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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Hizbollah ainda controla bairro destruído em Beirute
Grupo xiita mantém "Estado dentro do Estado" e detém segurança na capital
Fotos do líder do Hizbollah estão por toda a parte; grupo pode sair fortalecido pela corrente gerada contra a ação violenta de Israel
DO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
Na entrada do distrito de Haret Hreik, principal reduto do
Hizbollah em Beirute e o mais
bombardeado da capital libanesa, um policial pede autorização para seguir caminho em
sua motocicleta. Um jovem
barbado, fuzil em punho, acena
positivamente. Nestas ruas desertas, que 11 dias atrás formavam um formigueiro humano,
a sensação de que o grupo xiita
mantém um "Estado dentro de
um Estado" é uma realidade.
Meio milhão de pessoas moravam nos distritos xiitas de
Haret Hreik, Ghobeiri e Shiyah
antes do início dos bombardeios israelenses. Agora, a área
de maior densidade populacional do Líbano parece uma cidade fantasma. Algumas de suas
ruas, sobretudo as que abrigavam os escritórios do Hizbollah, foram completamente
destruídas. Pedaços de concretos cobrem o chão, vergalhões
de ferro dos prédios estão expostos sob o sol quente e pertences de residentes se espalham por todo os lados.
Nasrallah
Nem todos deixaram a violência para trás. Além dos seguranças, que controlam tudo o
que acontece nos distritos, há
moradores que preferiram ficar. Para onde quer que se olhe
há imagens de Hassan Nasrallah, líder do Hizbollah. Fotos
do aiatolá Khomeini, líder da
Revolução Islâmica iraniana,
também são comuns. "Nasrallah é nosso exemplo de resistência", diz um homem de cerca de 50 anos, sentado numa
cadeira de plástico no meio dos
escombros. "Vamos ficar aqui e
dar uma lição aos israelenses."
Hassan Nasrallah é o homem
mais procurado pelos mísseis
israelenses, mas continua a
aparecer sorridente e aparentando calma na emissora de TV
do grupo, Al Manar. Há alguns
dias Israel anunciou ter atingido um abrigo subterrâneo onde
ele estaria, o que foi desmentido. Entre os jornalistas libaneses, a opinião é de que ele deixou Beirute no início da crise,
mas continua em (ou sob) território libanês.
Nas ruas amplas entre os distritos xiitas, grandes buracos
no asfalto, de cerca de 10 metros de diâmetro, mostram a
precisão dos ataques. Praticamente todos os cruzamentos
foram atingidos, dificultando o
tráfego e estilhaçando as janelas dos prédios próximos.
O cortejo diário de jornalistas estrangeiros, conduzidos
por taxistas que cobram até
US$ 100 por hora, é organizado
meticulosamente pelo Hizbollah. Ninguém entra sem coordenar a visita com alguém do
grupo. Um jovem começa a gritar para os jornalistas, conta
que perdeu vários parentes nos
ataques e amaldiçoa Israel, a
ONU e as potências ocidentais.
"Ninguém vê o que acontece
aqui? Nossos mortos não valem
nada?", diz ele, garantindo que
as vítimas são todas civis. Israel
garante que o Hizbollah esconde suas baixas.
Hizbollah fortalecido
Não há pesquisas de opinião
que ajudem a medir o atual nível de apoio ao grupo xiita.
Mesmo que houvesse, dificilmente elas refletiriam com fidelidade o que se passa na mente de uma população ainda fortemente marcada pelas divisões sectárias.
Há, é verdade, uma espécie
de senso comum indicando que
a reação maciça de Israel tornou difícil condenar o Hizbollah, mesmo para os não-xiitas.
"Para muitos libaneses a crise
tornou-se humanitária, mais
que política", diz Meris Lutz,
repórter do jornal "Daily Star",
onde cobre Beirute.
Na última semana, ela acompanhou principalmente o drama dos milhares de refugiados.
"O cálculo é de que, só em Beirute, haja 900 mil refugiados.
Nessas circunstâncias, qualquer país cria uma corrente
contra o agressor."
Isso quer dizer que o "Estado
dentro do Estado" sairá fortalecido? "Acho que sim, já que o
apoio ao grupo só cresceu, abafando o debate que havia no
país sobre o seu desarmamento", avalia Meris. "Além disso, é
bom lembrar que esse "Estado"
do Hizbollah não foi criado somente pela força, mas ocupando o vácuo deixado pelo governo libanês na área social, onde
o grupo sempre foi forte."
(MARCELO NINIO)
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