São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Putin sobe seu cacife na reta final

A seis meses de eleições, presidente russo aposta em sua popularidade e dá pistas de que seguirá atuando

Apesar de dizer que há cinco candidatos à sua sucessão, líder que tirou país do chão evoca retórica de glória e faz campanha para si mesmo

SERGE SCHMEMANN
DO "NEW YORK TIMES", EM SOCHI

Vladimir Putin está em sua melhor forma e sabe disso. É poderoso, popular e controla um país que tirou da bancarrota e do desespero e conduziu à riqueza e ao poder em menos de oito anos.
Há menos de duas semanas, substituiu um premiê obscuro por outro, deflagrando uma corrida entre os observadores do Kremlin, na Rússia e no exterior, para encontrar pistas sobre o possível significado da decisão no que tange à eleição presidencial, daqui a seis meses, e ao seu futuro. Apesar do movimento, entretanto, ninguém duvida que caberá a Putin, impedido por lei de se reeleger, escolher seu sucessor.
E ele tampouco deixa dúvida de que seguirá em cena. "Naturalmente, esse é um fator que o próximo presidente terá de considerar", diz, acrescentando, sem aparentemente perceber a contradição, que fará "tudo que puder para garantir sua independência e eficácia."

Grandeza
Embora não rejeite a herança soviética, a Rússia invocada por Putin é um Estado grande, poderoso e criado por comando divino. Ele ocupa o lugar que ocupa para restaurar a glória, o poder e, sobretudo, o lugar no mundo que sua pátria merece.
E é esse o contexto que unifica sua presidência: a Rússia será grande e forte. A idéia explica as repetidas contradições que ele expõe em sua visão de mundo: a Rússia precisa ter uma democracia forte, com múltiplos partidos, mas não poderia existir sem um presidente forte. A economia é livre, mas o Estado precisa controlar suas riquezas. Ele está preparado para cooperar com o Ocidente, mas não é preciso muito para se por em posição de briga.
Há ecos nítidos da União Soviética, mas a Rússia de Putin representa com certeza um novo híbrido. Não há ameaça de uma nova Guerra Fria, ou ideologia de domínio mundial. O presidente desfruta de um nível de popularidade e aprovação popular que os líderes soviéticos jamais atingiram.
Após uma série de decepções e fracassos nos anos 90, os russos desfrutam de uma combinação de liberdades pessoais e prosperidade inédita para eles.
Podem viajar ao exterior e navegar na Internet; a cultura floresce; eles podem ganhar dinheiro. A política? Há problemas nessa área, mas na nova Rússia, com suas lojas reluzentes e seu ritmo acelerado de crescimento, quem se importa?


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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