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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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Chirac descarta vetar nova resolução

ELAINE SCIOLINO
DO "NEW YORK TIMES"

O presidente da França, Jacques Chirac, insiste em que haja uma rápida entrega de poder aos iraquianos, mas admite que seu país só vetaria o novo projeto de resolução americano sobre o Iraque se ele se fosse "uma provocação".
Leia a seguir sua entrevista.
 

Pergunta - Se o princípio da entrega imediata de soberania aos iraquianos não for incluído na resolução, a França se oporá a ela?
Jacques Chirac -
Não temos a intenção de nos opor a ela. Se nos opusermos à resolução, isso significará votar contra. Ou seja, fazer uso do veto. Não é isso o que eu tenho em mente. A resolução teria de ser uma provocação, e não é disso que estamos falando no momento. Poderemos nos abster.
Para que aprovemos o texto, ele precisará ter uma visão política clara a longo prazo e um papel-chave para a ONU. Uma visão política clara é uma que começa pela definição do prazo máximo necessário para a transferência de soberania aos iraquianos e define um cronograma para a transferência das responsabilidades.

Pergunta - Quando o sr. fala em transferir a soberania, isso significa uma transferência simbólica?
Chirac -
O mais importante que precisa ser feito, e cabe à comunidade internacional e à ONU decidir, é dizer à população iraquiana: ""Vamos transferir sua soberania a vocês". Como isso será feito? Veremos mais tarde.

Pergunta - A transferência imediata de soberania significa que, após a adoção da resolução, podemos pensar no período de um mês?
Chirac -
Não falemos sobre um prazo máximo, pois isso é muito difícil. A soberania precisa ser transferida aos iraquianos. Hoje isso quer dizer às instituições governamentais existentes. Elas não são muito boas, mas estão lá. Eis o princípio. Partindo dele, vamos discutir o restante.

Pergunta - A França enviaria soldados ao Iraque?
Chirac -
Estamos falando em treinamento, não em enviar tropas ao Iraque. Quando a soberania tiver sido transferida aos iraquianos e a abordagem política for privilegiada, poderemos fazer o que fazemos no Afeganistão, dependendo de maneiras que poderiam ser discutidas com outros.

Pergunta - Nos EUA, há colunistas que dizem que a França já deixou de ser aliada dos EUA ou até que a França já se tornou inimiga dos EUA. O que o sr. pensa disso?
Chirac -
Sou totalmente imune às coisas que leio na imprensa. Na imprensa francesa, venho lendo tudo e o contrário de tudo sendo expresso com grande autoridade. Isso me entristece, já que demonstra uma grande incompetência no pensar e a incapacidade de compreender a realidade.

Pergunta - As Forças Armadas francesas estariam preparadas para enviar soldados ao Iraque?
Chirac -
Não há possibilidade de a França enviar soldados ao Iraque. É claro que tudo pode mudar. Não tenho bola de cristal. Mas, por ora, essa é a posição da França e a de vários países. Não estamos sós. Somos majoritários.

Pergunta - Com a entrada de novos países, o sr. vê a Europa dividida ou acha que será encontrado um método para gerir uma Europa feita de países bastante diferentes?
Chirac -
A Europa não é uma auto-estrada na qual todos podem se locomover em alta velocidade. É uma trilha montanhosa, íngreme e difícil de ser percorrida. Mas nunca refazemos o caminho já percorrido. Sempre avançamos nesse caminho. E por um motivo simples: é inevitável. E, no fundo, todos os europeus sabem que não existe outra alternativa.


Tradução de Clara Allain


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