São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Assassinato é o segundo do gênero em menos de uma semana; Seul diz que manterá envio de 3.000 soldados

Terroristas decapitam civil sul-coreano

DA REDAÇÃO

Terroristas islâmicos decapitaram ontem um civil sul-coreano seqüestrado no Iraque, após Seul ter-se recusado a cumprir sua exigência de retirar do país sua equipe militar de apoio e suspender o envio de mais 3.000 soldados.
Kim Sun-il, 33, foi o segundo homem degolado por terroristas islâmicos em menos de uma semana. Na sexta-feira passada, o engenheiro americano Paul Johnson foi morto na Arábia Saudita por integrantes da Al Qaeda que exigiam a soltura de terroristas.
A Chancelaria sul-coreana confirmou que o corpo de Kim foi encontrado por soldados americanos entre Bagdá e Fallujah, 50 km a oeste da capital. "Parece que o corpo foi jogado para fora de um veículo. O homem foi decapitado, e a cabeça foi recuperada junto com o corpo", disse o porta-voz das forças americanas no Iraque, general Mark Kimmitt.
Após a confirmação, a TV sul-coreana mostrou a família de Kim chorando sua morte na cidade de Busan, no sudeste do país.
A TV Al Jazira, de Qatar, disse ter recebido uma fita de vídeo do assassinato. Nos trechos levados ao ar, Kim aparece ajoelhado, vendado e usando uma túnica laranja -como o uniforme usado na prisão americana em Guantánamo. (Paul Johnson, decapitado no dia 18, também estava de túnica laranja ao ser morto.)
"Fizemos o alerta, e vocês [sul-coreanos] nos ignoraram. Chega de mentiras. Seu Exército não está aqui pelos iraquianos, mas pelos malditos americanos", diz um dos terroristas no vídeo.
As imagens seguintes não foram ao ar, mas funcionários da Al Jazira afirmaram que elas mostram um dos homens cortando a cabeça do refém com uma faca.
Kim é o primeiro não-americano a ser decapitado por terroristas islâmicos. Tradutor em uma empresa sul-coreana fornecedora do Exército dos EUA, ele estava no Iraque havia oito meses quando foi seqüestrado, no último dia 17.
Na noite de domingo, a Al Jazira exibiu um vídeo em que os captores de Kim ameaçavam matá-lo caso o governo da Coréia do Sul não cumprisse suas demandas em 24 horas. Na fita, os seqüestradores se identificavam como integrantes do grupo liderado pelo terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi, suspeito de uma série de atentados no Iraque neste ano e que, segundo os EUA, tem ligações com a Al Qaeda.
Ontem, os EUA voltaram a bombardear alvos em Fallujah na tentativa de atingir uma casa supostamente usada por Zarqawi, matando ao menos três pessoas. No sábado, uma ação semelhante matou 22 pessoas.
O comando americano diz ter visado um esconderijo de Zarqawi, mas a polícia e os moradores locais afirmam se tratar de uma residência civil.
Supostos membros do grupo de Zarqawi também reivindicaram a morte de Nicholas Berg, um empresário americano decapitado no Iraque em maio. Em abril, o italiano Fabrizio Quattrocchi foi morto com um tiro por seus captores, no ápice de uma onda de seqüestros de estrangeiros no país.

Terceira força
Mesmo com a morte de Kim, a Coréia do Sul reiterou o envio de 3.000 soldados a partir de agosto. Somadas aos 675 homens de apoio (médicos e engenheiros militares) que Seul já mantém no país, a força sul-coreana será o terceiro maior contingente no Iraque, atrás apenas dos EUA e do Reino Unido. O governo sul-coreano disse que "condenava fortemente" o que chamou de "um ato desumano de terror".
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que "o mundo livre não pode ser intimidado pelas ações brutais dessa gente bárbara". "Estão tentando abalar nossa determinação e nossa confiança, querendo que nos retiremos do mundo para que possam impor sua visão obscura sobre as pessoas. Os EUA não se intimidam com essa gente. Acho que o presidente [sul-coreano] Roh [Moo-hyun] entende isso."
Também ontem, dois soldados dos EUA morreram em um ataque em Balad, ao norte de Bagdá, e três civis foram mortos quando um carro-bomba explodiu em um bairro residencial da capital. Em Mossul (norte), a reitora de uma faculdade e seu marido foram mortos a tiros e facadas, num crime de motivação obscura.


Com agências internacionais

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