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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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EPIDEMIA

Na região subsaariana, são atendidos só 50 mil dos 4,1 milhões que precisam dos remédios; ONU cobra ação geral

Droga anti-Aids só chega a 1% na África

DA REDAÇÃO

Só 1% dos africanos que precisam de tratamento contra a AIDS recebem os remédios, segundo relatório divulgado ontem pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pela entidade Médicos Sem Fronteiras. No mesmo dia, uma sessão da Assembléia Geral da ONU foi dedicada à doença.
O documento conclamou os países em desenvolvimento a tornar os medicamentos mais acessíveis produzindo suas próprias versões genéricas ou aprovando leis para facilitar a importação.
"Ainda é um grande desafio para os países se envolver na facilitação do acesso aos remédios e por um custo baixo e com qualidade", afirmou a coordenadora do estudo, Sophie-Marie Scouflaire, durante a Conferência sobre Aids e Doenças Sexualmente Transmissíveis na África, que acontece no Quênia. "É possível fornecer o tratamento por menos de US$ 1 ao dia (...) quando há uma política agressiva no país", acrescentou.
A indústria farmacêutica, que também apresentou ontem um relatório na ONU, estimou que ao menos 76,3 mil africanos receberam em junho os medicamentos contra a Aids a preços reduzidos provenientes de seis fabricantes. Na África subsaariana, pelo estuda OMS e dos Médicos Sem Fronteiras, só 50 mil de 4,1 milhões têm o tratamento do qual precisam.
A organização Médicos Sem Fronteiras afirmou que o custo médio do genérico mais barato é de cerca de US$ 300 por ano. Na maioria dos países africanos, mais da metade da população sobrevive com menos de US$ 1 ao dia.
Segundo estimativa do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids), 38,6 milhões de adultos viviam com o vírus da doença no mundo ao final de 2002, dos quais 29,4 milhões estavam na África subsaariana.
Em alguns países africanos, a expectativa de vida caiu para 35 anos por causa da Aids. "Os efeitos na África estão acabando com décadas de esforços para o desenvolvimento", avaliou o Unaids em relatório divulgado anteontem.
O enviado especial da ONU para a Aids na África, Stephen Lewis, criticou os EUA e seus aliados por gastarem mais com a guerra contra o terrorismo do que com o combate à epidemia da doença.
Segundo o relatório do Unaids, há um déficit de US$ 3 bilhões nos fundos necessários para a África subsaariana. Lewis avaliou ainda que os países africanos também precisam se empenhar mais.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, fez coro, na sessão da entidade sobre a Aids, com a cobrança por mais esforços contra a doença. De acordo com ele, há mais dinheiro hoje para o combate e remédios mais baratos, só que a evolução da epidemia é maior do que os esforços contra ela.
Annan afirmou que o mundo está muito longe das metas fixadas num encontro realizado há três anos. Por esses objetivos, 3 milhões de pessoas deveriam estar recebendo tratamento contra a Aids em 2005 nos países em desenvolvimento. Só 300 mil têm acesso hoje aos medicamentos, apesar de a ONU estimar que até 6 milhões de pessoas precisem.
"Nós não podemos aceitar que algo aconteceu para nos forçar a recuar em relação a Aids. Algo mais sempre vai surgir", declarou Annan. O Brasil é o único país em desenvolvimento que fornece tratamento contra a Aids para toda sua população que necessita.
Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, o país que lidera os gastos mundiais contra o terrorismo, afirmou na sessão da ONU que a Aids é mais devastadora do que qualquer ataque terrorista.


Com agências internacionais

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