São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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Nasrallah comanda ato da "vitória divina" em Beirute

Para líder, Hizbollah está mais forte após guerra com Israel; israelenses vêem afronta

Em comício com centenas de milhares, radical afirma que não haverá desarmamento enquanto o governo "fraco" de Siniora estiver no poder

DA REDAÇÃO

Em sua primeira aparição pública em cerca de dois meses, o líder do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, comandou uma marcha pela "vitória divina" contra Israel que atraiu centenas de milhares pelas ruas do sul de Beirute.
Em seu discurso, Nasrallah disse que o grupo radical xiita ainda possui mais de 20 mil foguetes e está mais forte do que antes do início da guerra no Líbano, em 12 de julho.
Afirmou também que o Hizbollah nunca será desarmado à força e defendeu mudanças no "fraco" governo libanês, hoje liderado pelo premiê Fouad Siniora e apoiado pelos EUA.
"Conseguimos uma vitória divina, histórica e estratégica. A resistência hoje, prestem atenção, tem mais de 20 mil foguetes", disse Nasrallah, cercado por guarda-costas, a seus simpatizantes -segundo a agência de notícias Associated Press, 800 mil pessoas.
"Ela [a resistência] recuperou toda a sua capacidade militar e de organização. Está mais forte do que era antes de 12 de julho, mais forte do que nunca", afirmou.
"Não há Exército no mundo que possa nos forçar a baixar as armas das nossas mãos, do nosso controle", acrescentou.
A estimativa de Nasrallah sobre o arsenal do Hizbollah é cinco vezes maior do que o total de foguetes disparado contra território israelense durante os 34 dias da guerra.
O conflito deixou cerca de 1.200 mortos no território libanês, a maioria civis. Do lado israelense, foram quase 160 mortos, a maioria soldados. Tanto Israel quanto o Hizbollah proclamaram sua vitória na guerra.
O líder do grupo libanês afirmou também que qualquer medida adotada para impedir seu rearmamento terá pouco impacto, e alertou a força de paz internacional enviada pela ONU ao sul do Líbano para que evite confrontar o Hizbollah.
"Sua missão não é espionar ou desarmar o Hizbollah", disse. "Eu lhes digo: bloqueiem as fronteiras, os mares e os céus -isso não enfraquecerá a vontade da resistência ou as armas da resistência."

"Cuspida na cara"
A manifestação, além de uma demonstração do amplo apoio popular ao Hizbollah, foi um gesto de desafio não apenas a Israel, mas ao governo Siniora.
"O governo atual é incapaz de defender o povo libanês ou de reconstruir ou unificar o Líbano", disse Nasrallah. "A construção de um Estado capaz, justo e forte começa primeiro com o estabelecimento de um governo de união nacional. Esse é nosso novo projeto, e vamos trabalhar com toda a nossa força no próximo estágio", seguiu.
"Quando tivermos construído um Estado justo e forte que seja capaz de proteger a nação e seus cidadãos, facilmente acharemos uma solução honrosa para a resistência e suas armas", finalizou.
Suas declarações repercutiram entre lideranças israelenses e libanesas.
"A comunidade internacional não pode agüentar esse extremista financiado pelo Irã cuspir na cara da comunidade organizada de nações", afirmou o porta-voz da Chancelaria israelense, Mark Regev.
Sobre o arsenal, Regev disse que, pela resolução do cessar-fogo, o Hizbollah "não deveria ter nenhum foguete". A resolução, porém, não dá à força de paz a atribuição de desarmar o grupo xiita, função também rejeitada pelo Exército libanês.
O ex-presidente libanês Amin Gemayel (1982-88) disse que a fala de Nasrallah é "perigosa". "Ele está relacionando o desarmamento do Hizbollah a mudanças drásticas no governo libanês", disse Gemayel.

"Grande homem"
Nasrallah também agradeceu ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que na última terça-feira criticou a política dos EUA para o Oriente Médio em seu discurso à Assembléia Geral da ONU, em Nova York.
Na ocasião, Chávez chamou George W. Bush de "diabo" e disse que a tribuna "ainda cheirava a enxofre" após o discurso feito na véspera pelo presidente norte-americano.
"Graças à sua resistência e à sua firmeza, um grande homem como Chávez foi capaz de dizer o que disse na Assembléia Geral da ONU", afirmou o libanês.


Com agências internacionais

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