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Escravidão chinesa vira escândalo
Cumplicidade de funcionários provinciais com exploração faz aumentar pressão sobre Pequim
Famílias de crianças seqüestradas para serem escravizadas em olarias lideraram movimento que desencadeou ação policial
DA ASSOCIATED PRESS, EM PEQUIM
A China anunciou mais detenções e um governador provincial pediu desculpas, enquanto o governo reforçava
seus esforços para tentar demonstrar que estava reagindo
ao crescente escândalo causado
por casos de trabalho escravo
em olarias e minas das Províncias de Henan e Shanxi, no centro do país.
A imprensa revelou que os líderes das quadrilhas de escravocratas estavam escondendo
as crianças operárias e cobrando resgates por sua libertação.
Muitas delas foram seqüestradas em estações de trens e vendidas por apenas 500 yuans
(US$ 65) a olarias ilegais.
O escândalo não perde o ímpeto. Com usuários de internet
e alguns veículos de mídia expressando indignação, o premiê Wen Jiabao pode sofrer
abalos em sua reputação como
defensor dos menos privilegiados, caso não leve a investigação adiante. Wen e o presidente
chinês, Hu Jintao, governam
sob o lema da "sociedade harmoniosa", que promete prioridade à redução das diferenças
entre ricos e pobres no país.
Shanxi e Henan são Províncias atrasadas quando comparadas com as regiões costeiras
da China, onde se concentrou o
desenvolvimento econômico
das últimas décadas.
Na manhã de ontem, a agência oficial de notícias Xinhua
reportou a detenção de dois
funcionários do serviço estatal
do trabalho, por cumplicidade
com os escravocratas das olarias de Shanxi. Os dois foram os
primeiros funcionários públicos detidos em conexão com as
acusações de que centenas de
crianças e adultos trabalham
como escravos nas olarias, em
jornadas prolongadas, sob condições precárias e sem pagamento algum.
Segundo a agência, os dois
funcionários são responsáveis
pelo seqüestro de um trabalhador menor de idade libertado
de uma olaria e que estava sendo transportado para casa. Eles
a seguir enviaram o menino a
uma outra olaria, onde uma vez
mais ele teve de trabalhar como
escravo, segundo a Xinhua.
O escândalo gerou um episódio extraordinário de autocrítica, esta semana, de parte de Yu
Youjun, governador de Shanxi.
A autocrítica surgiu durante
uma reunião de gabinete presidida na quarta-feira pelo premiê Wen, que ordenou um inquérito completo sobre o caso.
Ontem, o governador foi ainda mais franco: "Em nome do
governo da Província, peço perdão às vítimas e às suas famílias, bem como a todo o povo de
Shanxi", disse.
Desde que o caso irrompeu,
no mês passado, mais de 8.000
olarias e pequenas minas de
carvão em Shanxi e Henan foram alvo de batidas policiais,
com 591 trabalhadores libertados, entre os quais 51 crianças,
de acordo com a mídia estatal.
Cerca de 160 proprietários de
olarias suspeitos foram detidos
e um secretário do Partido Comunista em uma aldeia do condado de Hongtong, Shanxi, foi
expulso da agremiação depois
que seu filho foi descoberto
operando uma olaria onde havia 31 operários escravizados.
O governo do condado de
Hongtong despachou equipes a
12 cidades para entregar aos parentes das vítimas cartas em
que pede desculpas e promete
indenizações de 1.410 yuans
(US$ 184) por mês de trabalho
de cada operário escravo -valor três vezes superior ao do salário mínimo local.
O início das investigações foi
desencadeado por pais que percorreram as montanhas do sul
de Shanxi à procura de filhos
desaparecidos. Um grupo que
alega representar 400 pais fez
circular na internet uma carta
aberta na qual informava que
mil crianças estavam detidas
como escravos, e acusava funcionários do governo de ignorar ou obstruir suas buscas.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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