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EUA são a primeira potência capaz de atacar qualquer ponto do planeta
RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha
Os ataques americanos a alvos
no Sudão e no Afeganistão são o
mais recente exemplo de uma nova, inédita, e brutal realidade. Pela
primeira vez na história, uma potência é capaz de intervir militarmente em qualquer ponto do planeta, com um mínimo de riscos
para suas forças.
Já existe até uma teorização em
torno dessa nova hegemonia. Talvez o melhor exemplo seja o livro
"The Future of War - Power,
Technology & American World
Dominance in the 21st Century"
("O Futuro da Guerra - Poder,
Tecnologia e a Dominação Mundial Americana no Século 21"),
por George Friedman e Meredith
Friedman.
O título é revelador do triunfalismo que tomou conta de parte da
intelectualidade mais conservadora nos EUA depois que o país
"venceu" a Guerra Fria com o
comunismo soviético.
O ataque aos supostos terroristas islâmicos segue o figurino da
nova era. Foram empregados mísseis de cruzeiro Tomahawk, lançados de navios de superfície e de
submarinos. Voam o mais próximo possível da superfície e se dirigem ao alvo graças a complexos
sistemas de guiagem eletrônicos.
Raros são os países dotados de defesas antiaéreas capazes de abatê-los.
Curiosamente, nos anos 80, antes do espetacular e repentino colapso da União Soviética, e quando os tigres asiáticos ainda tinham
garras afiadas, era comum achar
que o século 21 seria o "século do
Pacífico" e de uma inexorável decadência americana.
Autores como o historiador Paul
Kennedy falavam do risco para as
potências que gastavam mais com
armas do que sua economia poderia sustentar. Isso aconteceu com a
Espanha de Felipe 2º, no século 17,
e com o Reino Unido neste. Achava-se que o próximo da lista seria
os EUA. Terminou sendo apenas a
URSS.
Desde o final da Segunda Guerra
Mundial que o planeta convive
com uma esmagadora superioridade militar dos EUA. Mas, no final do século, as novas tecnologias
bélicas permitem aos americanos
exercer esse poder com muito
mais facilidade.
Essa é a tese do livro dos Friedman, que acham que as "munições guiadas de precisão" -como os mísseis Tomahawk- vão
revolucionar a guerra em prol do
país tecnologicamente mais avançado, os EUA.
Para eles, hoje vive-se uma fase
de transição na arte da guerra. Já
um autor como Eliot Cohen, que
participou de um estudo oficial
sobre o impacto da aviação na
Guerra do Golfo, acredita que ainda se está longe de uma "revolução".
Vigilância do céu
O fato é que, mesmo hoje, satélites de espionagem vigiam qualquer metro quadrado da superfície da Terra que for de interesse
dos EUA. Os mais sofisticados dos
satélites americanos têm pelo menos essa "resolução", isto é, a capacidade de distinguir elementos
na superfície com apenas um metro de comprimento.
E aquilo que eles sabem existir,
eles podem atingir.
A força que melhor simboliza o
papel de polícia do mundo dos
americanos é sua Marinha. São 12
porta-aviões grandes, cada um
com mais poder de fogo que a
maior parte das forças aéreas do
planeta. São 73 submarinos nucleares silenciosos e letais, armados com torpedos, mísseis antinavio e os já famosos Tomahawk.
Grupos de navios nucleados em
um porta-aviões e composto de
vários outros para escolta -cruzadores, destróieres, fragatas-
visivelmente estão espalhados por
todos os oceanos, prontos a intervir em qualquer país.
Além deles, há os invisíveis submarinos. A qualquer momento,
um míssil pode sair do fundo do
mar, ligar seu motor e se dirigir
para um alvo selecionado pelo governo americano.
Essa "guerra de apertar botões"
é feita sob medida para a opinião
pública dos EUA. Longe está a
Guerra do Vietnã, quando soldados de infantaria tinham de procurar guerrilheiros em pântanos.
Hoje, a tolerância quanto a perdas em combate está cada vez menor. Mas o governo dos EUA volta
e meia acha que a intervenção militar é uma necessidade.
A solução é uma política de defesa "pós-heróica", na opinião do
analista Edward Luttwak: procurar meios de fazer guerra que minimizem as baixas.
Tradicionalmente, esse era o domínio da aviação. Lançar bombas
mata menos gente do que invadir
com tropas terrestres. Mas hoje o
"pós-heroísmo" vai ainda além:
os mísseis guiados substituem os
aviões, pois cada vez mais são capazes de atingir os alvos com a
mesma precisão.
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