São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Governo enfrenta violência com combate à pobreza

DE CARACAS

Uma das rotinas das patrulhas policiais nas favelas do Petare, em Caracas, é acabar com as chamadas "festas irregulares". No sábado à noite, a escolhida foi uma no labiríntico setor Petare 2.
Julia Muñoz, 63, protesta ao ver a caixa de cervejas ser levada pela polícia. Dizia que a festa era para arrecadar dinheiro para reforçar a segurança das casas.
Em volta dela, adultos, mas especialmente adolescentes, também protestavam. "Quando tem morte e roubo, cadê a polícia? Só querem acabar com a nossa festa", disse um, de 16 anos, que não quis revelar o nome.
Os policiais não mostravam qualquer sensibilidade à reclamação. Repetiam que música alta e bebida produziriam mais problemas.
Jomer Batista, 26, teve as caixas de som apreendidas. "Se é perigoso? É, mas eu vivo disso, faço várias festas por aqui. Não sei o que vou fazer agora", diz ele.
Batista reclama que tanto faz festa ou não. Conta que o irmão dele voltava do trabalho quando foi morto a tiros não longe dali há um ano e meio. "O presidente tem boas intenções, mas ele não cuidou do tema da segurança. Não voto mais no governo."
Os especialistas em violência venezuelanos argumentam que um dos fatores para a explosão dos índices de criminalidade é justamente, como ocorre também em toda a região, a falta de perspectivas de integração social.
O governo Chávez é criticado por não priorizar o assunto e defender que o maior trabalho do Estado na questão é diminuir a pobreza -que recuou de 50,5%, em 1998, para 33,4%, dez anos depois.
Na semana que passou, ele disse ainda que os delinquentes de hoje foram "as crianças de rua" dos governos anteriores.
"É muito mais complexo fazer a inclusão dos jovens. Para eles não basta vender comida barata como no Mercal [a rede de alimentos subsidiados pelo governo]. Eles precisam de inclusão simbólica", diz o criminologista Andrés Antillano, da Universidade Central da Venezuela.


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