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Polônia cede e europeus fecham acordo
Governantes dos países da UE enfrentavam o bloqueio de Varsóvia nas negociações sobre texto que regulamentará bloco
Consenso foi anunciado às 4h30, após 36 horas de negociação; projeto para tratado deve substituir
uma Constituição européia
DA REDAÇÃO
Após uma maratona de 36
horas de debates quase ininterruptas, os 27 países-membros
da União Européia chegaram a
um acordo nesta madrugada
sobre o projeto de tratado que
regerá o funcionamento interno do bloco. Após a Polônia ceder, os governantes retomaram
as negociações e, às 4h30 em
Bruxelas (23h30 em Brasília),
anunciaram o consenso.
"Vou-lhes dar uma boa notícia", disse o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, a repórteres
em Bruxelas. "Acabamos de
chegar a um acordo sobre um
mandato bastante preciso para
um tratado simplificado."
"Estamos muito satisfeitos
com o que conseguimos alcançar nesta manhã", declarou Angela Merkel, a chanceler alemã,
que exerce a presidência rotativa do bloco, em entrevista coletiva. Minutos depois, ela receberia um buquê do presidente
da Comissão Européia, José
Manuel Durão Barroso, por seu
pulso firme e incansável na
condução das negociações.
A maior barreira para o acordo era a discordância polonesa
quanto à proposta que regulamentava o sistema de votação
nas múltiplas instâncias em
que a UE delibera. Atribuíam à
Alemanha a intenção de dominar os países menores por meio
da chamada "dupla maioria",
pela qual as decisões seriam tomadas se aprovadas por 55%
dos países, caso somassem 65%
da população do bloco.
O acordo prevê que o sistema
de votação entraria em vigor só
em 2014, em vez de 2009, podendo ser revertido até 2017. E
ainda: cinco países poderiam
bloquear qualquer decisão, para negar uma suposta "conspiração" dos países maiores.
O clima estava tenso entre
presidentes e premiês que negociavam desde às 18h quinta-feira. Duas horas antes de Varsóvia ceder, já na madrugada,
Merkel havia lançado um ultimato à delegação polonesa,
chefiada pelo presidente Lech
Kaczynski. Ameaçou prosseguir nas negociações, mas sem
a participação dele.
A alemã e o polonês reuniram-se ontem três vezes a porta fechadas. Com o aval da
França e do Reino Unido, a
chanceler fez concessões de peso, que o irmão gêmeo do presidente, o premiê Jaroslaw
Kaczynski, apressou-se em
desdenhar, em entrevista a
uma TV em Varsóvia.
Os irmãos Kaczynski chefiam uma coalizão conservadora e nacionalista. Enfrentar o
conjunto dos governantes europeus seria uma manobra com
bons dividendos eleitorais.
O premiê polonês atribuiu
anteontem o baixo peso demográfico de seu país às mortes
que a Alemanha provocou durante a Segunda Guerra Mundial, em argumentação ontem
criticada, entre outros, pelo
moderado Romano Prodi, chefe do governo italiano.
Pontos de acordo
O Reino Unido, do premiê
Tony Blair, opunha-se à criação
do cargo de ministro das Relações Exteriores do bloco. Ele
aceitou que o cargo fosse instituído, com a denominação de
"alto representante", que presidirá as reuniões dos chanceleres dos países membros.
Londres tampouco será signatário da Carta dos Direitos
Fundamentais, por acreditar
que ela interfere em sua soberania em questões como polícia
e legislação trabalhista.
Já Sarkozy, que parecia concordar com a integralidade do
texto, pediu e obteve de última
hora a supressão de uma expressão do preâmbulo, que definia a Europa como "um mercado interno em que a concorrência é livre e sem distorções".
Com agências internacionais
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