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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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Impacto de mais de 12 anos de sanções foi devastador

DAVID USBORNE
DO "INDEPENDENT", EM NOVA YORK

Quando a ONU (Organização das Nações Unidas) impôs sanções econômicas ao Iraque, após a invasão iraquiana do Kuait, em 1990, o objetivo era claro: criar a pressão suficiente para obrigar o ditador Saddam Hussein a se desarmar. A política fracassou e provocou um efeito colateral mais comumente associado às guerras: graves "danos colaterais" para a população civil.
Com a votação de ontem em Nova York, as sanções serão finalmente levantadas no Iraque, após mais de 12 anos. Os defensores delas afirmam que o principal responsável pela derrocada econômica do Iraque é o próprio Saddam Hussein. Seja como for, o impacto das sanções foi devastador.
A crítica mais frequentemente feita ao embargo diz respeito à devastação do sistema de saúde do Iraque e ao aumento do índice de mortalidade infantil.
De acordo com a ONU e outras fontes, entre 500 mil e 1 milhão de crianças iraquianas morreram desde 1991. O índice de mortalidade de crianças de até 5 anos de idade estaria hoje 2,5 vezes mais alto do que era em 1990.
Esta semana a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou que a reconstrução do sistema de saúde do Iraque custará até US$ 180 milhões e observou que apenas 20% do sistema médico do país ainda está operante.
Além da saúde, a população iraquiana viveu privada de todas menos as necessidades mais básicas de subsistência durante todo o período em que as sanções estiveram em vigor.
Num estudo recente, o economista da Universidade Yale William Nordhaus escreveu que o Iraque, sob o governo de Saddam, "viveu uma das decadências econômicas mais catastróficas da história moderna", tendo o padrão médio de vida caído 90% em 23 anos.
No entanto, os alvos das sanções -Saddam Hussein e seus seguidores mais próximos- não sofreram qualquer tipo de privação, na medida em que exploraram o contrabando e os vazamentos que o sistema apresentava por todos os lados.
Em resposta a um coro crescente de críticas, os EUA concordaram, no início de 1997, em criar o programa de petróleo em troca de alimentos, que permitiu ao Iraque retomar algumas exportações de petróleo. A receita petrolífera, controlada pela ONU, era usada para adquirir produtos de necessidade humanitária básica.
Um ano atrás, foi feita uma tentativa de impor "sanções inteligentes", quando a ONU redigiu uma lista de bens que o Iraque, teoricamente, era livre para importar. Mas a burocracia atrapalhava o acordo, e em várias instâncias os EUA bloquearam o fechamento de contratos que consideravam inapropriados.
"Ao longo dos últimos dez anos, os EUA deram mostras de um descaso assustador com relação à situação humanitária do Iraque, conforme pudemos ver quando vetaram a venda de produtos essenciais, desde vacinas infantis até equipamentos para a purificação de água", disse ontem a professora Joy Gordon, da Universidade Fairfield. Gordon é a autora de "Cool War: Economic Sanctions as Weapons of Mass Destruction" (o título pode ser traduzido como "Guerra Ligeiramente Fria -As Sanções Econômicas como Armas de Destruição em Massa"), publicado recentemente na revista "Harper's".


Tradução de Clara Allain


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