São Paulo, Quinta-feira, 23 de Setembro de 1999
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COMENTÁRIO

Economia dos EUA lucra com cigarros

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

A decisão do governo Clinton de abrir uma nova ofensiva contra a indústria do tabaco revela a força política do movimento cultural contra o cigarro nos EUA.
Todos os estudos recentes sobre a relação custo-benefício do tabagismo revelam que as vantagens do fumo (geração de empregos, receita fiscal, aumento de divisas) ocorrem em nível macro, ou seja, favorecem o Estado ou a economia como um todo.
Ao contrário, os prejuízos incorrem apenas sobre as microentidades, ou seja, o consumidor.
Os produtores acusam esses estudos de ignorarem as vantagens (reais ou percebidas) que o fumante tem quando usa o produto. Por mais irracional que pareça, é claro que o usuário do cigarro acha que tem ganho ao fumar.
Mas a pressão dos que não fumam tem sido tão esmagadora que o Estado se viu levado a mover uma campanha que se assemelha a uma guerra santa. As consequências políticas devem ser boas, caso contrário não haveria a unanimidade que há.
As econômicas são incertas. Os EUA lideram a exportação tanto da matéria-prima quanto dos produtos industrializados de tabaco, com 28% dos mercados.
O fato de o custo do tratamento dos fumantes ser largamente compensado, em termos macroeconômicos, pelo que o Estado não gasta porque eles morrem cedo não funciona como argumento.
Nem a possibilidade de desemprego em massa nos Estados que têm no tabaco uma de suas principais fontes de receita.
O contra-argumento é que os trabalhadores do tabaco vão ser realocados em outras atividades.
Por tudo isso, as empresas produtoras de cigarro já vêm, há muito tempo, diversificando suas próprias áreas de atuação. Embora lutem para manter o negócio, sabem que ele não tem salvação.



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