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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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RELIGIÃO

Jeffrey John foi indicado para a diocese de Reading, mas enfrenta resistência dos conservadores na igreja oficial

Nomeação de bispo gay divide anglicanos

JO DILLON
DO "THE INDEPENDENT"

A ameaça de um cisma na Igreja Anglicana cresceu no último sábado, quando o arcebispo das Índias Ocidentais (Caribe) advertiu para o fato de a crise ser inevitável caso se confirme a nomeação de um reverendo homossexual como bispo de Reading, cidade localizada nas proximidades de Londres.
O arcebispo Drexel Gomes disse ter objeções morais ao fato de Jeffrey John, o reverendo em questão, lecionar sobre temas ligados à homossexualidade. Em decorrência, disse, é possível que a igreja sofra uma divisão aguda
A declaração de um clérigo estrangeiro aumentou a tensão entre a ala liberal da Igreja Anglicana, que apóia a nomeação de Jeffrey John, e seus oponentes conservadores, que se opõem à indicação.
Os comentários na mídia em torno do novo bispo se intensificaram na sexta-feira, depois da revelação de que John e seu parceiro, também reverendo anglicano, haviam comprado em conjunto um apartamento. A versão oficial era de que eles não viviam sob o mesmo teto. Mas, segundo o "Sunday Telegraph", o apartamento custou 235 mil libras esterlinas e está localizado em Roehampton, a oeste de Londres.
A atual crise começou quando um grupo de bispos anglicanos -das dioceses de Hereford, Leicester, Newcastle, Ripon e Leeds, St. Edindsbury e Ipswich, Salisbury, Truro e Worcester- escreveu uma carta para a cúpula da Igreja Anglicana em apoio à nomeação de Jeffrey John, que fora anteriormente apoiado pelo bispo de Oxford, Richard Harries.
Em reação ao apoio surgiu um documento dentro da própria diocese na qual John exerceria o episcopado. Um outro clérigo, Philip Giddings, disse que os anglicanos se dividiriam e a hierarquia da igreja perderia, na diocese, apoio e recursos materiais. Era preciso, segundo ele, que o plano de nomeação fosse abandonado.
O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, permaneceu em silêncio. Um porta-voz seu indicou que ele estava recebendo uma quantidade impressionante de cartas favoráveis à nomeação de John, embora em meio à correspondência também existissem manifestações muito inequívocas de ódio e homofobia.
Acredita-se que Williams defenda uma mudança da posição da Igreja Anglicana com relação ao homossexualismo.
Um dos oito bispos que escreveram a Williams, Timothy Stevens, de Leicester, disse sábado que era chegado o momento de discutir extensivamente o assunto, mas dentro dos canais hierárquicos. "Precisamos voltar a uma discussão séria para identificarmos a vontade de Deus", afirmou. "Isso só será possível se nos afastarmos dos critérios da mídia."
Mas é também verdade que os fiéis, neste domingo, ao procurarem suas respectivas igrejas, raramente ouviram sermões de pastores nos quais estes defenderam a tese de que era preciso tratar o homossexualismo de forma aberta.
O Movimento Cristão de Gays e Lésbicas disse que o clero "não é formado por pessoas corajosas". O secretário da entidade, Richard Kirker, disse que "há muitos outros reverendos que não deram declarações públicas e que estão insatisfeitos com a atual onda de reações conservadoras".
Em Downing Street, o porta-voz do primeiro-ministro Tony Blair disse que o problema era interno à igreja. Mas o Movimento Socialista Cristão, do qual Blair e outros membros do governo e da bancada trabalhista são membros, apóia a nomeação de Jeffrey John.
Um porta-voz do grupo disse que as resistências à nomeação do novo bispo estavam fazendo com que a hierarquia anglicana parecesse ridícula.

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