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Chirac descarta vetar nova resolução
ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente da França, Jacques
Chirac, insiste em que haja uma
rápida entrega de poder aos iraquianos, mas admite que seu país
só vetaria o novo projeto de resolução americano sobre o Iraque se
ele se fosse "uma provocação".
Leia a seguir sua entrevista.
Pergunta - Se o princípio da entrega imediata de soberania aos
iraquianos não for incluído na resolução, a França se oporá a ela?
Jacques Chirac - Não temos a intenção de nos opor a ela. Se nos
opusermos à resolução, isso significará votar contra. Ou seja, fazer
uso do veto. Não é isso o que eu
tenho em mente. A resolução teria de ser uma provocação, e não é
disso que estamos falando no momento. Poderemos nos abster.
Para que aprovemos o texto, ele
precisará ter uma visão política
clara a longo prazo e um papel-chave para a ONU. Uma visão política clara é uma que começa pela
definição do prazo máximo necessário para a transferência de
soberania aos iraquianos e define
um cronograma para a transferência das responsabilidades.
Pergunta - Quando o sr. fala em
transferir a soberania, isso significa uma transferência simbólica?
Chirac - O mais importante que
precisa ser feito, e cabe à comunidade internacional e à ONU decidir, é dizer à população iraquiana:
""Vamos transferir sua soberania a
vocês". Como isso será feito? Veremos mais tarde.
Pergunta - A transferência imediata de soberania significa que,
após a adoção da resolução, podemos pensar no período de um mês?
Chirac - Não falemos sobre um
prazo máximo, pois isso é muito
difícil. A soberania precisa ser
transferida aos iraquianos. Hoje
isso quer dizer às instituições governamentais existentes. Elas não
são muito boas, mas estão lá. Eis o
princípio. Partindo dele, vamos
discutir o restante.
Pergunta - A França enviaria soldados ao Iraque?
Chirac - Estamos falando em
treinamento, não em enviar tropas ao Iraque. Quando a soberania tiver sido transferida aos iraquianos e a abordagem política
for privilegiada, poderemos fazer
o que fazemos no Afeganistão, dependendo de maneiras que poderiam ser discutidas com outros.
Pergunta - Nos EUA, há colunistas
que dizem que a França já deixou
de ser aliada dos EUA ou até que a
França já se tornou inimiga dos
EUA. O que o sr. pensa disso?
Chirac - Sou totalmente imune às
coisas que leio na imprensa. Na
imprensa francesa, venho lendo
tudo e o contrário de tudo sendo
expresso com grande autoridade.
Isso me entristece, já que demonstra uma grande incompetência no pensar e a incapacidade
de compreender a realidade.
Pergunta - As Forças Armadas
francesas estariam preparadas para enviar soldados ao Iraque?
Chirac - Não há possibilidade de
a França enviar soldados ao Iraque. É claro que tudo pode mudar. Não tenho bola de cristal.
Mas, por ora, essa é a posição da
França e a de vários países. Não
estamos sós. Somos majoritários.
Pergunta - Com a entrada de novos países, o sr. vê a Europa dividida ou acha que será encontrado um
método para gerir uma Europa feita de países bastante diferentes?
Chirac - A Europa não é uma auto-estrada na qual todos podem
se locomover em alta velocidade.
É uma trilha montanhosa, íngreme e difícil de ser percorrida. Mas
nunca refazemos o caminho já
percorrido. Sempre avançamos
nesse caminho. E por um motivo
simples: é inevitável. E, no fundo,
todos os europeus sabem que não
existe outra alternativa.
Tradução de Clara Allain
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