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Força pode derrotar as Farc, diz ministro
Segundo o chanceler da Colômbia, solução militar para o conflito com guerrilha "é mais fácil" do que um acordo de paz
Fernando Araújo minimiza resistências do Congresso americano a acordos com seu país e nega concessões para libertação de reféns
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Libertado do cativeiro das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) após
seis anos de seqüestro, o chanceler colombiano, Fernando
Araújo, é cético sobre a possibilidade de se chegar a um acordo
de paz com a guerrilha e aposta
no componente militar para
garantir a vitória e a libertação
de dezenas de outros reféns.
"A guerrilha que eu conheço
não tem compromisso com a
paz. Pude regressar à liberdade
graças a um esforço militar autorizado pelo governo", diz.
Em entrevista à Folha na
noite de anteontem, Araújo
disse estar "tomando nota" da
ajuda oferecida por países como Brasil e Venezuela, mas
alerta: "A pressão deve ser contra as Farc, que são os seqüestradores, e não contra o governo colombiano". Leia a seguir.
FOLHA - Após ter sido mantido refém por seis anos, o sr. realmente
crê que seja possível chegar a um
acordo de paz ou derrotar as Farc?
FERNANDO ARAÚJO - Creio que é
mais fácil derrotá-la que chegar
a um acordo de paz. Porque a
guerrilha que eu conheci não
tem nenhum compromisso
com a paz da Colômbia. São
guerrilhas que se originaram na
época da Guerra Fria, que se
formaram sob os princípios
marxistas da congregação de
todas as formas de luta e que
sempre interpretam qualquer
ato de generosidade do governo
colombiano como um ato de
fraqueza. Além disso, se financiam com o narcotráfico, que
produz uma rentabilidade muito alta, e essa riqueza faz borrar
a fronteira que poderia existir
entre sua antiga luta política e
seus atuais interesses econômicos. Se tornaram arrogantes,
são fanáticos. E é muito difícil
comunicar-se com fanáticos.
FOLHA - Até agora, a tentativa de
derrotar a guerrilha pela via militar
não funcionou.
ARAÚJO - [interrompendo]
Sim, funcionou. Fui testemunha durante seis anos de como
os terroristas das Farc foram
cedendo terreno militarmente.
Quando me seqüestraram havia naquela região duas frentes,
a 37 e a 35. Hoje elas são uma
só. Conheci mais de 150 guerrilheiros que me vigiaram em diferentes períodos. Garanto que
ao menos 60% deles estão
mortos, presos ou desmobilizados. E não foram substituídos,
porque as Farc não têm como
recrutar jovens onde atuam.
Estão, sim, enfraquecendo.
FOLHA - Para o sr. então a saída é
aumentar a ofensiva militar?
ARAÚJO - É o que estamos fazendo. Dentro do conceito de
Segurança Democrática [política de segurança do governo Álvaro Uribe], estamos fortalecendo o Exército mediante o
aumento do efetivo, da capacidade de inteligência, da modernização dos equipamentos e
também do respeito dos direitos humanos e da liberdade de
todos os colombianos. É diferente da teoria da segurança
nacional da época das ditaduras militares, que se baseava na
restrição das liberdades.
FOLHA - Como alcançar isso sem os
fundos do Plano Colômbia, que sofreram corte no Congresso dos EUA?
ARAÚJO - Recebemos fundos
importantes pelo Plano Colômbia, mas a cada dia somos
mais autônomos na solução de
nossas necessidades militares e
de todo tipo. Criamos um imposto no ano passado, pago pelas empresas com patrimônio
superior a US$ 1 milhão, que vai
nos permitir arrecadar nos próximos quatro anos aproximadamente US$ 4 bilhões, que vão
servir para o fortalecimento de
nossas forças militares.
FOLHA - Há uma forte pressão internacional pela libertação dos reféns das Farc. Essa pressão pode fazer Uribe negociar pontos que normalmente não aceitaria?
ARAÚJO - Tem havido grande
pressão, mas essa pressão deve
ser contra as Farc, que são os
seqüestradores, e não contra o
governo colombiano. Não existe nenhum suporte moral para
a ação terrorista das Farc. A Colômbia é uma democracia plena, em que todas as pessoas podem se manifestar com liberdade. Então não há motivo que
justifique que grupos violentos
tentem impor sua vontade contra a maioria dos colombianos.
FOLHA - A Colômbia sofreu uma
derrota importante ao não conseguir aprovar o Tratado de Livre Comércio no Congresso americano...
ARAÚJO - [interrompendo] Você está mal informada. Primeiro que não sofremos nenhuma
derrota ainda, porque o tema
não foi apresentado formalmente para votação no Congresso. Os congressistas democratas chegaram a um acordo
com o governo Bush para incluir nos tratados de livre comércio um marco geral que fixa
padrões em matéria trabalhista, ambiental e de propriedade
intelectual. Esse novo marco já
foi firmado entre o governo
Bush e a Colômbia e acabamos
de apresentá-lo ao Congresso
colombiano. Depois, Bush deve
colocá-lo para votação. Enquanto isso não ocorrer, não se
pode falar de derrota.
FOLHA - A demora na aprovação
teve algo a ver com a emergência do
escândalo da parapolítica?
ARAÚJO - Não há demora. Os
acordos do Peru e do Panamá
também não foram aprovados.
Que o tema da parapolítica tenha surgido no debate é natural. As forças discordantes
magnificam os problemas que
temos na Colômbia e diminuem nossos êxitos. Mas as
pessoas não se deixam enganar,
e a verdade vem à tona.
FOLHA - O que veio à tona foram as
evidências de vinculação de políticos, alguns aliados de Uribe, com paramilitares e da infiltração do Exército por narcotraficantes.
ARAÚJO - Todas essas coisas
saíram à luz pública pelo firme
compromisso do governo colombiano em que se conheça a
verdade e se castiguem os responsáveis pelos atos ilícitos. As
pessoas próximas a Uribe estão
sendo processadas pela Justiça
com o respaldo do governo.
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