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Nasrallah comanda ato da "vitória divina" em Beirute
Para líder, Hizbollah está mais forte após guerra com Israel; israelenses vêem afronta
Em comício com centenas de milhares, radical afirma que não haverá desarmamento enquanto o governo "fraco" de Siniora estiver no poder
DA REDAÇÃO
Em sua primeira aparição
pública em cerca de dois meses,
o líder do Hizbollah, xeque
Hassan Nasrallah, comandou
uma marcha pela "vitória divina" contra Israel que atraiu
centenas de milhares pelas
ruas do sul de Beirute.
Em seu discurso, Nasrallah
disse que o grupo radical xiita
ainda possui mais de 20 mil foguetes e está mais forte do que
antes do início da guerra no Líbano, em 12 de julho.
Afirmou também que o Hizbollah nunca será desarmado à
força e defendeu mudanças no
"fraco" governo libanês, hoje liderado pelo premiê Fouad Siniora e apoiado pelos EUA.
"Conseguimos uma vitória
divina, histórica e estratégica. A
resistência hoje, prestem atenção, tem mais de 20 mil foguetes", disse Nasrallah, cercado
por guarda-costas, a seus simpatizantes -segundo a agência
de notícias Associated Press,
800 mil pessoas.
"Ela [a resistência] recuperou toda a sua capacidade militar e de organização. Está mais
forte do que era antes de 12 de
julho, mais forte do que nunca",
afirmou.
"Não há Exército no mundo
que possa nos forçar a baixar as
armas das nossas mãos, do nosso controle", acrescentou.
A estimativa de Nasrallah sobre o arsenal do Hizbollah é
cinco vezes maior do que o total
de foguetes disparado contra
território israelense durante os
34 dias da guerra.
O conflito deixou cerca de
1.200 mortos no território libanês, a maioria civis. Do lado israelense, foram quase 160 mortos, a maioria soldados. Tanto
Israel quanto o Hizbollah proclamaram sua vitória na guerra.
O líder do grupo libanês afirmou também que qualquer medida adotada para impedir seu
rearmamento terá pouco impacto, e alertou a força de paz
internacional enviada pela
ONU ao sul do Líbano para que
evite confrontar o Hizbollah.
"Sua missão não é espionar
ou desarmar o Hizbollah", disse. "Eu lhes digo: bloqueiem as
fronteiras, os mares e os céus
-isso não enfraquecerá a vontade da resistência ou as armas
da resistência."
"Cuspida na cara"
A manifestação, além de uma
demonstração do amplo apoio
popular ao Hizbollah, foi um
gesto de desafio não apenas a
Israel, mas ao governo Siniora.
"O governo atual é incapaz de
defender o povo libanês ou de
reconstruir ou unificar o Líbano", disse Nasrallah. "A construção de um Estado capaz, justo e forte começa primeiro com
o estabelecimento de um governo de união nacional. Esse é
nosso novo projeto, e vamos
trabalhar com toda a nossa força no próximo estágio", seguiu.
"Quando tivermos construído um Estado justo e forte que
seja capaz de proteger a nação e
seus cidadãos, facilmente acharemos uma solução honrosa
para a resistência e suas armas", finalizou.
Suas declarações repercutiram entre lideranças israelenses e libanesas.
"A comunidade internacional não pode agüentar esse extremista financiado pelo Irã
cuspir na cara da comunidade
organizada de nações", afirmou
o porta-voz da Chancelaria israelense, Mark Regev.
Sobre o arsenal, Regev disse
que, pela resolução do cessar-fogo, o Hizbollah "não deveria
ter nenhum foguete". A resolução, porém, não dá à força de
paz a atribuição de desarmar o
grupo xiita, função também rejeitada pelo Exército libanês.
O ex-presidente libanês
Amin Gemayel (1982-88) disse
que a fala de Nasrallah é "perigosa". "Ele está relacionando o
desarmamento do Hizbollah a
mudanças drásticas no governo
libanês", disse Gemayel.
"Grande homem"
Nasrallah também agradeceu ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que na última
terça-feira criticou a política
dos EUA para o Oriente Médio
em seu discurso à Assembléia
Geral da ONU, em Nova York.
Na ocasião, Chávez chamou
George W. Bush de "diabo" e
disse que a tribuna "ainda cheirava a enxofre" após o discurso
feito na véspera pelo presidente norte-americano.
"Graças à sua resistência e à
sua firmeza, um grande homem
como Chávez foi capaz de dizer
o que disse na Assembléia Geral da ONU", afirmou o libanês.
Com agências internacionais
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