma das salas tinha algumas dezenas de um passaporte que está
rapidamente se tornando obsoleto: o da República do Zaire. Enquanto ele não é substituído por
passaportes da República Democrática do Congo, ele permanece
válido.
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