São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

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Disputas internas reduzem o peso diplomático da UE

Bloco fica mais distante de adotar ação conjunta em questões internacionais

Divergências também reavivam divisão entre "velha" e "nova" Europa e diminuem solidariedade entre países-membros

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

As discussões internas da União Européia têm sempre algo de bizantino. É o que ocorreu novamente, em Bruxelas, durante a reunião de 27 presidentes ou primeiros-ministros encarregados de aprovar um "tratado", versão mais modesta do projeto de Constituição que franceses e holandeses rejeitaram em referendos em 2005.
Reino Unido e Polônia vestiram agora o chapéu dos fomentadores de cizânias. É o direito deles. Mas desde que os europeus também saibam que a ameaça de veto em questões de detalhes enfraquece aquilo que o bloco tem de mais fundamental: sua chance de se firmar como estrutura jurídica que fortaleça sua capacidade conjunta de intervenção diplomática.

Minimalismo
Seria o caso de perguntar a quem interessa uma Europa "minimalista". Ela é desejada pela Rússia, para tornar invertebrados a pressões os Estados da UE que dependam de seu gás e petróleo. Ela interessa a Washington, para evitar um esboço de política externa conjunta, que teria evitado a Tony Blair de se lançar aos calcanhares de Bush e invadir o Iraque em nome das armas de destruição em massa que Saddam Hussein não possuía.
Ela interessa ao Irã, com o enfraquecimento de um bloco que o pressiona há quatro anos por uma visibilidade maior de seu ambíguo programa nuclear. Ela interessa à China, que enxerga a Europa como um loteamento de mercados que só serão permeáveis caso atue o mais dividido possível.
A integração européia completou meio século este ano. Do Tratado de Roma até agora o caminho foi mais de avanços que recuos. A capotagem da conferência dos governantes em Bruxelas colocaria a UE em funcionamento vegetativo.

Velha e nova
Com uma aliança mal-cimentada, seriam previsíveis conflitos entre a "velha Europa" liderada por França e Alemanha e os países do Leste Europeu, que aderiram em 2004. Também diminuiria sensivelmente a vontade política de manter os fundos de solidariedade que transferem renda dos mais ricos aos mais pobres.
São tantas as conseqüências que parece grotesco um Lech Kaczynski, presidente polonês, transformar Bruxelas em cenário para o acerto de contas com a Alemanha do 3º Reich -ela não existe mais, felizmente.
Ou então um Tony Blair adocicando a boca dos eurocéticos britânicos menos de uma semana antes de finalizar seu mandato. Ou até mesmo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, obtendo a supressão de uma expressão no preâmbulo que valoriza a concorrência na economia de mercado.
Uma Europa menor torna o mundo mais fragmentado.


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