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Crime castiga a maior favela de Caracas
Em visita acompanhada pela Folha, policiamento aparece insuficiente e hospital da região exibe precariedade
Há apenas 250 policiais monitorando município que abrange favela, onde moram cerca
de 600 mil pessoas
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Marco Hernández gemia
numa maca às 20h de sábado, 18 horas depois de ter levado cinco tiros em Caracas.
Dois deles que partiram seu
fêmur. A mãe, a tia e a irmã
dele esperavam dos médicos
do hospital Pérez de León a
lista de material de cirurgia.
Só comprando de gaze a
fios cirúrgicos era possível
aumentar as chances de Hernández, 27, desempregado,
ser operado na unidade.
"Viemos aqui, não nos aceitaram. Rodamos dois hospitais e nos devolveram para
cá", conta a irmã, Carolina.
Chega a ser um clichê em
Caracas descrever o hospital
municipal Pérez de León,
que atende o Petare, o maior
complexo de favelas do distrito metropolitano, como
"hospital de guerra". É para
lá que vão os feridos a bala e
arma branca das redondezas, num fluxo que aumenta
nos fins de semana.
O local foi uma das paradas da patrulha policial do
município de Sucre, um dos
cinco que formam Caracas,
que a Folha acompanhou
anteontem.
Hernández era um dos nove feridos que chegaram ao
hospital desde sexta-feira,
num final de semana até então considerado tranquilo.
Além da falta de insumos,
o elevador que leva ao centro
cirúrgico no segundo andar
"às vezes" funciona. E a precariedade do hospital é tema
de embate feroz entre Hugo
Chávez e o prefeito opositor
do município, Carlos Oscaríz, que acusa o primeiro de
negar-lhe verbas.
"Até agora temos quatro
mortos desde sexta. A coisa
se complica quando é metade ou fim do mês, quando sai
o pagamento", diz Pausides
Benítez, 41, chefe da Divisão
de Patrulha da Polícia. Sua
jornada terminaria às 6h da
manhã de domingo somando o dobro de mortos: oito.
A Folha o viu desmantelar
ao menos duas festas "irregulares", frustrado ante o enxame de garotos em motos,
que zuniam nas ruelas da favela que começa num morro,
como no Rio, e se cola às demais dos arredores de Sucre.
"Não temos como parar todo
mundo, mas 75% dos crimes
são feitos por "motorizados"."
É da responsabilidade de
Benítez monitorar o município, que inclui Petare, com
250 homens. Ele diz que seu
efetivo dobrou em um ano,
com o governo oposicionista.
"Ainda assim, precisava de
mais 200 policiais."
A área responde por cerca
de 30% dos assassinatos na
cidade, com marca em 2009
de 94 para cada 100 mil habitantes -menos que em 2008.
VIOLÊNCIA
A irmã de Hernández tem
um problema adicional. Carolina está preocupada porque os que atiraram no desempregado prometeram segui-lo para matá-lo.
Não é uma preocupação
em vão. Neste mês, os médicos do Pérez de León pararam para protestar contra a
insegurança. E os casos vão
de tentativa de estupro a roubo no estacionamento.
"Rezo toda vez que meu filho tem ataque de asma porque não sei se chego viva a
esse hospital. Meu irmão ter
sido baleado é um pesadelo,
mas eu já vivia com medo todos os dias", continua Carolina, 34, que diz que votará na
oposição nas eleições legislativas de 26 de setembro e culpa Chávez pela falta de estrutura do hospital municipal.
Não só Carolina exibe a
classificação. Petare, antes
um bastião chavista, impôs
derrotas a Chávez em referendos em 2007 e 2009.
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