São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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Gabinete pró-ocidental corre risco

CRAIG S. SMITH
DO "NEW YORK TIMES", EM BEIRUTE

A guerra com Israel acabou e a reconstrução já começou, mas a batalha pelo futuro político do Líbano transforma-se em um confronto cujo desfecho pode ter profundas ramificações no Oriente Médio.
A mais recente manobra nesse conflito é o vociferante apelo do Hizbollah por um governo de unidade nacional que ameaçaria a maioria ínfima detida pelos partidos favoráveis ao Ocidente, conhecidos como Movimento 14 de Março. "O mapa político está diferente agora", disse Ahmad Malli, membro do birô político do Hizbollah.
O ganho em poder e popularidade de que o Hizbollah vem desfrutando desde a guerra alarma as pessoas que estão tentando fazer com que o Líbano se posicione com mais firmeza na órbita dos EUA. Elas temem que os ganhos políticos do Hizbollah se traduzam em ganhos políticos para o Irã.
"Existe um império iraniano em construção, de maneira lenta mas segura", disse Walid Jumblat, líder político e militar druso. Jumblat se tornou o mais eloqüente adversário do Hizbollah nas fileiras do movimento pró-democracia apoiado pelos EUA, o qual no momento detém uma ínfima maioria no Parlamento libanês.
Mas o status dessa maioria está sendo contestado por Hassan Nasrallah, que construiu uma aliança com Michel Aoun, ex-general que controla o maior bloco de votos cristãos maronitas no Parlamento.
Mesmo se o atual governo se mantiver no poder, sua influência terá sofrido severamente. Antes da guerra, as forças políticas importantes haviam começado a tratar da questão de desarmar o Hizbollah, o obstáculo final ao esforço do governo para recuperar a plena soberania sobre o território do país, depois da retirada das tropas sírias, um ano atrás.
Mas a guerra interrompeu o processo. Nasrallah emergiu como um herói aos olhos de muitos cidadãos do Oriente Médio. Agora, o Hizbollah está tentando transformar essa percepção de sucesso militar em uma maior influência política.
Malli, 51, retrata as manobras do Hizbollah como um esforço de reconciliação nacional diante da ameaça de Israel. O Hizbollah foi bem-sucedido em seu esforço para retratar a guerra, aqui, como um ataque inevitável que Israel lançou na primeira oportunidade que teve, e não como uma represália pelo seqüestro de soldados israelenses por unidades militares do movimento.
Nesse contexto, o Hizbollah vem se retratando como a única forma eficaz de defesa de que o Líbano dispõe. Agora, em lugar de negociar o desarmamento de sua milícia, o grupo quer discutir uma estratégia de defesa nacional à qual a milícia esteja integrada.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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