São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2008

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Oposição vê como último recurso ação africana

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Mesmo sem uma reação decisiva da comunidade africana até o momento, é na pressão dos vizinhos que aposta o opositor MDC para criar condições políticas de uma eleição justa no Zimbábue. O próprio partido, porém, parece não saber o que pode ser feito, e fez apelos por orientação externa.
"Não estamos desistindo. Queremos que a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral [SADC] e a União Africana intervenham e orientem os próximos passos. O povo já fez tudo o que podia, é hora de os líderes africanos nos ajudarem", disse à Folha o representante do MDC na África do Sul, Nqobizitha Mlilo.
Indagado sobre os riscos para o partido da suspensão da participação no segundo turno, Mlilo afirmou que "Mugabe declararia vitória de toda forma". "A violência atingiu nível sem precedentes. Hoje [ontem] há helicópteros e tropas por toda parte. Ficamos sem opções."
Apesar da confusão, o que o MDC tem claro é que Mugabe não poderá manter o poder por muito tempo sem o apoio dos vizinhos, principalmente devido ao colapso econômico do Zimbábue -sob inflação anual de centenas de milhares por cento ao ano, segundo o jornal "Financial Times".
E o MDC não descarta uma ação de força. "É preciso que a lei retorne ao Zimbábue, e, se isso significa enviar tropas de paz, estamos prontos", disse.
Analistas seguem na mesma linha. O centro de estudos International Crisis Group, em relatório do mês passado, diz que, "com ou sem segundo turno, negociações chefiadas por líderes africanos são essenciais para ajudar a convencer os militares [do Zimbábue] a entregar o poder, assim como para estabelecer os parâmetros para um governo de transição".
Mas a SADC, tradicionalmente favorável a princípios de soberania e não-intervenção, não se posicionou com determinação contra o regime zimbabuano. Os crescentes sinais de esperança provêm de governos individuais.
"O que está acontecendo no Zimbábue é uma vergonha tremenda para todos nós", afirmou o presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa. "Há muitas coisas ilegais no processo eleitoral (...). Seria escandaloso para a SADC continuar em silêncio." Tanzânia, Suazilândia e até Angola -cujo presidente está no poder há mais tempo do que Mugabe- também pediram à SADC maior envolvimento na crise.
O presidente da África do Sul, porém, mediador oficial da situação, continua a proteger Mugabe. Ontem, ele sugeriu que o MDC aceite um governo de coalizão liderado pelo ditador -o que o partido se recusa terminantemente a fazer. "Mugabe tem de sair. Esse é nosso limite", diz Mlilo.
De toda forma, Mugabe não terá um caminho fácil para se agarrar ao poder. O MDC denunciou que o país está, na verdade, sendo governado por uma junta militar. O governista Zanu-PF, apesar de controlar o aparato de segurança e instituições estatais, perdeu a maioria no Parlamento para o MDC, que recusa uma coalizão.
"As conseqüências da continuidade de Mugabe no poder serão catastróficas", disse o Crisis Group. "O declínio econômico irá se intensificar, com mais zimbabuanos fugindo do país, enquanto inflação, desemprego e sofrimento em massa crescem."


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