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Libaneses questionam papel de palestinos no país
Conflito contra o Fatah al Islam trouxe à tona problema acirrado na guerra civil
Opiniões no país se dividem entre os que crêem que refugiados devam deixar Líbano e quem os vê como vítimas de exclusão social
TARIQ SALEH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BEIRUTE
Com o fim, no último dia 2,
do conflito de 106 dias no campo de refugiados de Nahr el Bared, políticos libaneses questionam o papel dos palestinos na
instabilidade política do país.
Para alguns, eles deveriam deixar o Líbano; outros defendem
sua permanência, mas sob controle do governo. Mas nenhum
dos lados apresentou, concretamente, uma solução para o
problema dos refugiados.
O conflito no norte do Líbano, entre radicais do Fatah al
Islam e tropas do Exército libanês, matou mais de 400 pessoas em seus mais de três meses. Quando apelos pela reconstrução do campo começaram, tão logo o conflito terminou, a animosidade em relação
aos palestinos floresceu.
Hoje as opiniões estão divididas. Muitos libaneses temem as
milícias armadas palestinas
que operam dentro desses
campos -um acordo de 1969
proíbe as forças de segurança
libanesas de entrar nos campos
de refugiados.
O parlamentar druso Faycal
Sayegh, que disse à Folha defender a causa palestina, critica
o fato de as facções palestinas
lançarem mão de um acordo
obsoleto para circular livremente com armas. "Milícias
palestinas armadas ameaçam a
nossa já combalida estabilidade", afirma.
Segundo Sayegh não há um
plano ou discussão dentro do
governo libanês para solucionar o status dos palestinos no
país, pois isso é da alçada da
ONU. "Mas, mesmo assim, eles
devem entender que não podem fazer o que quiserem."
Excluídos
Para o ex-ministro da Energia Mohamad Fneish, o problema dos palestinos é sua condição social, já que sua marginalidade na sociedade libanesa facilita a atuação de grupos que
não refletem sua causa, mas a
de outros. "Os palestinos são
nossos irmãos, e é nosso dever
ajudá-los em sua luta pela terra
natal", disse ele, que é membro
do grupo radical islâmico Hizbollah. "A comunidade internacional deve resolver isso, ela é a
responsável pela solução política desse problema que foi criado em 1948 [com a criação do
Estado de Israel]."
Embora entre os jovens também haja os que defendem e os
que se opõem à presença palestina, é na geração mais velha
que está a prova de que as feridas da guerra civil (1975-90)
não cicatrizaram.
O ex-cônsul do Líbano no
Brasil nos anos 70 Halim Abou
Shahra afirmou que, naquela
época, era um simpatizante da
causa palestina, mas a Síria desvirtuou seus objetivos.
"Ainda sou a favor da luta deles. Mas eles causaram a nossa
guerra civil, eles destruíram
nosso país, influenciados pela
Síria. Ele devem deixar o Líbano, para o nosso bem e para o
deles também", disse.
Durante a guerra civil libanesa, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) se
aliou aos muçulmanos e drusos
contra os cristãos. O preço foi
alto para os libaneses, que viram seu país ser arrasado, e para os palestinos, que passaram
a ser mais hostilizados.
A ativista finlandesa Kirsti
Palonen trabalha com refugiados palestinos desde essa época. "O problema é que sempre
acusam os palestinos por tudo
de ruim que acontece no Líbano", disse ela.
Nada, para a ativista, justifica
a extrema pobreza em que eles
vivem nem a lei libanesa que
proíbe refugiados palestinos de
exercerem mais de 80 diferentes tipos de profissão.
Segundo o líder da OLP no
Líbano, Abbas Zaki, a preocupação dos libaneses de que, se
os palestinos tivessem melhores condições de vida, eles acabariam por ficar no Líbano definitivamente não tem fundamento. Para ele, o que aconteceu em Nahr el Bared "não reflete o que nós pensamos". "Os
palestinos foram os que mais
perderam com o conflito."
Protestos
De acordo com a ONU, há hoje 400 mil palestinos no Líbano; destes, 210 mil moram nos
12 campos de refugiados do
país. São os que vieram depois
de 1948, quando fugiram ou foram forçados a deixar suas casas após a criação de Israel.
Moradores libaneses próximos ao campo de Nahr el Bared
já protestaram contra sua reconstrução, exigindo que ele
fosse definitivamente fechado.
Segundo o governo, serão necessários US$ 382 milhões para
reconstruir o campo, que abrigava cerca de 35 mil refugiados.
Alguns países, entre os quais
Arábia Saudita e EUA, ofereceram ajuda financeira.
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