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CATÁSTROFE HUMANITÁRIA
Organização budista contesta relatos de que abastecimento de comida no país está melhorando
Fome leva norte-coreanos para a China
RICHARD LLOYD PARRY
do "The Independent", em Seul
Numa tarde chuvosa de junho,
próximo à cidade chinesa de
Changbai, um grupo de viajantes
encontrou uma mulher morrendo
de fome. Ela estava acompanhada
de duas mulheres e duas crianças,
todas refugiadas da Coréia do
Norte, situada a poucos quilômetros, do outro lado do rio Yalu.
A mulher não comia direito havia semanas. Suas pernas estavam
esqueléticas. Seu seios tinham sumido e um tumor rosa despontava
em sua nuca. Parecia ser de
meia-idade, mas disse ter 30 anos.
"Essa mulher doente perdeu a
mãe, o pai, o marido e duas crianças", disse o monge budista
sul-coreano Pomnyun, um dos
viajantes que a encontrou.
O diário do monge, que pertence
ao Movimento Budista Coreano
de Compartilhamento (MBCC),
denuncia a tragédia da fome norte-coreana. "Uma incrível tragédia está acontecendo na Coréia do
Norte. Milhões já morreram por
falta de comida. Eles estão morrendo em silêncio. Temos de acabar com isso de qualquer maneira", escreveu Pomnyun.
Apesar do trabalho dessa organização, há quem negue a existência
de vítimas da fome como aquela
jovem. Uma comissão da União
Européia visitou a Coréia do Norte
em maio e não relatou nenhum sinal de fome.
O grupo humanitário Médicos
do Mundo, que afirma ter ido ao
país no mês passado, diz que seus
integrantes "não sentiram que
haja uma total catástrofe".
A Coréia do Norte sempre foi
um país misterioso. De um lado,
há grupos que vêem a situação como difícil, mas não crítica. Do outro, associações como a dos budistas sul-coreanos acreditam que o
país vive uma tragédia de proporções inimagináveis, acobertada
pelo governo comunista e ignorada no exterior.
Desde que o quadro de falta de
alimentos se agravou, em 1995,
muitos estrangeiros tiveram permissão de visitar a Coréia do Norte
a até de viver em Pyongyang. Mas
sua liberdade de movimento é
controlada.
O grupo humanitário World Vision estima que entre 500 mil e 2
milhões de pessoas tenham morrido entre janeiro e agosto do ano
passado. Na semana passada, uma
delegação do Congresso dos EUA
voltou da Coréia do Norte apresentando cálculos que diziam que
entre 300 mil e 800 mil morreram
por ano, vítimas da crise, desde 95.
Impedida de atuar dentro das
fronteiras do regime comunista, a
organização do monge budista escolheu o melhor lugar fora do país
-a área de fronteira com a China,
local que sempre teve o mais próximo contato com os mistérios do
país vizinho.
Desde setembro de 97, o MBCC
mantém uma equipe de pesquisadores na região, que já entrevistou
cerca de 1.500 refugiados norte-coreanos que conseguiram
atravessar clandestinamente a
fronteira e chegar a solo chinês.
As conclusões do MBCC revelam
um quadro horrível de um país
que sistematicamente desistiu de
alimentar sua própria população.
Desde 1992, o sistema coletivo de
distribuição de alimentos parece
ter falido. Á exceção de esporádicas distribuições de arroz, as famílias tinham de se virar sozinhas.
Cerca de 40% dos refugiados disseram ter comido raízes ou a casca
de árvores. Escolas e hospitais não
têm combustível nem medicamentos adequados.
Aqueles que conseguem chegar à
China ainda têm o desafio de despistar os controles de fronteira.
Muitos morrem afogados na travessia a nado. Outros são levados
pelas tropas chinesas de volta à
Coréia do Norte, onde são mandados para campos de detenção.
Tradução de
Marcelo Starobinas
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