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Disputas internas reduzem o peso diplomático da UE
Bloco fica mais distante de adotar ação conjunta em questões internacionais
Divergências também reavivam divisão entre "velha" e "nova" Europa e diminuem solidariedade entre países-membros
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
As discussões internas da
União Européia têm sempre algo de bizantino. É o que ocorreu novamente, em Bruxelas,
durante a reunião de 27 presidentes ou primeiros-ministros
encarregados de aprovar um
"tratado", versão mais modesta
do projeto de Constituição que
franceses e holandeses rejeitaram em referendos em 2005.
Reino Unido e Polônia vestiram agora o chapéu dos fomentadores de cizânias. É o direito
deles. Mas desde que os europeus também saibam que a
ameaça de veto em questões de
detalhes enfraquece aquilo que
o bloco tem de mais fundamental: sua chance de se firmar como estrutura jurídica que fortaleça sua capacidade conjunta
de intervenção diplomática.
Minimalismo
Seria o caso de perguntar a
quem interessa uma Europa
"minimalista". Ela é desejada
pela Rússia, para tornar invertebrados a pressões os Estados
da UE que dependam de seu gás
e petróleo. Ela interessa a Washington, para evitar um esboço
de política externa conjunta,
que teria evitado a Tony Blair
de se lançar aos calcanhares de
Bush e invadir o Iraque em nome das armas de destruição em
massa que Saddam Hussein
não possuía.
Ela interessa ao Irã, com o
enfraquecimento de um bloco
que o pressiona há quatro anos
por uma visibilidade maior de
seu ambíguo programa nuclear. Ela interessa à China, que
enxerga a Europa como um loteamento de mercados que só
serão permeáveis caso atue o
mais dividido possível.
A integração européia completou meio século este ano. Do
Tratado de Roma até agora o
caminho foi mais de avanços
que recuos. A capotagem da
conferência dos governantes
em Bruxelas colocaria a UE em
funcionamento vegetativo.
Velha e nova
Com uma aliança mal-cimentada, seriam previsíveis
conflitos entre a "velha Europa" liderada por França e Alemanha e os países do Leste Europeu, que aderiram em 2004.
Também diminuiria sensivelmente a vontade política de
manter os fundos de solidariedade que transferem renda dos
mais ricos aos mais pobres.
São tantas as conseqüências
que parece grotesco um Lech
Kaczynski, presidente polonês,
transformar Bruxelas em cenário para o acerto de contas com
a Alemanha do 3º Reich -ela
não existe mais, felizmente.
Ou então um Tony Blair adocicando a boca dos eurocéticos
britânicos menos de uma semana antes de finalizar seu
mandato. Ou até mesmo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, obtendo a supressão de
uma expressão no preâmbulo
que valoriza a concorrência na
economia de mercado.
Uma Europa menor torna o
mundo mais fragmentado.
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