São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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RÚSSIA

Ação na Inguchétia deixa 57 mortos; Putin promete destruir "terroristas"

Ataque tchetcheno mata dezenas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que os ataques supostamente realizados por rebeldes tchetchenos na Inguchétia, na madrugada de ontem, que mataram 57 pessoas, incluindo 47 agentes e policiais russos, mostraram que seu governo tem de intensificar a defesa da região.
Putin fez uma rápida visita à Inguchétia, república no sudoeste da Rússia próxima à Tchetchênia, horas depois que os "terroristas tchetchenos" atacaram um prédio do Ministério do Interior, delegacias e depósitos de armas em Nazran e em cidades vizinhas.
"Vejo que o governo não está fazendo o suficiente para defender essa república", declarou Putin. Antes, ele dissera em rede nacional de TV: "Eles [os guerrilheiros] têm de ser achados e destruídos. Os que forem detidos vivos devem ser entregues à Justiça".
Para analistas ouvidos pela Folha, embora sua popularidade ainda seja alta, Putin sofre pressão "de setores influentes da sociedade para pôr fim ao problema tchetcheno". O primeiro conflito na república secessionista ocorreu de 1994 a 1996, e os tchetchenos obtiveram certa autonomia.
"Entidades de defesa dos direitos dos militares, além de mães e de avós de soldados mortos, vêm pressionando Putin a cumprir sua promessa de campanha de pôr fim ao conflito no Cáucaso", disse Vladimir Kramnik, da Universidade Pública de São Petersburgo.
De fato, a determinação de Putin contra os tchetchenos foi uma das razões de sua chegada ao poder em 2000. Desde 2002, ademais, o ex-chefe da FSB (ex-KGB, a polícia secreta soviética) diz que o levante está controlado. Mais de 50 mil tchetchenos e 15 mil russos morreram na região, nos últimos dez anos, segundo entidades de defesa dos direitos humanos.
Abukar Kostoyev, secretário interino do Interior da Inguchétia, também foi morto nos ataques de ontem, ocorridos seis semanas depois do assassinato do líder tchetcheno pró-Moscou Ahmad Kadyrov. Ao menos 60 pessoas ficaram feridas antes que o prédio do Ministério do Interior fosse retomado pelas forças russas.
Um assessor de Aslan Maskhadov, o principal líder separatista tchetcheno, negou que seu grupo tenha planejado os ataques.
Autoridades afirmaram que três suspeitos (de nacionalidades diferentes) foram detidos. Para Mark Kramer, da Universidade Harvard (EUA), a insurgência tchetchena vem sofrendo cada vez mais influência de "extremistas islâmicos ligados a terroristas".
"No passado, os rebeldes queriam livrar-se da "ocupação" russa. Como seus esforços não surtiram efeito positivo, certos grupos acabaram aceitando uma aliança com extremistas estrangeiros, alguns ligados à Al Qaeda."
Desde o 11 de Setembro, Putin busca ligar a insurgência tchetchena ao terrorismo global.


Com agências internacionais


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