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São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2003

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FMI e Banco Mundial associam pobreza a terror no Oriente Médio

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial (Bird) disseram, em seu encontro anual, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que o Oriente Médio e o norte da África estão se tornando uma "bomba-relógio", tendendo a aumentar o incentivo ao terrorismo em toda a região.
Na base do problema, segundo o FMI, estão uma das maiores taxas de desemprego do mundo e a concentração de fundos nas mãos de Estados que não buscam a diversificação de suas economias.
Os países do Oriente Médio e do norte da África têm hoje uma taxa de desemprego superior a 15%, atingindo uma média de 30% entre as pessoas mais jovens. Nos territórios palestinos, todos os indicadores econômicos despencaram nos últimos três anos, e o desemprego saltou de 10% em 2000 para mais de 40% hoje. Na Síria, a taxa de desemprego entre os jovens atinge 73%.
Projeções do Banco Mundial indicam que a atual força de trabalho em toda a região, de 100 milhões de pessoas (das quais só 85 milhões têm emprego), vai aumentar para 146 milhões em 2010, atingindo 185 milhões em 2020. Seria preciso quase dobrar, em 20 anos, o atual número de empregos para contornar o problema.
Horst Koehler, diretor-gerente do FMI, cujo principal sócio são os EUA, admitiu, em Dubai, o elo entre a falta de oportunidades e o terrorismo. "O crescimento é a maior força contra a pobreza e contra elementos de instabilidade, como o terrorismo", afirmou.
Em um amplo relatório sobre a região, o FMI responsabiliza os governos locais pelo fraco desempenho, originado na concentração de poder econômico nas mãos de autoridades oficiais. A economia dos países ricos em petróleo é pouco diversificada, e a região como um todo, segundo o FMI, oferece uma série de obstáculos para a criação de negócios privados e empregos.
Os territórios palestinos apresentam o quadro mais sombrio. O Banco Mundial estima que o PIB (total de riquezas) da região caiu 38% entre 1999 e 2002. Com um crescimento populacional de 4,4% ao ano, a renda per capita da região hoje equivale à metade da obtida há três anos (US$ 900 ao ano hoje, contra US$ 1,750 em 1999). A taxa de desemprego média atual, de 40%, ultrapassa os 75% em cidades como Jenin.
Na base do desemprego, aponta o Banco Mundial, estão as restrições impostas à livre circulação de palestinos na região. Antes do acirramento dos recentes conflitos entre palestinos e israelenses, o número de árabes entrando e saindo de Israel para trabalhar ou para outras atividades caiu de 128 mil ao dia para 49 mil.
O presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, afirma que a instituição tem dado a "sua contribuição" para tentar reduzir os problemas. "Mas a situação é muito ruim neste momento, e temos pouca influência", disse.


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