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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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RÚSSIA

Oposição acusa presidente de punir mídia independente

Putin fecha TV privada e reacende debate sobre liberdade de imprensa

DA REDAÇÃO

O governo russo fechou ontem uma das duas principais emissoras privadas de TV do país, reacendendo o debate sobre as ameaças do presidente Vladimir Putin à liberdade de imprensa. Putin tenta se reeleger à Presidência no ano que vem.
O Ministério da Imprensa disse que o fechamento da TVS foi decorrente de problemas financeiros e de administração. A TVS havia surgido após o fechamento de duas outras emissoras que entraram em conflito com empresas estatais. Jornalistas e oposicionistas admitem que a estação passada por dificuldades, mas disseram que a ação do governo ameaça a difusão objetiva de notícias.
As transmissões foram interrompidas abruptamente à meia-noite durante uma propaganda. A imagem foi trocada inicialmente por uma tela com barras coloridas e, depois, por um aviso que dizia: "Adeus. Nós fomos tirados do ar". Poucos minutos depois, um canal de esportes começou suas transmissões no lugar.
Segundo o governo, a TVS não cumpriu as demandas por transmissões de qualidade e "afundou em uma crise financeira, de pessoal e de administração".
Os jornalistas da TVS, alguns deles sem receber salários há três meses, consideraram o fechamento uma combinação de desastre financeiro com intrigas políticas. "Nossos concorrentes não tiveram o bom senso de esperar nossa morte natural", disse o humorista Viktor Shenderovich. "O canal encerraria suas transmissões de qualquer maneira em dois ou três dias por falta de dinheiro."
Alexei Veneditkov, editor-chefe da rádio Ekho Moskvy, uma das principais do país, disse que o fechamento da TVS visa uma "nacionalização da mídia". "O que temos agora é um completo monopólio do Estado nas emissoras nacionais", disse.
A oposição ao governo acusa Putin de restringir a liberdade de imprensa no país desde que assumiu o governo, em 2001. Para Boris Nadezhdin, do Partido da União das Forças de Direita, o fechamento da TVS foi "uma conclusão lógica da política do Kremlin em relação à mídia independente". "A TVS era o único canal com condições de criticar de maneira mais dura as autoridades."
Muitos dos jornalistas da TVS haviam trabalhado anteriormente na NTV, que passou em 2001 para o controle da companhia estatal de gás, Gazprom, após ter adotado uma cobertura crítica da guerra na Tchetchênia. A equipe de jornalismo da NTV se reagrupou então em outro canal, TV6, cuja licença foi cassada em 2002.
Com a preparação para as eleições parlamentares de dezembro e com Putin liderando as pesquisas para a eleição presidencial do ano que vem, a atenção sobre a cobertura política na mídia local vem aumentando. Putin diz que os direitos democráticos devem incluir liberdade de imprensa, mas também avisou às emissoras para terem cuidado de "não defender interesses corporativos".


Com agências internacionais

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